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Eu estava usando o meu uniforme semanal da escola e andando pela calçada deserta até a parada de ônibus, a Morte estava comigo, mas ela usava um sobretudo preto e caminhava sem pisar nas linhas da calçada.
─ Olha, eu não quero sentir dor! ─ Falei em relação ao modo como eu ia morrer.
─ Então é melhor você estar dormindo. ─ A Morte falou sem expressar nenhum humor.
─ Posso mudar a forma como eu vou morrer? ─ Olhei para ela. ─ Tipo, eu quero ser comido por um tubarão.
─ Não! ─ A Morte olhou para mim com uma expressão de nojo. ─ Não quero que o tubarão tenho uma má digestão.
─ Eu não gosto de você! ─ Reclamei encarando a parada de ônibus que eu já conseguia ver.
─ Eu não estou aqui para você gostar de mim. ─ Ela continuou dando pulinhos para pisar apenas nos quadrados. ─ Estou aqui para lhe ensinar a morrer.
─ Isso não fez nenhum sentido! ─ Fiz uma careta.
─ A Morte é um quadro abstrato, não precisa fazer sentido.
─ E quem pintou você? Jesus? ─ Perguntei.
─ Gostaria que você parasse de falar da versão capenga do Jared Leto. ─ A Morte me encarou de um jeito furioso.
Ok, Ok! ─ Eu levantei as mãos para o alto.
A parada de ônibus tinha 5 banquinhos azuis e uma proteção em cima contra o sol, ao lado tinha também um pôster que sempre mudava, as vezes era de algum produto ou programa de TV, ou uma campanha. Não havia ninguém lá, eu me sentei no banquinho e a Morte sentou-se ao meu lado. Ela pegou um chiclete e colocou na boca.
─ Me dá um desses. ─ Estendi a mão e ela colocou uma tira de goma de mascar na minha mão. Puis na boca e comecei a mascar, era de framboesa, fiz uma bola no mesmo instante em que ela fez, e as duas estouraram no mesmo momento também.
─ Se importa em me dar um também? ─ Uma voz calma e máscula chiou ao meu lado. Eu me assustei. O rapaz que agora estava sentado do meu lado direito usava um terno completamente preto, nada era branco, tudo era preto. Olhei para ele, então olhei para a Morte, ele estava conseguindo vê-la, a Morte parecia extremamente irritada com o que via.
─ O que diabos você está fazendo aqui? ─ Ela levantou-se e cruzou os braços, o rapaz continuou sentado, ele deu um sorriso debochado.
─ Vim aqui para apressar o seu trabalho. ─ Ele levantou-se e limpou a calça. ─ Você ainda tem 9 dias, N#11! ─ O rapaz olhou para mim e assentiu gentilmente, então foi embora. Eu o observei ir, minha cabeça girou lentamente na direção da Morte, ela estava com uma expressão embaraçada.
─ O que foi isso? ─ Perguntei.
─ Má sorte! ─ Respondeu ela.

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