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Estava lá, no meio dos vários papeis e da poeira daquele escritório que, mais uma vez, os empregados incompetentes não limpavam. Na segunda gaveta esquerda da escrivaninha cor de creme havia um envelope preto com lacre rasgados. O conteúdo? Idêntico ao que eu recebi. A data da morte, a CAUSA da morte. Tudo coincidia com a situação que o meu pai foi encontrado, Bosta. Então eu realmente ia morrer. Mortinho da silva.

Sentei-me na cadeira giratória e respirei fundo aquele ar cheio de bactérias. Eu varri aqueles pensamentos pra fora da minha cabeça. Aquilo definitivamente não estava acontecendo, não hoje e muito menos comigo. Eu sabia que tinha um motivo muito ridículo para aquilo estar ali. Era uma brincadeira, só podia ser uma brincadeira. Eu não me dei conta de que encarava o envelope preto do meu pai quando ouvi algumas batidas de leve na porta, pelo som que fazia eu pude deduzir que aquela madeira não era de boa qualidade e a porta já estava oca, pronta para ser dominada pelos cupins. Minha mãe estava parada na porta do escritório do meu pai. O cabelo loiro estava solto, óculos escuro quase maior que as maçãs do rosto, um vestido hippie floral e uma bolsa marrom em um dos ombros.

─ O que você esta fazendo, príncipe? ─ Ela perguntou sem sair de onde estava.

─ Nada. ─ Eu pigarreei.

─ Parece bem preocupado com o seu "nada". ─ Ela gesticulou as aspas.

─ Eu só... ─ Fiz uma pausa. Precisava pensar em uma desculpa. ─ O papai falava algo estranho?

─ Ate na hora do sexo, filho! ─ Disse minha mãe;

─ Não. ─ Continuei. ─ Quero dizer, antes de morrer. Sei lá, qualquer coisa.

─ Jack, o seu pai não dava a mínima pra morte. ─ Ela começou. ─ Ele só queria aproveitar toda a grana que tinha, comigo, com você e com as amantes dele.

─ Entendi. ─ Voltei meu olhar para o envelope preto.

─ Filho, esqueça isso, okay? ─ Ela falou pegando o celular de dentro da bolsa e passando o dedo na tela. ─ Olha só, eu vou fazer aeróbica. Você vai querer alguma coisa?

─ Não, eu to de boa.

─ Está bem, beijão. ─ Ela deu um passo e depois se virou novamente para mim. ─ Filho, sai desse lugar. Tá cheio de poeira e você vai morrer sem os pulmões. ─ Ela fungou. ─ Não acredito que a Dalilah não esta limpando aqui, eu não pago ela pra chupar o pau do jardineiro.

Eu não pude evitar e dar uma risada. Parece que não mãe, meus pulmões vão ficar comigo.

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