Capítulo 7 - Parte 3

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Vi Anahí sair pela porta que eu quase quebrei e meu pai se abaixar e se sentar ao meu lado. - Se continuar assim, eu vou ter que te levar a um psiquiatra Dulce. - Ele tentou usar um tom brincalhão, mas sem muito êxito. - Eu sei que é ficícil, mas você precisa ser forte. Isso vai passar. Sua mãe não está aqui, nem sua avó. Mas eu estou. Seus amigos estão do outro lado do país, mas eles ainda estão vivos e continuam te amando meu amor. Você não está sozinha. Nunca esteve.

Por quê? - Perguntei entre soluços. - Por quê elas? Por quê não eu?

Oh filha. A vida é assim. Essa hora vai chegar pra todos nós. Um dia serei eu a partir, depois você, mas pode ser ao contrário. Ninguém sabe. - Ele me puxou e me fez deitar com a cabeça em seu colo. - A vida nem sempre é justa princesa. - Senti suas mãos acariciarem meus cabelos.

No meu caso, ela nunca foi justa. Eu não sei por que eu estou aqui, e pra ser sincera, nessas malditas condições, eu nem queria estar aqui.

Há pessoas com problemas bem maiores que os seus Dulce. E elas nunca desistiram de viver. Elas lutam pela vida. Cada dia que amanhece, essas pessoas agradecem por estar respirando.

Eu daria minha vida pra elas. - Enxuguei meu rosto. Era isso. - Me sentei e dei um sorriso fraco. - Acho que já sei o que eu quero estudar.

O quê?

Quero estudar medicina. Não que seja meu ponto forte, mas quero ajudar crianças com câncer papai.

Não sei se será o melhor pra você filha. Olha só como você está sofrendo por causa dessa maldita doença.

Talvêz seja isso mesmo. Eu quero poder ajudá-las. Eu sei que não poderei salvar todas, mas farei o impossível pra isso. Quero poder fazer por elas, o que eu não tive nem a chance de tentar fazer pela mamãe e pela vovó.

Tudo bem. Se é o que você deseja e vai se sentir melhor com isso, tem meu total apoio. - Ele beijou minha testa.

Papai, queria te pedir um favor. - Mordi o lábio inferior.

Qual?

Bom, não pra mim. Mas para o Poncho e para o Christopher.

Me diga. O que é?

Você disse que tem muito dinheiro, e gostaria de poder pagar a faculdade deles. Sei que o Poncho quer se graduar para poder dar uma vida digna pra Anny. E o Christopher, eu vejo potencial nele. Sei que tudo isso aqui é importante pra você, e até mesmo pra eles, mas acho que eles merecem estudar e se graduar em alguma coisa. Ter um diploma.

Bom, eu fiz graduação e estou aqui. Acho que eles merecem isso sim. Sempre foram estudiosos no colégio. Sempre tiraram boas notas, o Poncho então, nem se fala. Sempre foi o primeiro da turma. Super responsável.

Olha, se você não quiser pagar, eu tenho dinheiro. Bom, toda a mesada que recebi de você durante esses anos nunca foi tocada. Eu posso usá-lo para isso se o senhor permitir.

Guarde seu dinheiro filha. Deixe que eu pago. Depois conversarei com os dois, ver o que eles gostariam de estudar.

Obrigada. - Eu o abracei e fechei meus olhos.

Posso te perguntar uma coisa?

O quê?

Você e o Christopher. O que aconteceu? Eu ouvi a briga lá de dentro. - Engoli seco. Ainda bem que não falei do que houve em São Francisco, porque aí sim eu estaria lascada.

Não quero falar sobre isso. - Respondi depois de alguns segundos. - Não quero falar sobre ele, pode ser?

Tudo bem. - Ele suspirou. - Lembre-se que sou seu pai, e posso ser seu amigo.

Dei uma gargalhada sarcástica e silenciosa dentro de mim. Me imaginei contanto tudo o que já rolou entre Christopher e eu para o meu pai. De duas uma, ou ele era um louco que iria agir como se fosse realmente meu amigo. Ou ele cortaria o amiguinho do Christopher em pedacinhos e ainda daria para os cachorros comerem.

Dulce? - Senti meu corpo tremer quando a voz dele novamente entrou por meus ouvidos. Fechei os olhos o mais forte que pude na esperança de que quando o abrisse ele não estivesse aí.

Agora não Christopher. - Meu pai disse, percebendo que eu não queria vê-lo.

Ela te contou? - Pude imaginar a cara de pavor dele. Quis dar uma risada, mas me contive.

Não contou, mas a idade ainda não afetou minha audição. - Ele disse calmo e eu me encolhi em seus braços.

Eu quero conversar com ela.

Não acho que ela queira vê-lo ou falar com você agora. Ela está no meio de uma crise nervosa. Quem sabe amanhã você conversem.

Mas...

Mais nada Christopher. Respeite a vontade dela tá bom? Eu vou fazer o que puder para ficar neutro nessa história porque ela não quer que eu me meta em seja lá o que for, mas não se esqueça que ela é minha filha e não quero ver ninguém a fazendo sofrer. - Pude sentir um tom alterado nele. Arregalei meus olhos me afastando dele.

Está tudo bem papai. Não será ele – o apontei olhando-o nos olhos. - ou homem algum que terá essa vantagem. - Me levantei. - Me disseram que eu tenho que ser forte. E eu serei. - Fui até a porta que dava para o corredor. - Papai, tem como comprar pizza? Estou morrendo de vontade de comer pizza.

É. É uma boa ideia. - Ele se levantou.

Olhei Christopher em um relapso. Vi que seus olhos estavam mareados e isso foi como uma facada no peito. Anahí surgiu atrás dele com Poncho e dei um sorriso sem graça. Ela já não parecia assustada. Parecia mais preocupada. - Meu pai vai comprar pizza, vocês querem?

Ai eu quero. - Alfonso fora o primeiro a responder.

Eu também aceito. - Anahí disse e envolveu Alfonso com os braços pela cintura.

Tudo bem, eu vou lá comprar. Esperem aqui e se comportem crianças. - Ele saiu rumo ao corredor. Provavelmente fora até a sala pegar a chave do carro.

Está melhor Dulce? - Anahí perguntou.

Sim. Desculpa, eu não queria te assustar e nem gritar com você.

Tudo bem. O importante é que você esteja bem. - Ela soltou Alfonso e veio até mim me dando um abraço. - Conversa com ele. - Ela sussurrou.

Você o chamou? - Ela assentiu enquanto se afastava. A vi pegar a mão de Alfonso e se retirar. Logo depois ouvi o som do motor do carro ligar-se e logo dar partida. Estávamso novamente sozinhos. Tentei não o olhar. Eu não seria capaz. 

[REVISÃO] Trezentos e Sessenta e Cinco Dias VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora