Prólogo: sacrifício em holocausto - Parte 6 de 8

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Foram meses difíceis em alto-mar, mas no final de 1946, Antônio e Genésio Segundo desembarcavam em terras capixabas.

Caminhando pelo novo mundo, para onde Portugal mandara os excluídos do reino e a corja de suas , sentia-se merecedor do chão sobre o qual pisava. O que era ele, se não a escória? Ouvia as pessoas conversando; a língua pelo menos não era estranha. Genésio permanecia calado como fora programado para ficar – se chorasse, logo sentia o apertão de Antônio.

Não demorou muito a ouvir rumores acerca de um lugar chamado Nessuno, sobre o qual os viajantes sempre falavam. Uma cidade no interior, onde você pode viver com seus vícios e segredos, eles diziam. Era o que Antônio buscava. Um dia, após tanto ouvir sobre o lugar, ele se aproximou de alguns homens que falavam sobre, perguntando como poderia chegar lá. Um deles se afastou, puxando Antônio pelo braço, questionando-o sobre alguns . Não, eu não tenho dinheiro. Não, não conheço ninguém nessa terra. Sim, meu sotaque é um pouco estranho. Portugal. Sim é meu filho. Sua mãe morreu. E o homem se interessava mais na conversa. Que isso, meu caro! Tenho certeza que encontrâmo uma maneira d'ocê pagá essa viagem, cumpadi. E Antônio descobriu, ao notar o volume na calça do homem, os pecados que ele buscava. Já não tinha honra, tampouco orgulho; para um estranho que não possuía nada para negociar, engolir um pouco de porra com a bunda não faria mal.

Foram dias de viagem até chegarem à tal cidade; Antônio enfrentou novamente o retorno de sua enfermidade na boca e no pênis, mas já havia aprendido a conviver com a desgraça. Para ele, estava tudo bem.

Uma coisa era verdade, Nessuno de fato tinha uma espécie de aura diferente. Para Antônio pareceu... como um lar. Como uma volta a casa. E por uma fração de segundo, sentiu-se bem.

Antônio visitou o homem que o levara por mais alguns dias. Precisava comer e alimentar o fardo que era seu filho. Em seu tempo livre, explorava as redondezas. E foi no meio do denso cerradão do oeste mineiro, não muito longe da cidade, que encontrou o espaço no qual construiria sua singela casa de taipa com argila, cascalho e madeira, onde morreria quase trinta anos depois, deixando um filho cheio de sequelas psicológicas, lapidadas por suas histórias, em uma cidade onde a maldade sempre encontra formas de se enraizar...

Um Perverso Tom de VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora