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07 dias.

Bip. Eu ouvi um barulhinho. Bip. Bip. O barulho se repetia a cada segundo, e os bips continuaram. Estava muito frio, eu estava me sentindo completamente dolorido e minha cabeça estava latejando. Eu me remechi na cama e abri os olhos devagar. O que eu vi foi um forte por do sol do lado de fora da janela, um quarto todo pintado de branco, um cabide de soro e um jarro com flores arroxeadas. Minha mãe estava dormindo em uma cadeira de couro marrom ao lado da minha cama.


─ Você achou mesmo que ia escapar dessa tão fácil? ─ A Morte estava sentada na beirada da cama brincando com uma das flores do jarro.


─ Morte! ─ Eu sorri.


─ Ola, Jack Gilinsky! ─ Ela sorriu de volta. Eu suspirei e dei uma olhada em volta.


─ Quer dizer que eu não consegui? ─ Perguntei, mas já sabia da resposta.


─ Claro que não conseguiu! ─ A Morte fez uma careta. ─ Esse é o meu trabalho. Suicídio é uma salvação para as merdas da vida, o tipo de salvação que você não merece. ─ Ela apontou para mim com a flor. Eu ri, eu havia sentido falta do sarcasmo.


─ Me desculpe pelo que eu disse. ─ Encolhi os ombros. ─ Você estava certa.


─ Eu claro que eu estava. Eu nunca erro! ─ Caçoou ela.


Minha mãe remexeu-se ao lado na cadeira ao lado, ela começou a abrir os olhos lentamente, eles observaram o lugar até pararem em mim. Meu corpo estava dolorido e eu fiquei com medo de minha mãe me abraçar, mas ao invés disso ela colocou as duas mãos sobre a boca e começou a lacrimejar.


─ Jack! ─ Ela deu um gemido quase inaudível. Eu não respondi nada, não sabia o que responder. Então, dessa vez, minha mãe me abraçou e eu fiquei imóvel. ─ Por que tentou fazer isso? ─ Perguntou. Eu não tinha resposta.


Naquele momento eu aprendi que ter motivos, nem sempre significavam ter respostas. E eu fiquei lá, sem falar absolutamente nada.


─ Desculpe! ─ Foi a única coisa que eu estava apto a falar. E minha mãe se contentou com aquilo, ela apenas assentiu e sorriu com os olhos cheios de lagrimas. Desculpas era o mínimo, eu estava vivo, por enquanto, e era o que bastava para ela.


Eu olhei para o meu braço e vi um curativo enfaixado, no outro braço havia um soro injetado. Definitivamente foi uma atitude bem estúpida da minha parte. O celular da minha mãe começou a tocar e ele deu um leve pulo da cadeira.


─ É o Edgar! ─ Disse ela olhando para a tela do celular e já cruzando o quarto em direção a porta. ─ Ele esteve bem preocupado com você, já volto. ─ Ela saiu. E eu fiquei sozinho novamente.


Eu passei o resto do dia na cama, não podia me mexer e tinha que estar sempre tomando soro, uma enfermeira me trouxe Nachos e eu achei incrível ter comida mexicana naquele hospital. Eu me distraio durante a estadia no hospital assistindo todas as temporadas de Criminal Minds. Ficar ali me lembrou de algo que aconteceu quando eu tinha 10 anos. Eu precisei fazer uma cirurgia na orelha direita e conheci um garoto, o nome dele era Cameron e ele era careca. Só havíamos nós dois e nossas mães na sala de espera para fazer consulta. A minha mãe entrou primeira apenas para assinar alguns papeis e eu fiquei na sala conversando com Cameron sobre coisas de crianças e nos viramos muito bons amigos. Eu vi Frances no dia em que precisei ficar internado e nos conversamos novamente, ele disse que ia ficar no quarto ao lado do meu caso eu precisasse conversar com ele ou quisesse brincar.


Mas eu também lembro que nos três dias em que estive lá, minha mãe não me autorizou a ir brincar com Cameron e eu sempre via a mãe dele chorando pelos cantos. Não sei o que aconteceu com Cameron, nunca mais o vi e espero que ele esteja bem. Pelo menos melhor do que eu estou.


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