Sabe quando você bate o dedinho na quina?,Sabe a dor que você sente quando cai de bunda no chão?,Sabe a dor que a gente tem da saudade?,Sabe a dor de ter perdido pra sempre alguém?,Sabe a dor de levar um tiro? (Talvez você não saiba,mas cara,dói muito!),Junta tudo isso,mexe em uma vasilha e coloca no meu coração,porque eu estava sentindo tudo isso e um pouco mais.
Eu sabia que aquilo ia um dia acontecer,afinal ela gostava dele,e disse que lutaria por ele,para reconquistá-lo,e,pelo jeito,conseguiu.
Eu não olhei nem dois segundos para aquela cena infame,me virei na hora e peguei na mão de Paulo,o conduzindo para fora.
Eu sei,eu sei, eu estava maluca na hora,mas a dor estava me consumindo tanto,que eu decidi ir embora,pra qualquer lugar em que eu não tivesse que ver a cara do Gabriel.
Ele me machucava tantas vezes,mesmo sem nem tocar de verdade em mim.
Quando voltei de meus pensamentos,já estava sendo puxada pelo braço para entrar na fila,e,cara,que fila grande!
Comecei a examinar o local ,existiam cinco filas com mais de 100 pessoas em cada uma delas,mais que a metade da população daquele lugar estava sendo marcada!
Na frente das enormes filas,estavam os militares anticristianos,5 em cada fila,um se sentava nas mesas apostas sobre Cada fileira,anotando os nomes de cada um que estava sendo marcado e colocando sua digital,outros dois esquentavam a ferramenta de marcação em grandes fogueiras que me lembravam uma enorme fornalha ardente,parecia aquelas coisas que marcam os bois,e as pessoas estavam sendo marcadas no lugar exato em que a bíblia alertava ,ou na testa ou no braço esquerdo.
A fila estava andando,e depois que eu estava na quinta posição,prestes a ser marcada,foi que eu me toquei que eu não queria! Que eu não podia! e se eu recusasse na frente deles,com certeza seria um problema!
Eu nem tinha percebido que meus pés me levaram até lá,até estar de frente com a cabeça de um careca suado na minha frente.
E agora?
Percorri meus olhos pela multidão de pessoas para tentar achar Paulo,ele estava na terceira fileira do meu lado direito.
Tentei fazer sinal para que ele me visse,mas ele parecia assustado demais com as pessoas marcadas,elas tinham um olhar sombrio,mais triste e menos assustado do que as pessoas que ainda não obtinham a marca.
Gabriel havia me deixado em transe e eu acordei tarde demais.
Mas o que eu poderia fazer? Eu teria que rejeitar na frente deles...e,com certeza morrer por impertinência.
As regras eram ditadas claramente para o povo,e eu me lembro do dia em que foi colocado em todas as redes de TV a nova constituição,a anticristiana,as regras eram rígidas e não aceitavam falhas,as cadeias estavam vazias e os cemitérios cheios,éramos praticamente forçados a seguir os pensamentos e desejos do anticristo.
Olhei pra trás,e não enxerguei nem Gabriel nem Catarina,eu já era a segunda na fila,e nem poderia me despedir de ninguém...eu nem sabia mais se gostaria de me despedir,não havia mais ninguém na terra em que eu podia confiar.
Eu já era a próxima,e pude ouvir a conversa dos militares.
"Você promete seguir e obedecer às ordens e leis do soberano conforme essa marca afirma?" um dos militares que davam a marca dizia,meio preguiçoso,já deveria ter repetido aquela frase muitas vezes.
Um dos dois militares que revistavam e ordenavam as filas me olhava atentamente,com uma cara surpresa e um crachá que dizia "002",nem nome eles tinham o direito de ter...eu não entendi,já que nunca o havia visto na minha vida,quis gritar pra ele que eu não queria estar ali,e que era pra ele me deixar sair,mas nada fiz,eu ainda estava em choque,ainda estava com medo,eu não era corajosa o suficiente.
Agora era minha vez.
Eles me puxaram pra frente como se eu fosse um animal,me revistaram,e aquele militar ainda me olhava,me seguindo com aqueles olhos sombrios e negros,eu cheguei perto daquele que estava sentado e ele perguntou o meu nome.
"S...Se-senhor...eu...n-não....posso" falei baixinho,gaguejando de uma forma que até eu não entendi o que estava falando.
"O que?! Fale mais alto menina!" ele gritava com um grande 666 na testa.
"Eu não..." falei mais alto sendo interrompida por aquele militar que me olhava surpreso.
"Senhor! Permissão para falar senhor!" ele pediu ao que estava sentado com as mãos atrás das costas e cabeça erguida o suficiente para olhar o horizonte do outro lado do mundo.
O que me parecia ser o general da pequena tropa de fileira deles, o concedeu a fala e o 002 continuou.
"Esta jovem,necessita da dose de polimetro senhor!" ele falou,determinado.
"Ora...ela não me parece..." o que eu pude ver que usava um crachá de número 306 me examinava dos pés a cabeça. "bem,leve-a até lá então,dê a dose,se você acha que ela é um problema...menos um pra se preocupar..." ele disse escrevendo algo no seu caderninho,rabiscado com letras ilegíveis e algumas digitais.
"Sim,senhor! Vou aplicar a dose imediatamente, senhor!" ele falava com mais senhores do que eu podia contar,batendo continência.
Eu não estava entendendo absolutamente nada,que dose era essa de...poli...poli o que? Porque eu precisava daquilo? Meu Deus! A coisa tá bem pior do que eu imaginava,eu achava que no mínimo eu ia morrer ali mesmo,mas morrer drogada? Não eu não pretendia morrer assim...
Ele me puxava até uma área coberta,bem longe das marcações e sem nenhum militar à vista,para que ninguém testemunhasse a covardia que ele estava prestes a fazer eu imagino.
"Ora, mas o que você vai fazer comigo?" falei me debatendo, tentando soltar minhas mãos presas por ele atrás das costas.
"Você deveria me agradecer!" ele disse,orgulhoso.
O que?
"Como assim te agradecer? Vai saber que coisa é essa aí que você quer injetar em mim? A situação é a seguinte: foi um ENGANO não era pra eu estar aqui! Eu ia falar isso pro seu chefe antes que você me interrompesse!" eu falei me debatendo mais ainda.
"Eu sei que foi engano,você nunca faria isso mesmo...e ainda bem que eu te interrompi,porque se você dissesse isso pro meu chefe,estaria morta e enterrada agora!" ele disse com a maior intimidade,como ele poderia saber que era engano?Como ele ousa?
"Ora, mas como você pode saber..." falei com maior estranhamento que devia.
"Meu Deus, Elisa! você pergunta demais!"
Ele pronunciou o meu nome? Foi isso mesmo?
"Como você sabe o meu..."
E aí ele tirou o chapéu de militar,esfregou os olhos de tinta preta,que eram mais pretos do que eu achava pelo visto e sorriu.
"Jonas?!"
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I Segundo Para o Fim do Mundo
PertualanganA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...