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Avery Miller nunca ia a festas, pelo menos não nas mesmas festas que eu e meus amigos frequentávamos, ela nunca foi parar na diretoria, nunca fora reclamada durante a aula e nunca ficou com garotos o suficiente para ser considerada uma vadia. O pai dela trabalhava em uma das maiores lojas da cidade, como zelador, esse era um dos motivos da garota ser esnobado, mas se eu fosse Avery Miller eu estaria muito orgulhoso de mim. Avery era bolsista em uma das melhores escolas do estado, ela estava lá por realmente merecer, não por ser uma riquinha que estudava porque podia.


Ela não morava no lado rico da cidade como eu, a casa dela era no subúrbio da zona sul, a casa tinha um gramado verde graças as ultimas chuvas e tinha um cercado prateado e com alguns arames comprados em loja de esquina.


Eu estava no terraço da casa verde, batendo impacientemente na porta de Avery Miller. A Morte estava sentada em um dos degraus do batente, ela puxava algumas folhas de grama entediadamente. Eu me distraí observando ela e não percebi quando a porta se abriu. Um homem de quase 40 anos abriu a porta, ele tinha um olhar mal humorado e uma expressão cansada. Senti-me intimidado na hora e dei um sorriso sem graça para o velho.


─ A Avery se encontra? ─ Minha voz saiu falha. O homem me olhou de cima á baixo, provavelmente ele não estava acostumado a ver nenhum garoto das redondezas vestido com Hugo Boss. Ele não respondeu nada, apenas ficou mais alguns segundos me encarando. ─ Eu sou da Leighton Hill, me chamo... ─


─ Avery! ─ O homem gritou interrompendo-me, eu já estava com a mão estendida. O coroa adentrou na casa e me deixou esperando no terraço. Do lado de fora, com a porta aberta, dava para ver um sofá vermelho com um furo no braço.


─ Aposto meu pênis que ele gostou de você. ─ Murmurou a Morte. Eu ignorei o comentário dando apenas um suspiro, foi o tempo que precisou para Avery aparecer. O cabelo de Avery estava preso em um coque desarrumado e ela usava uma camisa preta e fubenta do Avenged Sevenfold. Eu não percebi que havia analisado ela de cima a baixo.


─ Bem vindo ao meu palácio, Jack Gilinsky. ─ Ela falou com sarcasmo, um sarcasmo idêntico ao da Morte que, por sinal, já não estava mais lá. ─ Entra! ─ Avery abriu caminho para mim. Eu assenti e entrei na casa, a porta fechou-se atrás de mim. A casa era pequena se comparado a minha, mas digamos que era como as casas que aparecem nos seriados de televisão. Avery não falou nada, apenas começou a andar e eu a segui, a casa tinha um ar pesado e regado em poeira, subimos alguns degraus ate chegarmos a um corredor estreito de paredes brancas e nuas com duas portas uma no final e outra quase de frente para a estrada. O quarto de Avery era organizado, tinha uma cama duplex forrada com lençol floral, um guarda-roupa que parecia bastante velho próximo a janela e do outro lado do quarto uma estante cheia de livros, livros grossos, eu conhecia aquele tipo de livros. Fiquei um tempo observando os livros da estante, eram livros judiciais e tinham mais de sete sobre o assunto.


─ Você não vai entrar? ─ Avery me assustou. Ela estava sentada na cama mexendo no notebook preto, havia 3 livros espalhados pela cama.


─ Claro. ─ Eu pigarreei antes de caminhar timidamente ate a cama de Avery. Sentei-me ao lado dela, eu estava com as pernas para fora da cama, já ela estava com as pernas completamente cruzadas e com o computador no colo.


─ Então, eu estava pensando em qual tema nos poderíamos usar. ─ Ela digitou algo no notebook. ─ O que você acha de Nazismo?


─ Pra mim está ótima. ─ Concordei.


─ Serio? ─ Ela me encarou. Eu apenas assenti, Avery olhou para a tela no notebook. ─ Achei que você discordaria de primeira.


─ Por quê? ─ Franzi a testa. ─ É uma boa ideia.


─ Achei que você só aceitasse as suas ideias e...


─ Eu só aceito as minhas ideias. ─ Rebati. ─ Mas tive essa mesma ideia. ─ Sorri. Avery também sorriu. Continuamos a falar sobre trabalho, tivemos algumas divergências em como iríamos fazer para tornar toda a apresentação interativa, eu tive a ideia de um slide em 3D, Avery discordou por causa do preço, ela esqueceu que a pobre da dupla era ela e que eu poderia pagar tudo tranquilamente.


─ Então... ─ Falei enquanto grifava algumas passagens do livro de historia. ─ O que vai fazer quando se formar? ─ Olhei de relance para Avery, que estava de costas para mim. Vi que ela parou de digitar no notebook e tencionou os músculos.


─ Eu vou fazer direito. ─ Avery respondeu. A voz dela saiu hesitante. Uma concorrente. Na verdade ela não era mais uma concorrente, já que eu não estava mais competindo.


─ Isso explica todos esses livros de leis e jurisdição na sua estante. ─ Eu sorri sugestivamente.


─ Na verdade eles eram da minha mãe. ─ Avery se inclinou e olhou para mim.


─ Sua mãe é advogada? ─ Eu arqueei uma das sobrancelhas. Não era muito coerente que a mãe de Avery fosse advogada e eles vivessem na condição que estavam.


─ Ela era. ─ Avery baixou o olhar. Estava morta.


─ Sinto muito. ─ Enrijeci o maxilar. Avery deu um sorriso fraco. ─ Pelo menos vocês ficaram com uma... Pensão boa. ─ Me toquei no meio da frase que eu havia falar algo extremamente insensível.


─ Na verdade ela estava muito endividada, por isso ela...


─ Não! ─ Interrompi. ─ Você não tem que me contar na disso. Serio! ─ Eu dei um riso nervoso.


─ Desculpa! ─ Avery limpou o canto do olho esquerdo, mas juro que não vi nenhuma lagrima caindo dele. Ela limpou a garganta. Eu fiquei encarando ela por um tempo e me odiando pelo comentário fútil que eu havia feito anteriormente. O silenciou tomou conta do quarto, eu percebi que tinha bem mais em comum com Avery do que imaginava.


─ Ela se suicidou? ─ Insisti. Não estava querendo ser intromentido, apenas achei que ela se sentiria melhor caso desabafasse.


─ Quando eu tinha 6 anos. ─ Avery deu de ombros. ─ Tiro na cabeça. ─ Ela continuou. Eu assenti, talvez eu devesse compartilhar com ela algo para que ela não se sentisse tão exposta.


─ Meu pai também era advogado. ─ Comecei. ─ Ele...


─ Marvin Gilinsky. ─ Avery me interrompeu. ─ Diferente da minha mãe, o seu pai era renomado.


─ Não fale desse jeito. ─ Eu desviei o olhar. ─ Só porque sua mãe não era renomada isso não quer dizer que ela não seja uma boa profissional.


─ Você está certo. ─ Avery sorriu. ─ Sabe Jack. Você é realmente um cara acima do que eu esperava.


─ Obrigado! ─ Eu sorri, dessa vez não foi um sorriso forçado, eu realmente gostei do que ouvi.


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