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Walter me defendeu uma vez em uma briga. No meu primeiro ano eu esnobei Mike Willmeth, um valentão dá escola que foi expulso alguns meses atrás. Ele pressionou minha cabeça contra os armários, mas eu lembrei quando Walter deu um golpe de karate nele. Não sei qual o nome daquilo, mas Walter o chutou com os dois pés, Jambo também estava lá, ele colocou os braços de Mike para trás enquanto Walter deu vários socos na cara do valentão. Depois desse acontecimento Walter e Jambo foram suspensos, mas naquele mesmo dia, quando eu sai da escola, Walter e Jambo estavam me esperando do lado de fora da escola. Nos fomos comer no Mirian' s Big pela primeira vez e eu acabei conseguindo amigos ótimos.


O pensamento de que meus dias estavam contados voltou para a minha cabeça. Percebi que eu nunca mais veria Walter novamente. Eu estava deitado na cama, mas me sentei rapidamente, procurei o celular dentro da bolsa e comecei a procurar o nome de Walter na lista de contatos.


─ Você estava quase conseguindo. ─ A Morte estava com as mãos na cintura e com uma feição triste.


─ Eu não tenho tempo pra isso agora! ─ Falei sem olhar para ela.


─ Você não tem tempo, mesmo! ─ Ela sentou-se ao meu lado. Notei que ela não tinha cheiro ou perfume. O celular de Walter apenas tocava e ninguém atendia.


─ Do que diabos você esta falando? ─ Resmunguei impaciente.


─ Eu te disse para fazer amigos novos. ─ Ela falou como se estivesse soletrando.


─ Você não me diz o que fazer! ─ Falei no mesmo tom que ela. A Morte relaxou os ombros e bufou.


─ Já vi que vai ter que ser do jeito difícil! ─ Ela coçou levemente os cabelos descoloridos. ─ Ligue para o seu amigo novamente. ─ Disse ela. Eu não falei nada, já estava ouvindo o celular chamar. Era Walter. Eu atendi.


─ Walter! ─ Comecei. ─ Cara, eu não devia ter falado com você daquele jeito.


─ Tudo bem, mano! ─ A voz de Walter estava ofegante. Punheteiro. ─ Eu também tenho que me desculpar. ─ Ele continuou. Eu ri.


─ É. Tem mesmo. ─ Suspirei. ─ Vai me ajudar a comprar o presente da Sloane? Pode perguntar indiretamente para ela.


─ Claro. ─ Ele riu do outro lado da linha.


─ Beleza! ─ Falei. ─ Até mais.


─ Ate.


Desligamos.


Eu sorri aliviado. Olhei para o lado. A Morte estava com uma expressão divertida. Eu ri dela pois já estava mais tranquilo.


─ O que esta olhando? ─ Perguntei.


─ Agora liga para a sua namorada! ─ Disse ela.


─ Por quê? ─ Eu franzi a testa.


─ Garoto, quer ligar logo? ─ Ela reclamou impacientemente. Eu fiz uma careta e comecei a procurar o numero de Sloane. O celular começou a chamar, coloquei no ouvido e aguardei.


─ Oi bebê! ─ A voz de Sloane estava ofegante. Também estava ofegante, na verdade. Eu fiquei em silencio por alguns segundos.


─ Onde você está? ─ Perguntei.


─ Em casa. ─ Ela respondeu ainda ofegante. ─ Estou na esteira.


─ É mesmo? ─ Eu arqueei uma sobrancelha. ─ Tá certo


─ Você só ligou para perguntar onde eu estava? ─ Perguntou Sloane.


─ Sim! ─ Eu tentei parecer cortês. ─ Sabe que eu me importo com você, eu acho que ando muito ausente.


─ Ah! ─ Sloane fez uma voz de dengo. ─ Eu te amo, sabia?


─ É. Eu sei. ─ Respondi. ─ Agora eu preciso desligar.


─ Ok. Ate mais!


Desligamos.


Caralho. Pensei. Caralho. O celular ainda estava colado no meu ouvido direito, eu olhava para o piso do meu quarto sem acreditar. Então o meu melhor amigo estava fodendo com a minha namorada. Caralho. Dessa vez eu falei em voz alta.


─ O que é que está acontecendo? ─ Eu não perguntei isso para a Morte, nem para ninguém em especifico.


─ É um saco não é? ─ A Morte comentou. Eu não respondi. Coloquei a mão na testa e pendi a cabeça para trás. O que eu sentia era o gosto do pior tipo de traição. Por um momento eu desejei morrer antes do tempo. Minha respiração estava acelerada.


─ Eu achei que éramos amigos. ─ Resmunguei.


─ Não fica assim. ─ A Morte passou a mão nas minhas costas. ─ Eu te avisei.


─ Merda! ─ Eu estava encarando o chão novamente.


─ Sabe o que dizem? ─ A Morte começou.


─ O que? ─ Olhei tristonho para ela. Ela deu um daqueles sorrisos sinistros.


─ Amigos são como balões, você os esfaqueia e eles morrem.


Eu revirei os olhos e me levantei da cama. A Morte veio atrás de mim.


Ela deu um daqueles sorrisos sinistros.


─ Não fiquei assim, Jack. ─ Ela começou. ─ Se faz você se sentir melhor, o seu amigo vai morrer de câncer nas bolas. Se é que me entende.


✅ ENVELOPE NEGROOnde histórias criam vida. Descubra agora