especial // the black future

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10 dias.

Já notou o numero de pessoas que tem uma vida miserável e infeliz, e rezariam para ter uma chance como a minha? Eu não estou falando de morrer. Todo mundo tem essa chance. Mas estou falando do fato de que, Ninguém irá te julgar, não vai haver mais sofrimento, nem recompensa, simplesmente um descanso eterno de toda a dor que já fora suportada aqui.


Eu aceitei isso. Eu não ia ser julgado por fazer bullying com outros garotos, nem por mentir, ou por ser rude e esnobe. Mas também não haveria recompensas por nenhuma das coisas boas que já fiz ou que estou tentando fazer nesses meus últimos dias de vida.


Era uma quita feira bastante calorosa. Ainda estava de noite e eu estava me sentindo sufocado por baixo das cobertas. Tirei o lençol que algodão de cima de mim e passei a mão na testa, estava encharcada. Começou a esfriar repentinamente, a única coisa que eu precisei fazer foi tirar os lençóis de cima. Dei uma olhada no despertador. Onde diabos está o meu despertador. Não estava na cômoda.


Eu comecei a ouvir um chiadinho leve, era semelhante a um walkie-talk. Eu não me lembrava de ter colocado o celular no modo de vibração, agora teria que procura-lo. Levantei-me da cama e passando os pés pelo chão frio tentei achar minhas sandálias, não achei. Caminhei ate a cômoda e passei a mão por cima dela, nada de celular, nem despertador. Mas eu achei uma babá eletrônica branca e era aquilo que estava fazendo o chiado, dava para ouvir uma respiração.


Eu bati o pé em um dos moveis quando tentei me mover. Doeu muito e o barulho foi relativamente alto. Um choro ensurdecedor de bebê ecoou por todo o quarto, o móvel no qual eu havia batido era um berço branco e tinha um bebe vestido de verde esperneando furiosamente nele. Como assim? Eu enruguei a testa e ouvi a porta do meu quarto abrir-se repentinamente. Era Dalilah, que estava usando uma camisola apertada demais para ela acendeu a luz e correu rápido ate o berço.


─ Quem é esse moleque, Dalilah? ─ Eu perguntei, minha vista estava incomodada graças a claridade. Eu cocei o olho.


─ Shh!!! ─ Dalilah falou para o bebê. Ela o pegou do berço e balançou um pouco. ─ Já passou! ─ Ela continuava a se balançar pelo quarto, sem tirar os olhos do bebê.


Minha mãe entrou no quarto, ela havia cortado o cabelo e eu nem percebi. Não um simples corte, ela estava parecendo a Miley Cyrus com uns 40 anos. Minha mãe pegou o bebê das mãos de Dalilah cuidadosamente e começou a balança-lo.


─ Mãe de quem é esse bebê? ─ Perguntei me aproximando dela.


─ Dalilah, prepara uma mamadeira pro Thomas, por favor. ─ Minha mãe deu um sorriso cortês para Dalilah.


─ Thomas? ─ Eu arqueei uma sobrancelha. ─ Mãe, você pode prestar atenção em mim? ─ Minha mãe continuava a balançar o garoto. ─ Ei! ─ Eu alterei o tom de voz.


Minha mãe não me deu atenção. Eu dei um passo para trás e fiquei encarando a situação sem entender absolutamente nada.


─ O que é que esta acontecendo? ─ Eu perguntei. Era uma pergunta para o mundo, mas quem respondeu foi a Morte.


─ Você esta morto. ─ A Morte apareceu ao meu lado. Ela estava sorrindo.


─ O que? ─ Eu quase engasguei. ─ Mas ainda faltam 10 dias.


─ Nossa. Fica calmo. ─ Ela revirou os olhos. ─ Você não morreu de verdade. ─ Ela olhou para minha mãe e o bebê. ─ Só nessa realidade.


─ E em qual realidade estamos ─ Olhei de relance para minha mãe com a testa franzida, então voltei minha atenção para a Morte.


─ No futuro. ─ A Morte caminhou até ficar atrás de mim, e então me fez ficar de frente para a minha mãe e encarar o bebê. ─ E esse é o seu irmãozinho.

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