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Estava frio e deserto do lado de fora, eram aproximadamente 18:00 quando eu cheguei em casa. Abri a porta da sala cuidadosamente, mas estava claro na sala, eu ouvi risadas um pouco mais adiante, caminhei em passos longos e silenciosos até a cozinha. Minha mãe estava sentada na mesa junto a um homem de terno, o cabelo dele parecia o do James Dean e ele tinha um cavanhaque impecável, os dois tomavam vinho e eu logo me toquei que minha mãe havia dito que fecharia negócio com um novo patrocinador hoje. As risadas cessaram assim que eu me recostei na entrada da cozinha e limpei a garganta.


─ Jack! ─ Minha sorriu. Ela estendeu o braço e me chamou apenas com a mão Eu desencostei da parede e caminhei ate ficar ao lado da cadeira. ─ Edgar, esse é o Jack. ─ Minha mãe me apresentou. O homem se levantou da cadeira e inclinou-se para alcançar a minha mão, eu apertei a dele e dei uma leve balançada.


─ Então você que será o futuro advogado? ─ Edgar tinha um aperto forte e dentes perfeitos.


─ É isso aí. ─ Eu sorri sem mostrar os dentes.


─ Ele tem as melhores notas da escola. ─ Minha mãe falou com orgulho na voz. ─ Querido, por que não se junta a nos? ─ Ela perguntou com a mão apoiando o queixo.


─ Eu estou um pouco cansado. Quem sabe outra hora. ─ Eu comecei a sair de fininho. ─ Foi um prazer Edmund.


─ É Edgar e igualmente. ─ O homem assentiu. Eu ignorei e subi as escadas. Eu não era o tipo de filho que privava a mãe de ter um relacionamento, especialmente quando ela era uma mulher adorável e viúva, mas eu não podia ser tão acessível a qualquer um que entrasse pela porta sem ao menos saber ate que ponto ele estava disposto a ir. Minha mãe era ingênua as vezes.


Eu me sentei na escrivaninha marrom e liguei o notebook. Nunca fui fã de redes sociais, mas tinha um facebook. As postagens na linha do tempo se referiam a Sebastian Roth, o garoto gay que todos odiavam e de repente amavam. Nada tinha mudado, ele continuava sendo o cara gay, amigo da minha namorada, que masturbou meu melhor amigo bêbado, o garoto que me ofereceu carona e tentou, pela ultima vez, ser gentil com alguém. Será que alguém escreveria sobre todas essas coisas quando eu morresse? Chorariam no meu velório? Quantas pessoas iriam ao meu velório afinal?


Eu continuei descendo as postagens, uma das tinham os seguintes dizeres:



Luto para ele era um verbo. Para nós, saudades... R.I.P. Sebastian Roth.



─ Serio? ─ A Morte estava ao meu lado, olhando incrédula para a tela do computador. ─ Desde quando Luto é um verbo? Eu Luto, Tu Luto, Ele Luto.


─ Você é insensível. ─ Falei.


─ Ah, eu sou? ─ A Morte fez um tom de voz sarcástico. ─ Pelo menos o seu pai te deixou uma pensão bem gorda. ─ Ela ironizou. Eu revirei os olhos e bufei.


─ Do que você é feita? ─ Perguntei, mas eu realmente não queria que ela me respondesse.


─ Sonhos de criancinhas, almas de filhotinhos e lagrimas de ex-namorados. ─ Ela respondeu jogando-se na minha cama e me deixando sozinho. Eu continuei vendo as postagens da rede social havia varias mensagens de luto e falsidade, também tinham fotos de familiares, conhecidos ou amigos, esses felizes pra variar. De repente uma solicitação de amizade me acorda, era de Avery Miller, eu aceitei meio que sem pensar e decidir stalkear ela. Avery não tirava muitas fotos de si mesma, a foto do perfil mostrava uma Avery de óculos escuros e cabelos esvoaçados de um jeito bonito, ela publicava varias coisas sobre feminismo e frases do Charles Bukowski. Toc, toc. Veio o barulhinho da porta do meu quarto, inclinei a cabeça e encontrei minha mãe escorada nas dobradiças da porta.


─ Posso entrar? ─ Ela perguntou. Eu não respondi, ao invés disso dei de ombros, minha mãe caminhou pelo quarto e se sentou na cama. ─ Como foi o trabalho? ─ Perguntou ela.


─ Tranquilo. ─ Eu respondi. Não estava querendo ser seco com ela, mas pelo visto era uma coisa que eu não conseguia controlar.


─ Edgar é o patrocinador que eu te falei mais cedo. Ele é...


─ Mãe! ─ Eu a interrompi. ─ Está tudo bem. ─ Eu soltei um riso curto.


─ Está? ─ Ela juntou as sobrancelhas perfeitamente desenhadas.


─ Claro. ─ Eu assenti. ─ Você não precisa me dar explicações de nada. ─ Falei. Minha mãe ficou me encarando em silencio. ─ Ele é bonitão, você também. Eu quero que você seja feliz. ─ Tentei sorri. Na verdade mãe, eu quero que você feliz, mas também não quero que você fique sozinha quando eu não estiver mais aqui. Minha mãe olhou lentamente para baixo e sorriu, ela se levantou, veio ate mim e beijou o topo da minha cabeça.


─ Amo você, filho! ─ Ela passou a mão nos meus cabelos.


─ Eu também amo você! ─ Respondi.




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