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Quando eu tinha 15 anos e estava no primeiro ano da Leighton Hill Academy fiz amizade com um garoto que repetiu o ano, o nome dele era Walter. Walter tinha o cabelo bagunçado e gostava de fazer bullyng com outras pessoas, mas ele gostou de mim. Eu não precisei revidar nenhuma brincadeira dele ou ajudar ele em nenhuma matéria, Walter simplesmente chegou para mim e disse "E ai, cara? Gosta de Basquete?" e eu respondi. "Gosto!". Viramos-nos amigos, Walter ia dormir na minha casa para assistirmos os jogos do Chicago Bulls, fazíamos gramática e educação física no mesmo horário e sempre ficávamos falando quais das garotas que ficávamos era a mais bonita, eu sempre ficava com a da bunda maior. Walter era um bully e como eu era seu amigo, consequentemente ficava ao seu lado na hora de perturbar os novatos ou os menos ativos socialmente. Andy Norris sempre foi um garoto baixo e acima do peso, também era uma das vitimas favoritas de Walter. Lembro-me que da primeira vez que fizemos bullyng com Andy eu fiquei bastante atônito com a crueldade de Walter, o garotinho gordo ficou constrangido quando a parte traseira do uniforme ficou colada na carteira com um tipo de cola permanente para canos, as únicas opções de Andy eram a) tentar tirar a calça e ir ate a diretoria só de cueca, b) Rasgar com estilete apenas a parte que não desgrudava da carteira e c) Permanecer o resto da aula com a bunda presa na carteira. Nenhuma das alternativas era boa. Atualmente Walter encontrou Andy no estacionamento do cinema, eu estava junto com Walter e vi quando ele e mais alguns amigos oprimiram Andy a dar o dinheiro do cinema para ele, lembro que eu ri junto com o resto do grupo. Andy saiu tristonho e sem falar nada. "Não pise no mesmo chão que eu novamente, Leitão!" Foi o que Walter gritou para Andy.

Andy Norris estava a alguns metros de mim, revirando a trava do armário, ele parecia impaciente, mas o fato era que faltavam poucos segundos para o fim do intervalo e Andy queria ficar o mais longe possível do alcance de Walter.

─ Isso é mesmo necessário? ─ Murmurei encarando o garoto gordo.

─ É necessário que eu responda? ─ A Morte rebateu.

Eu suspirei. O flashback de todas as vezes que Walter deixou Andy se sentindo mal e eu não fiz nada começou a passar na minha mente a cada passo que eu dava na direção do garoto. Era claro que aquilo não ia sair bem. Andy se apressou quando me viu, ele mexia no cadeado do armário que não colaborava enquanto olhava de relance para mim. Chegou um momento em que ele se estressou.

─ Droga! ─ Andy esbravejou e saiu de perto do armário sem conseguir abri-lo.

─ Andy! ─ Eu levantei a voz. ─ Andy, espera! ─ Corri.

─ Nãoquerofalarcomvocêporfavormedeixaempaz! ─ Ele falou tão rápido que foi desse modo que entendi.

─ Espera! ─ Eu fiquei na frente dele. Levantei as mãos como se quisesse jurar. ─ Eu não vim aqui para brigar. ─ Falei. Andy me encarou por cima dos óculos de armação grossa e moldura redonda. Não acreditava em mim.

─ Vocênãoestáarmandoparamim? ─ Perguntou Andy.

─ Juro! ─ Olhei de relance para a Morte que estava atrás dele. ─ Juro pela minha vida.

Andy me olhou de cima a baixo e então ergueu a mão direita em um gesto estranho. O indicador e o dedo médio estavam juntos, porem faziam um espaço entre o anelar e o mindinho, que também estavam juntos. ─ Jure! ─ Andy balançou a mão com o gesto. Eu olhei estranho para a mão, mas decidi imitar seu gesto. ─ Eu juro.

─ Okay! ─ Andy abaixou a mão e ajeitou os óculos. ─ O que você quer? Cola em alguma matéria?

─ Ah, por favor! ─ Eu revirei os olhos. Eu não precisava de cola, eu era um dos filhos da puta mais espertos daquela escola. Eu ia preparar um discurso, mas estava sendo observado pelo anjo da morte. ─ Não. Eu não preciso da sua cola.

─ Então o que? ─ Perguntou Andy.

─ Eu vim te pedir desculpas. ─ A frase toda saiu bem mais facilmente do que eu imaginei. Cheguei a sorrir assim que terminei de falar.

─ Desculpas? ─ Andy cruzou os braços. O sorriso sumiu do meu rosto. Eu sabia que não ia ser tão fácil.

─ Você tem um ouvido bom. ─ Falei.

─ Certo! ─ Andy olhou para baixo por um instante. ─ Eu desculpo você... Com uma condição. ─ Eu olhei de relance para a Morte, ela deu de ombros.

─ Que condição? ─ Eu pendi a cabeça para o lado, minha voz soou como indiferença.

─ Quem você venha comigo á uma reunião mística. ─ Ela falou por mim. A Morte colocou as mãos nas bochechas e curvou a boca em formato de "O", logo depois estava dançando com os polegares apontados para cima, parecia engraçado, mas eu não sorri, ao invés disso, eu enruguei a testa. Andy olhou para trás de si por cima do ombro. Nesse momento a Morte fez uma gesticulação, como se estivesse cortando o próprio pescoço com uma faca. Andy olhou novamente para mim.

─ Eu aceito o acordo! ─ Sorri cinicamente.

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