Eu me importo, acredite você ou não. Você é minha filha. A única filha que tenho.
Então quer dizer que se não fosse a única você não se importaria?
Mas é claro que me importaria. Você tem o meu sangue correndo em suas veias. Eu daria a minha vida por você Dulce.
Eu não acredito nisso. - Molho meus lábios secos com a língua. - Não tem um motivo além de termos o mesmo sangue. - Disse seca e fria. - Seus pais não dão nada para te ver feliz, não teria o porque ser diferente. - Cuspi essas palavras ainda de costas para ele. Pra falar a verdade, não fazia ideia de o porque estava falando isso. Queria entender porque fico agressiva quando estou chateada. As pessoas não têm culpa de como a vida me trata.
Eu não sou igual aos meus pais. Se fosse a primeira coisa que teria feito era virar as costas para sua mãe quando soube que ela estava esperando você Dulce. - Senti um tom frio sobre suas palavras.
E porque não o fez? - Me sentei ignorando a dor. - Olha só, eu estaria poupando você dessa preocupação que você diz que sente. Você nem saberia quem eu era. E como bônus ainda teria seus pais com você. - Olhei para cima tentando conter as lágrimas. Eu não entendo porque estou fazendo isso. Fechei meus olhos quando ouvi a porta bater forte. Eu o tinha magoado. O magoei da mesma maneira que magoei a Christopher.
Não tive força para voltar a me deitar. Após mais ou menos uns 15 minutos a porta se abriu. Olhei. Fernando. Ele entrou sem me olhar acompanhado por uma enfermeira, veio até mim e me entregou um papel.
Aqui está sua alta assinada pelo médico. - Ele disse frio. - Te espero na saída. - Ele voltou a se retirar.
Senti um aperto no peito. Queria lhe pedir perdão, mas não sei como fazer isso. Esperei a enfermeira retirar a agulha do meu braço e depois com dificuldade desci da maca.
Precisa de ajuda? - Ela me perguntou terna.
Acho que sim. - Suspirei sentindo meu pé latejar.
Ela me ajudou a trocar de roupa, depois me levou até à saída do hospital. Vi Fernando parado frente à um carro preto. Pensei que ele poderia me ajudar, mas ele apenas entrou no carro. Tive que me tirar sozinha para caminhar alguns poucos passos até o mesmo.
A cada solavanco do carro sob a estrada meu corpo ardia e minha perna latejava de dor.
No hotel também não foi diferente.
Tive que me arrastar até à recepção. E teria ido até o quarto se Christopher não tivesse aparecido, e mesmo sem nem mesmo falar comigo me ajudado a chegar até o mesmo.
Christopher. - Murmurei enquanto elee seguia até a porta para se retirar.
O que foi Dulce? - ele perguntou ainda de costas.
Obrigada.
Mais alguma coisa?
Não. - Me encolhi. - Espera. - Falei logo.
Me desculpa.
Pelo que?
Pelo que disse ontem.
Não tem que se desculpar. Você apenas queria seu espaço e eu o dei.
Olha pra mim. - Pedi. Ou melhor. Implorei. Ele me olhou. Seus olhos tinham um tom avermelhados. - Me xinga, me bate, mas não me ignora, por favor.
As coisas. - Ele deu uma pausa – não acontecem somente quando você quer Dulce.
Eu não vou chorar. Não vou. Não agora. - O que eu preciso fazer?
Nada. Você pediu seu espaço, e eu estou dando.
Eu não quero espaço. Não dessa maneira.
E de que maneira você quer então? - Ele passou as mãos pelo rosto. - Eu não te entendo. Eu queria entender pelo menos uma partezinha de você, do que à dentro de você mas você não permite. - Ele se encostou na porta me olhando. - Você praticamente ensinuou que eu tinha ficado com outra garota. Isso doeu sabia? Eu tenho direito de conversar com quem eu quiser, mas não quer dizer que porque eu estou conversando com uma menina, que eu tenha ido pra cama com ela. Você queria que eu fizesse o quê depois de ser expulso daqui? Ir para o quarto me trancar e ficar olhando para o teto? Eu não sou assim Dulce. Eu tenho uma vida e não pretendo me isolar do mundo apenas porque algo que eu queria saiu errado.
Eu sei que não devia ter te expulsado do quarto. - Falei baixo. - Mas poxa Christopher, eu fiquei sem graça.
Eu entendo que ficou sem graça. Mas não precisava me tratar daquela maneira. Podia apenas ter pedido gentilmente para eu te deixar sozinha um pouco. Eu não iria te tocar se você dissesse que não. Eu não sou desses. Nada comigo funciona à força. Eu realmente quero estar com você. Mas não assim. Sabe qual é o problema? É que você está afastando as pessoas de você. Você tenta achar os seus amigos de Nova York dentro das pessoas que conheceu aqui. Só que você nunca vai encontrar, porque eles sã
o eles, e nós somos nós. Temos habitos totalmente distintos. Eu não sou como esse tal Pablo que você diz que era seu namorado, a Annie e meu irmão não são como seus amigos, e o mais importante, o seu pai, ele não é como sua avó ou sua mãe. Ele é seu pai. Alguém que por muitos anos quis ter o seu amor. Quis te ver crescer, sorrir, chorar, ir nas suas reuniões escolares. Agora ele pode fazer isso, mas tudo o que você faz é magoá-lo. Dizer coisas horríveis. Dulce, as pessoas... - ele buscou fôlego, já que falava praticamente sem respirar. - As pessoas elas também têm sentimentos. Não é só você. Elas têm um coração batendo. Elas sentem amor e raiva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
[REVISÃO] Trezentos e Sessenta e Cinco Dias Vondy
Hayran KurguTrezentos e Sessenta e Cinco Dias Narrado em primeira pessoa, a trama ocorre com Dulce Maria, uma adolescente de 17 anos, que após a morte de sua avó com quem vivera por anos, se vê obrigada a deixar sua vida e seus amigos em Nova York para viver co...