Capítulo 15

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Tentei me levantar e ir até ele,mas não consegui,as dores estavam muito fortes,e eu ainda podia ver o sangue escorrendo das minhas feridas abertas...

Quando eu fui tentar perguntar para Gabriel se ele estava bem, percebi que ele estava desacordado...ou talvez,morto.

Olhei assustada para Catarina,que logo começou a falar para que eu não tomasse conclusões precipitadas.

"Calma! Ele está respirando!" ela olhou para mim,o colocando no chão,ao lado de Paulo,que se afastava e a ajudava a recliná-lo na mochila que estava perto deles,devia ser da irmã dele,as nossas já estavam peregrinando por alguma parte daquela imensa baderna.

Naquele momento tudo estava confuso,a chegada repentina da irmã do Paulo,o desaparecimento e ressurgimento do Gabriel,a namorada que agora eu sabia que Paulo tinha,o interesse repentino da Catarina de ver o irmão...nada estava fazendo sentido,e,com certeza eu já não tinha gostado daquela tal de Catarina,mas,com certeza,a agradeceria pelo resto dos meus dias,por ter salvado,uma das únicas pessoas que eu realmente amava.

Me arrastei até ele,gemendo um pouco de dor,passei a mão sobre o seu rosto,que estava todo avermelhado, ainda belo...somente seu braço estava machucado,sangrando mais ainda que minha perna,que a cada segundo,me incomodava mais.

"Eu trouxe um estoque médico na minha mala,foi uma das primeiras coisas que peguei,tinha certeza que iria precisar" aquela menina,que pra mim ainda era estranha, pegava um kit de primeiros socorros,que era bem grande pelo visto,metade da mochila estava sendo ocupada por aquele objeto,esvaziou na hora o espaço interno,fiquei pensando se ela havia trazido mais alguma coisa,porque,para alguém que iria "se mudar" para uma base militar,ela tinha trazido poucos pertences.

"Eu tinha trazido mais algumas coisas comigo,mas perdi todas as minhas outras malas,enquanto eu tentava chegar aqui,as pessoas estão ficando cada vez mais desesperadas...e más ! " ela dizia confirmando minhas suspeitas e pegando uma grande seringa...eu achava que nos primeiros socorros as agulhas eram menores...

"Eu vou começar por você Paulo..." ela disse vindo com a agulha e um líquido dentro da seringa.

"Por que você não começa com outra pessoa?!" a face do medo estava estampada na cara dele,até eu estava me roendo por dentro,mas ainda estava preocupada demais com Gabriel,eu sabia que ele estava respirando,mas ele não se mexia...e se ele não acordasse? Eu não me lembro de ver um mundo sem ele...

"A Elisa está com ferimentos mais profundos,eu vou precisar ter mais cautela,o Gabriel está desacordado,eu não posso injetar um anestésico em alguém que está dormindo,ou seja,só me resta você!" ela disse com um leve sorriso de irmão maldoso.

"A vai! Pare de ser medroso! Desde criança você é assim!" ela disse aproximando mais ainda a seringa nele.

"Desde quando você está expert em fazer curativos? Muito menos em aplicar injeções!" ele disse olhando diretamente para a agulha.

"Desde quando eu comecei a fazer medicina e desisti..." ela falou.

"Mas você não tinha reprovado nessa matéria? A que fazia aplicar injeções e tal..." ele falou tremendo.

"Essa é minha chance de fazer recuperação..." ela falou já colocando a agulha perto da região do pé dele,onde estava machucado,arrancando um grito gigante.

...

"Como você retirou ele dos escombros sozinha ?" perguntei a Catarina,enquanto ela terminava o trabalho em Paulo,limpando o sangue que sobrara,eu daria nota sete na recuperação dela...até que ela se dava bem com a agulha e a linha.Me tranquilizei um pouco,já que eu era a próxima,Paulo foi uma boa cobaia.

"Ele só estava preso pelo braço,foi sorte acho..." sorte não! Deus ouviu minhas orações!

"Aí eu consegui o tirar facilmente,ele deve ter desmaiado na hora em que foi atingido,se não teria conseguido sair sozinho" ela dizia,já me convidando para ser a próxima paciente na brincadeira dela de ser médica.

"obrigada" eu disse,eu podia até não ir muito com a cara dela,mas,apesar de tudo,ela estava ajudando muito.

"Não tem de quê !" ela sorriu. " assim eu já posso recompensar meu irmão por todos esses anos que eu estive longe..." ela falou olhando para ele,que virou a cara para o lado,ele não estava para muitos amigos...

"a anestesia na perna dói um pouco mais...aguente firme!" fechei os olhos o mais forte que eu podia,e,até tentei segurar o meu grito estrondoso,mas não deu.

Doeu muito!

Caramba meu,eu já não estava com a pele mais bonita do mundo depois dos gafanhotos,meu ombro estava costurado,e agora a perna?!

Logo depois de algum tempo que ela estava me costurando,como uma bonequinha de pano,me acostumei com a dor,assim como eu estava fazendo desde quando meus pais se foram,já estava ficando,como diria Paulo, "expert" nisso.

Virei minha cabeça para o lado,para checar Gabriel,como eu estava fazendo de um em um minuto,para poder acreditar que ele realmente estava ali,e que ainda estava respirando.

Logo ele começou a se mexer,a tentar se levantar, abrir um pouco os olhos,e eu abri o maior sorriso , maior que todo o mundo! Tentei me achegar,mas Catarina me puxou na hora.

"Eu ainda estou acabando, se você não deixar eu terminar vai infeccionar" ela falou para mim enquanto eu ainda olhava para Gabriel. "Além do mais ele acabou de acordar,precisa de espaço!" ela olhou para ele sorrindo um pouco também,ela não tinha direito de sorrir!

Assenti ainda querendo falar com ele,mas esperei até que ela terminasse,enquanto Paulo ia até Gabriel e o ajudava a se recompor.

Quando ele conseguiu se reerguer,e abrir totalmente os olhos,percorreu-os por toda a parte,vendo a destruição,depois voltou-se para Paulo.

"Paulo!" ele disse sorrindo,logo depois olhando para mim.

"Elisa!" a voz dele era a que eu mais queria ouvir,principalmente chamando meu nome com aquela voz tão doce...

"Ca...Catarina?!" ele disse se virando pra ela,e depois para a agulha que ela estava enfiando em mim,e depois para o braço machucado dele,ele nos olhou com um olhar de "quê?" e falamos em uníssono:

"Longa história!"



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