A casa que vivo era do meu avô. Completamente pintada de branco e marrom, a casa é cheia de jarros antigos e moveis de madeira importada, Minha mãe nunca quis mudar as estantes, nem tirar os quadros ou azulejos, mas ela sempre comprava tapetes, sofás, e trocava a cama a cada dois anos. Minha mãe não é uma louca que apenas gasta a herança do marido com coisas supérfluas, por incrível que pareça, ela é dona de uma ONG que ajudam os filhos de gente pobre com necessidades especiais, mas só os filhos.
Eu adentrei a casa e subi a escada forrada com um tapetasso indiano. O quarto da minha mãe é do outro lado do corredor. Eu me aproximei com passos leves e encontrei a porta aberta. Minha mãe estava deitada na cama cheia de lençóis brancos, a cabeça afundada nos travesseiros brancos demasiadamente confortáveis, um tipo de venda nos olhos a fazia parecer uma personagem de filme sobre BDSM. Cansada da viagem. Pensei em deixa-la dormir, mas devido ao incidente bizarro hoje de manhã, eu acordei ela de propósito com duas batitas fortes na porta já aberta. Limpei a garganta.
Minha mãe se remexeu na cama rapidamente e tirou a venda dos olhos. Ela piscou freneticamente e observou o quarto ate me achar escorado na porta.
─ Oi, bebe. ─ Ela sorriu e bateu duas vezes no lado vago da cama.
─ Oi, dona Penélope! ─ Eu sorri sem mostrar os dentes e caminhei ate a cama. Deitei-me ao lado dela. Ela puxou meu rosto e deu um beijo na minha bochecha esquerda.
─ Como foi à escola? ─ Disse sorrindo. A venda pendia nos cachos loiros.
─ Legal. ─ Falei sem muito entusiasmo. ─ Como foram as férias? ─.
─ Ai. Incríveis. ─ Ela suspirou. ─ Os indianos fazem coisas ótimas, de boa qualidade e super baratinhas. ─ Ela jogou os cabelos por cima do ombro.
─ É mesmo? ─ Mãe eu não to nem ai. Podia ter dito apenas "foram boas".
─ E como tá a Sloane? ─ Minha mãe perguntou.
─ Ela tá ótima! ─ Eu sorri.
─ Vocês estão usando proteção, não é? ─ Ela inclinou levemente a cabeça.
Eu juntei as mãos fazendo uma quase palma. ─ Olha mãe, eu vou te deixar dormir tá bem. ─ Me levantei e sai do quarto. Minha mãe ficou protestando na cama, mas eu não dei bola para uma palavra do que ela tenha dito.
Atravessei o corredor e entrei no meu quarto. Quando sai para a escola o quarto estava parcialmente bagunçado. O pijama com calças de pinguins que antes estavam jogados em cima da cama, agora haviam sido dobrados e guardados. A cama com lençol de estampa indiana estava forrada e os travesseiros desamassados. Eu joguei a mochila no canto da parede e me deitei na cama enquanto tirava os sapatos com os próprios pés.
Não foi fácil escapar dos olhos sádicos de Sloane durante o resto das aulas. Não era necessário, mas me preparei para a desculpa que daria a ela amanhã, ou hoje, caso ela decidisse ligar. Endireitei-me na cama de escorei as costas nos travesseiros, olhei de relance para a esquerda e vi o envelope negro em cima da cômoda. Dei um grunhido involuntário ao me esticar para alcança-lo. O envelope tinha uma textura fosca. Pirigotica idiota. Foi o que eu pensei, por isso não hesitei ao enfiar o polegar na parte do meio da abertura e puxar. O lacre não se desintegrou, ao invés disso, rasgou uma parte do envelope. Eu puxei o papel branco dentro que continha uma serie de coisas escritas. Suspirei e comecei a ler o conteúdo.
CENTRO JURIDICO DE CONTROLE EXISTENCIAL
AÇÃO: MORRER
CLASSE: 001
Nº 1929374.2937549394,384-12
RÉU: JACK GILLINSKY
Temos o desprazer de informar por via deste documento que JACK GILLINSKY, cujo entrou em data de existência no dia 23 de dezembro de 1997 que seu processo existencial terminara no dia 11 de setembro de 2015.
CAUSA: PARADA CARDIACA
EMITIDO POR; MORTE.
EMITIDO DIA; 14 de agosto, 2015.
A vida é curta. Aproveite.
─ Vai à merda! ─ Falei para mim mesmo assim que terminei de ler. A ideia de a morte vir deixar uma intimação na porta da minha casa beirava o ridículo. Havia um grupo de góticos e seguidores de Kurt Cobain nos arredores da cidade que nunca gostaram de gente rica e de vida boa. Provavelmente esse tipo de gente estava tentando pregar uma pessa em mim.
Tumtumtum. Era o barulho que o telefone emitia enquanto eu ligava para Walter. Permaneci encarando o envelope que eu haverá deixa de lado ate que Walter tivesse a boa vontade de atender ao celular.
─ Qual foi? ─ Walter gritou do outro lado da linha. A voz dele estava abafada e ofegante. Eu preferia não pensar nos motivos disso.
─ Você estava trepando? ─ Perguntei. Eu não estava realmente interessado. Só queria deixar ele constrangido.
─ Punheta. ─ Ele respondeu curto e grosso.
─ Já abri o envelope. ─ Comecei. ─ Muito engraçado, moçoilo.
─ Moçoilo. ─ Walter soltou um risinho. ─ Qual é o problema, cara?
─ Eu recebi um envelope hoje de manhã. ─ Fiz uma pausa. Eu fechei os olhos com força para conter a irritação. ─ Fala pra mim que foi você quem mandou!
─ Se isso te faz sentir melhor.
─ Bosta. ─ Xinguei. ─ Não foi você?
─ Claro que não.
─ OK. ─ Eu bufei.
─ Mas fala aí. ─ Walter falou após alguns segundos de silencio. Pude imaginar o sorriso se formando no rosto dele. ─ De quem são as nudes?
─ Tchau, Walter. ─ Desliguei o celular.
_________________
ooi, tudo certo, leitores? o que estão achando da serie? leiam, votem, comentem...
VOCÊ ESTÁ LENDO
✅ ENVELOPE NEGRO
HumorJack é um rapaz mau, arrogante e indiferente que recebe a visita da morte e precisa mudar de atitude antes que ela o leve.