Quando dei por mim já estava no lugar do interrogatório,de novo.
Estava igual ao da outra vez,tudo escuro,uma simples lâmpada no meio,minha cadeira solitária,e a mesma voz misteriosa.
Eu pensei que os militares revezavam aqueles que nos interrogariam,que não seria sempre a mesma pessoa,mas estava errada,era a mesma voz,e por mais que eu negasse,sentia que era familiar,que eu já a tinha ouvido.
Mas agora era diferente,eu já tinha ido ali uma vez,eu já sabia o que eles queriam de mim,eu já sabia que teria que responder,e já sabia as consequências de negar isso,portanto,dessa vez eu estava mais atenta aos detalhes,mais atenta a voz,ao lugar,até mesmo minha cadeira,eu podia lidar com aquilo,e,tinha dito a mim mesma,que se eu tivesse que morrer ocultando as mínimas coisas que eu sabia sobre os crentes,eu morreria.
Novamente os passos se aproximaram,eu não conseguia ver a face de meu interrogador,mas sabia que,se era meu último interrogatório,ele tentaria extrair tudo de mim,como uma laranja no espremedor,até sair todo o suco.
Já me preparava para o pior,para socos,para cortes,para a dor,que eu já me acostumara a sentir frequentemente,eu estava pronta.
"Ora,ora,ora..." dizia ele. "novamente aqui...Elisa Teles...não sabia que você daria tanto trabalho assim...sabia que meus militares rodaram toda a área pra achar você? Demoramos mais de vinte minutos...isso nunca aconteceu antes...o disfarce ajudou um pouco também...inteligente de sua parte..." e esse foi o tempo que precisei com Gabriel,pensei,Deus foi tão bom,que providenciou isso à mim.
"O que quer de mim?" perguntei,querendo acabar logo com tudo aquilo.
"Eu quero respostas Elisa...respostas que você tem...que vão me ajudar a acabar com mais gente como você..." ele dizia com uma voz cínica.
A minha cadeira rangia cada vez que eu me movia,com mais intensidade a cada fala,o local era bem fechado,fazia com que meus pensamentos se sufocassem,ele queria tirar tudo de mim,e eu sentia que,a cada momento minhas defesas caíam,ele estava me pressionando muito,a voz era tão penetrante...tão persuasiva...
"Quem é você? Por que não aparece ?" eu realmente queria saber como era a face de meu interrogador,queria jogar todo meu ódio em alguém.
"Quem sou eu?!" ele fez a pergunta retórica,dando uma risadinha perversa.
"Meus guardas disseram que pegaram você aos beijos com um presidiário daqui...tão fácil..." continuou,mudando radicalmente o assunto.
"Eu já o conhecia! Sempre o amei!" eu disse com toda a certeza do mundo.
"O amou?!" ele deu outra risada. "que piada...Gabriel nunca te quis garota...você sempre foi um brinquedo,um entretenimento..."
"O que?!" perguntei assustada. "Espera aí...o que isso tem haver com as informações? E como você sabe o nome dele?"
"Eu sei muito mais de você do que pensa..." a voz se tornou mais perversa e baixa ainda,me deixando com o maior medo.
"Você ainda não me respondeu! Quem é você?" eu precisava saber,eu sentia que sim.
Mais algumas risadas afastaram os passos,pensei que ele estivesse andando em círculos,logo,os passos se aproximaram da lâmpada,expondo um pouco da luz em sua face,ele tinha uma bandana em sua boca,ainda não o via direito,ele a retirou,e se aproximou.
Dois passos revelaram seu corpo inteiro.
Eu não pude acreditar,queria por a mão na minha boca de tanta surpresa,mas ela estava amarrada ,aqueles olhos pretos...
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I Segundo Para o Fim do Mundo
MaceraA vida para uma adolescente normal num mundo normal,já é complicada,mas a vida de uma adolescente não tão normal num mundo pós-apocalíptico é pior ainda. Elisa perdeu seus pais no arrebatamento e está dividida sobre o que realmente teria acontecido...