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Kero estava latindo freneticamente aquela noite. Já era a terceira vez que eu me acordava com os grunhidos dele ou os ensurdecedores e agudos latidos desproporcionais ao tamanho dele. Eu havia gritado para que ele fizesse silenciou mais como, pelo visto, não adiantou.

─ Você pediu por isso. ─ Me ergui na cama e vi-o pulando a cada latido. Estiquei a mão para o lado e peguei um dos travesseiros, eu estava cansando demais, mas conseguir acertar Kero com aquilo. Bateu nele e ele cambaleou para o lado. ─ Eu avisei! ─ Afundei novamente o rosto no travesseiro. Senti todas as minhas preocupações indo embora ate Kero começar a latir novamente. Filho da puta. Eu rapidamente virei o rosto para ele e quase tive um ataque cardíaco. Alguém usando uma beca preta estava bem na minha frente. Eu pulei para o lado da cama, minha respiração estava ofegante demais. A pessoa abaixou o capuz da beca e sorriu. Era a pirigotica.

─ O que? ─ Foi a única coisa que saiu da minha boca. Eu não me atreveria a perguntar o que ela estava fazendo ali, afinal, aquela porra era a morte... Não era?

Ela ficou ali, estática e me encarando com as mãos na cintura. Eu levei meu olhar para os cobertores que agora estavam jogados pela cama, olhei em volta lentamente tentando juntar os pedaços. Kero parou de latir.

─ Eu estou louco, não estou? ─ Perguntei sem olhar para ela. ─ Eu acho que estou estudando muito pra passar nessa bosta de universidade de direito.

─ Você não vai pra universidade de direito. ─ Ela falou como se estivesse cansada de repetir.

─ É claro que eu vou, ─ Eu alterei o tom de voz. A gótica ficou me encarando sem dizer nada. Eu soltei um riso nervoso. ─ Eu não vou morrer, tá legal? ─ Levantei as duas mãos na defensiva. ─ Eu só estou estressado. Vou diminuir a carga de estudos, vou entrar pra universidade e vou sobreviver. ─ Eu soltei um suspiro. Eu não acreditava nas minhas próprias palavras. A garota gótica se sentou ao meu lado. Ela me encarava, a beca preta lhe cobria os pés.

─ Você é mesmo o anjo da morte? ─ Eu perguntei. Não arrisquei olhar para ela, apenas encarava minha calça de pijama cinza e meus pés descalços.

─ Só morte tá bom! ─ Ela me corrigiu.

─ Por que... ─ Eu balancei a cabeça. ─ Por que eu? ─ Olhei finalmente para ela. Os olhos dela eram verdes e vazios, expressão indecifrável.

─ Por que não você? ─ Ela rebateu. ─ Tem algo em você que as outras pessoas não têm?

─ Eu tenho uma vida planejada. ─ Falei entre os dentes trincados.

─ Você não planeja nem a hora que vai ao banheiro . ─ Disse ela. ─ Você tem tudo. Ontem foi a vez de uma garota na África e ela nem reclamou. ─ Ela olhou para mim como se a coisa toda fosse obvia. ─ A piranha podia pelo menos ter sido modelo antes de bater as botas.

─ Qual é o seu problema? ─ Eu esbravejei. ─ Por que você não simplesmente me deixou morrer sem aviso prévio? Eu não precisava saber.

─ Claro que precisava querido. ─ Ela fez uma voz doce.

─ Por quê?

─ Porque você é arrogante, besta, não valoriza o que tem. ─ Ela deu de ombros. ─ Já deu uma olhada nos seus amigos? ─ Ela continuou. ─ Um bando de gente feia por dentro.

─ O que você ta tentando dizer? ─ Eu quase revirei os olhos.

─ Eu não quero que os vermes comam o corpo de uma pessoa ruim. ─ Ela me encarou. ─ Quero que você repare os seus erros.

─ Eu tenho escolha? ─ Reclamei.

─ É isso ou eu vou te atormentar pelo resto da sua vida. ─ Ela sorriu. ─ Você aguentaria de boa, não vai ser muito tempo.

Eu bufei.

─ Tá bom. O que eu realmente preciso fazer? ─ Falei com a voz desanimada. A Morte deu um sorriso, aquele tipo de sorriso cruel, o mesmo sorriso que ela deu quando me entregou o bilhete.

─ Isso vai ser interessante!

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