✅ ENVELOPE NEGRO

#28

Avery não gaguejou. Embora estivesse nervosa a minha parceira de trabalho mostrou uma desenvoltura muito boa em frente à turma. Ela, com certeza, será uma ótima advogada. Eu caminhava pelo corredor naquela manhã de sexta-feira, quando vi Sloane em uma ação de participação com as pessoas que passavam pelo corredor. Sloane entregava envelopes cor de rosa para as pessoas, na companhia de duas outras garotas, uma afro e uma loira. Ela estava conversando com um garoto do time de natação quando olhou de relance para mim, Sloane o cumprimentou com um sorriso após entregar o envelope e caminhou na minha direção. Eu sorri quando ela me notou. Na verdade, eu estava de bom humor e percebi que não havia dado muita atenção a Sloane, esqueci inclusive que os envelopes se tratavam de convites para o aniversario de 18 anos dela. Ela não falou nada antes de me entregar o envelope, eu o analisei e percebi o lacre em forma de coração.

─ Use um terno bonitinho! ─ Sloane sorriu e piscou os olhos grandes, ela usava uma sombra verde muito bonita.

─ Use um vestido fácil de tirar! ─ Eu pisquei para ela. Sloane corou e colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha.

─ Não seja safado! ─ Ela sorriu. Eu arqueei uma das sobrancelhas, ainda sorrindo. ─ Só um pouquinho.

─ Ok, eu quero te dar um presente. ─ Comecei. ─ Eu não tenho te dado muita atenção ultimamente, então...

─ Você é um bobo. ─ Ela apertou meu pau por cima da calça, bem ali, no meio do corredor. Eu corei, olhei em volta, ninguém pareceu ter percebido exceto as duas garotas que estavam com ela, elas estavam rindo. Eu olhei pra Sloane e soltei um riso nervoso. ─ Dá um jeito de a sua mãe aparecer, to com saudades dela. ─ Sloane falou se afastando. Eu apenas assenti.

─ Eu não gosto muito da sua namorada. ─ A Morte falou, na verdade, ela cantarolou ao meu lado.

─ Você não tem que gostar dela.

─ Não vi a fixa dela ainda. ─ A Morte cerrou os olhos enquanto olhava Sloane sumir em meio a multidão. ─ Aposto que ela vai ter problemas na coluna, já viu o tamanho daqueles peitos?

─ Já. Eu já vi. ─ Resmunguei impacientemente. ─ Escuta. Eu sou a única pessoa que vai morrer em 30 dias? Você não tem outras pessoas pra azucrinar?

─ A maioria tem câncer. ─ A Morte deu de ombros. ─ É um saco ficar o tempo todo ao lado de uma pessoa numa cama que não tem fôlego nem pra se masturbar.

─ Por Deus! ─ Eu revirei os olhos e me afastei dela. Ouvi a morte gritar atrás de mim.

─ Michael Jackson ou Elvis?

Mais cedo o céu estava cheio de nuvens, porem estava começando a ficar mais iluminado, o sol tentava escapar por entre as nuvens. O pátio estava movimentado, as pessoas pareciam finalmente estar superando a morte de Sebastian, ele era um garoto bem popular, se é que me entende. A bandeja que eu segurava estava fria, havia leite, um sanduiche de atum com pão integral, uma maçã verde e um pratinho com um pudim pequeno. Eu olhei em volta e vi meus amigos no mesmo grupo de sempre, Sloane acenou para mim e eu caminhei em direção a nossa mesa, porem no meio do caminho outra pessoa me chamar, eu olho para trás. Era Andy. Ele estava de pé na perto da mesa com outros garotos que eu reconheci da reunião mítica, ele acenou também. Eu olhei para a mesa onde estavam Walter e Sloane, a expressão deles era de incredulidade por eu ainda estar parado no meio do pátio. Do outro lado do pátio esta a Morte, eu entendia perfeitamente a expressão dela. Porra. Caminhei em direção a mesa de Andy sem olhar para trás. Eu ia morrer fisicamente e socialmente pelo visto.

A mesa tinha um exclusivo espaço vazio, para mim, obvio. Todos observavam em silencio ate que eu me sentei, eu pude sentir um gelo na minha nuca, os olhares repreensivos e curiosos. Mas também senti um gelo na minha bunda, já que a mesa dos nerds não ficava na parte ensolarada do pátio quando eu estava acostumado.

─ Esse é o cara que estava usando a fantasia de capeta no outro dia. ─ Andy apontou para mim com o polegar. Que ótimo modo de falar sobre mim.

─ Jack Gilinsky? ─ Perguntou um garoto loiro narigudo. ─ Sem chance.

─ Onde conseguiu aquela fantasia? ─ Um dos garotos perguntou. Era um dos gêmeos que depois eu descobri que se chamavam Dylan e Dolan. Criativo.

─ Em uma lojinha do subúrbio. ─ Eu forcei um sorriso. ─ Glitter and Fantasy.

─ Nos estávamos pensando... ─ Andy fez uma pausa e olhou para os outros membros do grupo na mesa. ─ Você não ia querer se juntar a nós em um evento de cultura japonesa na próxima quinta feira, ia? ─ Andy fez uma careta, como se estivesse levando uma bronca.

─ Não vai dar. ─ Eu olhei de relance para a mesa, todo mundo estava olhando. ─ É o aniversario da Sloane e...

─ Cara, não tem que se explicar. ─ Disse o outro gêmeo. ─ A sua namorada é uma gata mesmo. Eu deixaria de ir á qualquer lugar para sair com ela. ─ Ele viu que o outro irmão o observava com uma quase careta. ─ Com todo respeito é claro. ─ Ele curvou os ombros.

─ Tranquilo. ─ Eu dei de ombros. Eu sei que ela é gata, porque acha que eu estou com ela?

─ Ela vai ganhar uma herança não é? ─ Andy perguntou.

─ Vai sim. ─ Respondi curto e grosso. Mais uma vez eu olhei de relance para a mesa dos meus amigos, nenhum deles estava mais sentado lá. A Morte estava com óculos escuros e mexendo no cabelinho loiro com pontas repicadas, vi quando ela fez uma bola de chiclete e estourou.

─ Vocês gostariam de ir? ─ Perguntei, minha testa estava levemente franzida.

─ Como? ─ Um dos gêmeos esbugalhou os olhos. ─ Na festa de Sloane?

─ Que arraso. ─ O outro gêmeo.

─ Não. ─ Andy falou. O resto da mesa ficou em silencio. ─ Não queremos ir.

─ Por quê? ─ Perguntei. Eu me senti levemente ofendido.

─ Jack, a gente já sacou que você quer mudar. ─ Andy começou. ─ Mas eu não acho que os seus amigos queiram.

─ Entendi. ─ Eu falei também que mal ouviram, mas entenderam, pois eu abaixei levemente a cabeça e assenti. Andy estava certo, meus amigos não estavam tão a fim de socializar com outras pessoas. Talvez eu realmente tivesse péssimos amigos.