Acordei com gritarias e entre elas estava a de Anahí. Minha cabeça doía.
Eu estava na enfermaria do colégio, e em um canto da sala, uma mulher vestida com um jaleco xadrêz (muito feio por sinal) mechendo em um armário.
Me sentei com dificuldade e fiquei tentando ouvir a conversa do lado de fora da enfermaria.
O que a está dizendo é muito grave, senhorita Portilla. - Essa era a voz do diretor que aliás eu não consegui gravar o nome até hoje.
Eu estou dizendo. Dulce por confimar isso. - A voz dela agora era falha. Acho que ela estava falando do professor Guilhermo. Mas que droga Anahí.
As consequências podem ser graves. Vamos esperar que o pai dela chegue e vamos conversar. Com licença.
Droga. - Ela disse com a voz abafada e segundos depois entrou na enfermaria.
Você não deveria ter dito nada Anahí. - Falei entredentes ainda com os olhos fechados.
Você está acordada.
Abri meus olhos e a olhei. Ela estava com as bochechas vermelhas.
Por quê?
Porque ele não podia ter feito isso com você. Eu não vou deixar ele maltratar minha única amiga aqui, ok? E outra Dulce, ninguém sabe do que esse cara é capaz.
Anahi. - Me sentei me sentindo ainda um pouco tonta. - Era o último dia de aula. Eu não iria vê-lo nunca mais e isso ia ser esquecido.
Iria vê-lo sim.Ou se esqueceu que ele é um dos professores responsáveis pela viagem de formatura? - Ela se sentou na beirada da maca.
Eu não me esqueci disso. -Revirei os olhos. - Mas os garotos estarão lá, ele não chegaria nem perto da gente.
Você não entende não é? - Seus olhos voltaram a se encher de lágrimas.
Entender o quê?
É a chance que tenho para desmascarar aquele pedófilo.
Annie. -Engoli seco. - Eu sei o que aconteceu com sua amiga. O que ele fez com ela. Mas a escolha de partir foi dela. Não sua e nem dele.
Ela não foi a única vítima dele. - Ela passou a mão pelos olhos.
Do que é que você está falando?
Eu...eu ou te contar uma coisa, que eu nunca contei a ninguém. - Ela abaixou a cabeça e isso me assustou. Olhei para o lado e a enfermeira continuava fazendo que que estava fazendo quando acordei. Foi então que um soluço alto e assustador invadiu o ambiente. Nunca vi Anahí chorar dessa forma. Céus. Senti um calafrio percorrer minhas costas. Era ela. ERA ELA.
Oh meu Deus Annie. Me desculpe. - Eu a abracei e ela amoleceu em meus braços. Eu... eu pensei que. Ah meu Deus!
Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? - A enfermeira perguntou se aproximando.
Pode nos deixar sozinhas um instante? - Perguntei um pouco alto de mais. Ela assentiu e foi em direção à porta de saída. - Espera. - Gritei e ela se virou. - Diga ao diretor que eu quero a polícia nessa escola. AGORA! - Ordenei – Ela arregalou os olhos e se retirou fechando a porta. - Me diz o que houve. - A soltei e enxuguei seu rosto.
Eu havia bebido muito naquele dia. - Ela falou tão baixo que eu quase nem escutei. - Não que eu quisesse sabe. Confesso que tomei uma ou duas garrafas de ice, mas só isso. Nada que me faria perder o sentido. Depois tomei um suco. Apenas suco. Não consigo me lembrar de muita coisa. Só consigo me lembrar dele falando que se eu contasse pra alguém, ele faria algo, não comigo, mas com alguém que eu amava. Quando eu falava que ele tinha medo de mim, na verdade eu é quem tinha medo dele. Meus pais me castigaram por um mês, por eu ter chegado tão tarde aquele dia.
Annie, você deveria ter dado parte na polícia. Isso é muito mais que grave. Ele abusou de você. - Dizer isso doeu tanto. Como ele pode ser capaz? - Você tem que falar isso com seus pais.
Não. Eu prefiro que eles não saibam.
Eles têm que saber. São seus pais.
Você não quis contar ao seu pai sobre ele. Eu também tenho esse direito.
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[REVISÃO] Trezentos e Sessenta e Cinco Dias Vondy
FanfictionTrezentos e Sessenta e Cinco Dias Narrado em primeira pessoa, a trama ocorre com Dulce Maria, uma adolescente de 17 anos, que após a morte de sua avó com quem vivera por anos, se vê obrigada a deixar sua vida e seus amigos em Nova York para viver co...