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22 dias.

Todos tinham o seu começo, seu meio e o seu fim. Não importa quanto tempo o processo durou, o que importa é que todos têm a mesma cronologia. A cronologia de Sebastian Roth foi curta, assim como a de Anne Frank, assim como a de Amanda Todd, assim como a minha. Eu estava na quarta fila do lado direito da igreja. O padre rezava uma oração que eu não prestei atenção. Meus olhos não saiam do caixão exposto para todos, exibindo o garoto homossexual que eles abominavam e agora almejavam que estivesse no céu.
─ Olha só essas pessoas. ─ Começou a Morte. Ela estava na fileira de trás, a roupa mudou finalmente. Ela usava um vestido preto, óculos estilo Ozzy e um chapéu com manto preto. ─ Por que deus levou uma alma tão jovem, cheia de luz e sonhos que carregava um pecado abonável por gostar de piroca. Seu castigo foi ser atropelado por um carro, agora ele esta no céu, abençoado por deus e comendo xoxotas. ─ Ela falou tudo com uma voz de chacota. Eu soltei um riso. A mulher gorda de vestido salmon e trança deu um olharA1 reprovador.
─ Alguém já disse a essa mulher que gula é pecado capital, o que ela esta fazendo nessa igreja? ─ A Morte caçoou mais uma vez. Eu ri novamente, a mulher olhou para mim mais uma vez, eu fingi estar chorando, coloquei ate a mão nos olhos. Graças a Deus que o inferno não existe, ou eu iria para lá. Espere. Isso foi bastante irônico.
Sloane segurou minha mão e a apertou, eu fingi que estava limpando as lagrimas e dei um sorriso curto para ela. O funeral se prolongou com o discurso de alguns familiares que, provavelmente, sentiam vergonha de Sebastian pelas escolhas dele. O padre fez mais algumas orações e, pelo bem da minha sanidade, fomos todos liberados. Não choveu naquele dia, mas estava nublado. Eu caminhei ate ver a Senhora Roth conversando com uma pessoa, não era uma simples pessoa, era a Morte. Eu apressei o passo para chegar onde estavam as duas e quase tropecei em uma cerâmica lascada. A Sra. Roth saiu de perto da Morte, ela chorava desesperadamente e esbarrou em mim. Inclinei-me e observei ela ir embora, a Morte veio ate mim sem que eu precisasse andar ate ela. Eu a encarei. ─ O que foi isso, ela pode te ver? ─ Enruguei a testa.
─ Ela vai cometer suicídio amanhã. ─ Disse a Morte.
─ Credo! ─ Eu esbugalhei os olhos. ─ Devíamos ligar para a emergência? 
─ Sabia que o numero da emergência também se refere a o dia do atentado terrorista das torres? ─ A Morte pareceu se divertir com aquele comentário. ─ Isso não é uma sacanagem?
Eu revirei os olhos e voltei a minha atenção novamente para a Sra. Roth, ela já não se encontrava mais nos arredores da igreja. Descanse em paz.

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