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29 dias.

Kero estava com todo gás naquela manhã de sábado. Ele não queria passear, definitivamente estava pronto para uma maratona canina. Kero parou de correr e caminhou lentamente ate um dos banquinhos do parque, levantou a perna direita e começou a mijar. Eu me sentei no banco de peguei a garrafa laranja que estava na minha cintura. A água desceu facilmente. Era uma manhã muito quente, mas a grama do parque estava verde para uma época tão quente do ano. Outras pessoas também caminhavam com cachorros, outras corriam e se exercitavam. Kero começou a choramingar e correu para o meio das minhas pernas.

─ Qual é o problema, K? ─ Passei a mão pela cabeça dele. Kero abaixou as orelhas e lambeu meus dedos.

─ Melhor matar ele antes de morrer. Não acho que a sua mãe vá cuidar dele. ─ Uma voz esnobe falou ao meu lado.

─ Puta que pariu. ─ Eu quase gritei. Dei um pulo do banco que estava sentado e quase pisei em Kero. Sai tropeçando na coleira. A garota gótica estava com a mesma roupa do outro dia. Pernas cruzadas e cutucando uma unha pintada de preto. Ela inclinou lentamente o rosto na minha direção.

─ Bu! ─ Ela deu aquele sorriso sinistro.

Eu deixei escapar um riso. ─ Okay. ─ Comecei. ─ Olha. Você vai continuar me perseguindo? ─ A pirigótica ficou me encarando sem dizer nada. ─ O que? Vai me encontrar em um beco escuro e me dar uma surra junto com a sua gangue do Nirvana? ─ Cruzei os braços. A coleira de Kero ainda estava envolta do meu pulso e ele se escondera atrás de uma das minhas pernas.

─ Vem aqui! ─ A pirigótica se abaixou um pouco e bateu palmas perto do tornozelo. Kero olhou receoso para ela. ─ Vem cá, garoto! ─ Ela sorriu. Comecei a achar que ela só tinha aquele tipo de sorriso estranho. Kero saiu do meio das minhas pernas e caminhou ate ela. Ela pegou Kero no braço e ele a lambeu a bochecha direita. Eu continuei observando ela, pronto para lhe chutar a cara caso ela fizesse algo com Kero.

─ Me deixa adivinhar. ─ Ela falou, ainda acariciando Kero. ─ Deu muito o cu ontem de noite e não consegue sentar. Certo? ─ Ela olhou finalmente para mim. Olhos verdes.

─ O que você quer? ─ Perguntei, ignorando a piada dela.

─ Eu não quero nada. ─ Ela fez bico. ─ Só estou fazendo o meu trabalho.

─ Se o seu trabalho é me perseguir... ─ Eu fiz uma cara de desdém para ela.

─ Isso aí. Meu trabalho é caminhar ao seu lado agora. ─ Ela colocou Kero no chão. ─ Mas não se ache por isso. Eu caminho ao lado de várias pessoas, sou onipresente.

─ Ah é? ─ Não pude evitar a gargalhada. Sentei-me ao lado dela. ─ Quem é você? Deus? ─ Eu franzi a testa.

─ Garoto, se Deus existisse você não iria ficar no reino dele. ─ Disse ela.

─ Não enche! ─ Eu me levantei e praticamente arrastei Kero comigo.

─ Não fuja do seu destino. ─ Ela caminhou ao meu lado.

─ Qual é a porra do seu problema? ─ Gritei na cara dela.

─ Não grita. ─ Ela sussurrou e olhou em volta, cabisbaixa. ─ Ninguém consegue me ver. Vão achar que você é louco.

─ Você é doida. ─ Novamente dei as costas a ela e continuei andando. Cerrei o punho, pronto para acerta-la. Eu nunca, em hipótese alguma, bati em uma mulher, mas essa garota pedia uma boa dose de espancamento. Parei de caminhar bruscamente. A piranha estava bem na minha frente. A mão direita segurava o cotovelo do outro braço. Ela roçava o queixo com o dedo indicador me olhando de cima á baixo.

─ Já entrou no escritório do seu pai depois que ele morreu? ─ Ela perguntou.

─ Como você sabe disso? ─ Eu cerrei os olhos com raiva. Ela sorriu sem mostrar os dentes.

─ Procure nas gavetas, Jack! ─ Ela virou de costas e começou a andar. ─ Talvez encontre algo mais útil do que a xana cabeluda da sua namorada! ─ Ela continuou caminhando, caminhando e caminhando.

Eu fiquei parado, observando aquela garota bizarra desaparecer em meio aos arbustos e corredores matinais.

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