Capítulo 41

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"Então é isso?" Gabriel perguntou a Paulo com o braço imobilizado por uma tipoia improvisada com uma blusa velha.

Estávamos parados em um campo deserto,e eu conseguia ver uma casinha bem ao fundo,onde foram dadas instruções que era um ponto de encontro para refugiados.

Gabriel ainda tinha olhos inchados e uma linha de costurar preta enlaçando sua pele,sua face apresentava cansaço,já Louis continuava com aquele sorriso contagiante,feliz,e,ao mesmo tempo triste,ele tinha cabelos claros,com cores indefiníveis,e estaria usando as clássicas golas em "v" se não fosse um foragido agora,ainda com o uniforme do presídio,Louis tentava dar apoio para Catarina,enquanto Gabriel conversava com Paulo.

Amélia por algum motivo,rodeava pra lá e pra cá,sem parar,como se quisesse pensar,nos deixando a sós na conversa,já que ela não tinha nenhuma afinidade com nossos heróis,pré-vilões melhor dizendo...

"é garotão...acho que é isso..." Paulo afirmava,senti que eu estava atrapalhando uma despedida de amigos,lentamente,eu fui me retirando,deixando a conversa só entre eles.

Já que não perceberam a minha ausência,talvez pelo fato de mais uma das poucas vezes eu ter visto uma lágrima saindo pelo rosto de Paulo,eu fui ao encontro de Louis e Catarina.

O rabo de cavalo dela a deixava mais forte,decidida,os loiros estonteavam à luz do sol,algo me dizia que tínhamos sido amigas pelo menos uma vez na vida...eu a abracei,vendo que Louis havia acabado a conversa com ela,gerando algumas lágrimas em sua face.

"Mais uma vez obrigada..." eu disse,começando a ter minha típica voz de choro. "Eu...eu sinto muito...queria...queria tanto que vocês pudessem ficar..." olhei para ela novamente,ela limpou uma lágrima minha,eu sorri,ela não pronunciou mais nenhuma palavra.

Me voltei para Louis,dei um abraço nele também,mesmo sabendo que ele viria conosco,eu precisava de apoio,consolo,de um amigo.

Já que Gabriel se preocupava em tentar (horrivelmente) disfarçar a dor e o choro se despedindo do amigo,eu consegui achar um apoio em Louis,que não chorava,mas era o que mais sentia pelas almas que estavam se perdendo ali.

Me afastei um pouco de Louis,ainda muda,e fui falar com Amélia,que ainda perambulava pelo chão seco.

"Você está bem? O que aconteceu?" perguntei,realmente curiosa.

"Eu estou sim...só não gosto de despedidas..." eu sabia muito bem que ela era uma das pessoas que haviam sofrido com a perda da família...e uma delas foi da pior maneira,eu não podia simplesmente obrigá-la a ir,somente dei um toque em seu ombro,e me virei para trás de novo,Gabriel havia terminado a conversa com Paulo,havia se voltado a Catarina,seja lá o que fosse que eles estivessem conversando,pela primeira vez,não me importei,não senti ciúmes,eu tinha certeza daquilo que sentia,e tinha certeza do que ele sentia também,nada melhor do que saber que alguém te ama,mas não há nada pior do que perder pessoas que você ama...fui até Paulo,um amigo que,em pouco tempo,aprendi a amar.Ao contrário da choradeira que eu esperava encontrar,ele permanecia triste,mas seco,ainda com o bom humor de sempre.

"Lis sua safadinha!" ele me deu um tapinha bem de leve no ombro,provavelmente com medo de me machucar,mais ainda. "Então finalmente pegou o bielzão de jeito né? Já estava na hora! Eu não aguentava mais olhar pra aquele joguinho que vocês jogavam todos os dias,amigo pra lá,amiga pra cá,no fundo eu sabia do seu potencial!" eu ri,como ele poderia estar pensando nisso? O humor alivia a dor...pensei.

"Sempre o mesmo ,não é Paulo?" sorri,dando um abraço nele. "Novamente,muito obrigada,nunca vou esquecer das coisas que passamos juntos nem de tudo o que fizeram por nós,você foi um grande amigo...eu..." mais choro. "eu vou sentir saudades..." ele me afastou e limpou minhas lágrimas,devia ser TOC de irmãos essa mania.

"Ei...eu vou ficar bem...nós...vamos ficar bem" o que me deixou mais triste foi a completa incerteza no seu tom de voz.

Chorei um pouco mais por isso.

Ele me deu mais um abraço,dizendo perto ao meu ouvido. "Não se esqueçam,a casa é ponto de encontro de refugiados,pessoas assim como vocês...tenho certeza que darão abrigo,pelo menos até os soldados não encontrarem...farei de tudo para que não...mas você sabe que vai ficar mais difícil..." assenti em seu ombro. "de qualquer forma,eu quero que lutem,acabe com a vida desses desgraçados! Me ouviu bem? Morram com honra,e...se lembrem de mim lá em cima..." não era uma das melhores despedidas,mas vinda de Paulo,fazia com que ele se tornasse o cara mais poético do universo.

Ri um pouco da afirmação dele,e prometi cumprir o pedido,dando dois tapinhas em sua face,ele chamou Catarina assim que terminamos e sem mais nada a dizer,entraram novamente no caminhão.

Olhei pela última vez seus olhares tristes e cansados,e suas tentativas desperdiçadas,se eu pudesse faria tudo de novo da forma certa,os impediria à qualquer custo...mas...eu não podia mudar o passado,o que já foi feito.

Com grande tristeza,acenando,me despedia deles,que de segundo em segundo,ficavam mais longe de nós,até que virassem um pontinho invisível.

Mais uma vez,sozinhos,em um lugar deserto,na busca pela sobrevivência.


I Segundo Para o Fim do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora