Capítulo 2 - Parte 9

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Já era noite e eu estava lanchando – sozinha – quando Fernando chegou, com muitas sacolas. Ele tinha uma aparência feliz. Não entendi por que. Talvez ele tenha desencalhado após anos, mas também não me interessava.

Comendo sozinha? – Ele perguntou com a voz um pouco animada. – quer companhia? – O vi pôr as sacolas no chão próximo à parede.

Onde estava? Não te vejo desde ontem. –Ignorei a pergunta dele.

Fui fazer umas compras. Está melhor?

Sim. – Limitei-me enquanto tomava um pouco do leite.

Cheguei ontem à noite e estava dormindo com o Christopher. – Tentei não demonstrar nenhuma reação, mas ele falara tão tranquilo que chegou a me assustar. – Ele é uma ótima pessoa, acredito que serão ótimos amigos. Isso se você quiser né. – Ele se sentou na cadeira à minha frente. – Quando acordei, vocês ainda dormiam e não quis acordá-los.

Você nunca para em casa, que diferença faz avisar ou não se vai sair?

Dulce, eu tenho... – Se quer dei tempo dele responder.

Você me trouxe para este fim de mundo para me deixar sozinha trancada aqui? Sério, preferia ficar em um orfanato, seria menos tedio. Não tem nada aqui.

Depois do Ano Novo você vai voltar a estudar, vai conhecer pessoas novas, vai poder conhecer a cidade.

Droga. Mil vezes droga, porque ele tinha que me lembrar de escola. Não consigo me imaginar em uma escola ali. Suspirei tentando não me estressar. – Não quero ir pra escola.

Não é questão de querer. Você vai e pronto. Conviver com jovens da sua idade lhe fará bem.

Não sei se se lembra, mas eu já convivia com jovens da minha idade, não quero substitutos ok?!

Tudo bem, você quem sabe. Hoje fui fazer sua matrícula. Dia 3 de janeiro você começa.

Eu não quero. – Bati o copo que estava em minha mão na mesa e me levantei.

Não vai terminar de comer?

Perdi a fome. – Gritei enquanto saía da cozinha. Ódio era o que eu sentia por ele naquele momento. Por que ele não podia simplesmente me esquecer? Segui pelo corredor e esbarrei em um cara. Ele era alto. Bom, não alto, alto, mas era maior que Christopher. Tinha os olhos esverdeados, cabelo curto e preto.

Onde pensa que vai? – Ouvi aquela voz grossa me perguntar.

Quem é você? – Arregalei os olhos.

Poncho. – Ouvi a voz de Christopher.

Oi Ucker. – Ele respondeu.

Então já conheceu nossa amiguinha. – Ele falou se aproximando.

É a Dulce né?

Sim.

Não mudou muito, continua baixinha. – Cerrei os punhos.

Eu não sou baixinha. – Falei entre dentes praticamente soletrando.

Deve ter crescido uns três centímetros apenas. – Aquele cara lindo estava mesmo debochando da minha cara?

Não, dois e meio. – Christopher continuou.

Será que dá pra pararem?

Minha cunhadinha está nervosa, o que houve? – Arregalei os olhos, mas que história é essa.

Ela é o nervosismo em pessoa. E ela não é sua cunhada. – Christopher negou me olhando.

Ai parem. – Gritei. – Vou pro meu quarto.

Não vai não. Viemos aqui ver você e vai nos deixar a ver navios.

Você me deixou sozinha o dia inteiro. – Cruzei os braços.

Agora estou aqui meu amor. – Ele piscou pra mim. – Sentiu minha falta?

Não.

Pensei que ir ou ficar, pra você tanto faz.

Queria que eu dissesse pra você ficar? Eu mal te conheço, não tinha esse direito.

Mas implorou pra passarmos a noite juntos.

Eu não me lembro. Se eu não me lembro eu não fiz. Aliás, acho que você inventou isso. – Ele deu um sorriso. – Idiota.

Não inventei Mari. Eu juro. – Ele deu uma gargalhada. – Você realmente pediu pra eu ficar.

E você, mole e louco como é por ela aceitou antes mesmo dela terminar de pedir. – Aquele cara cruzou os braços.

Essa conversa me enoja, sério. Só pra você saber, eu tenho namorado. Então se pensa em ter algo comigo, é melhor desistir do início. - Dei uma pincelada no nariz dele e me retirei.

[REVISÃO] Trezentos e Sessenta e Cinco Dias VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora