Como os caras daqueles livros conseguem ter tanta paciência?, Silas pensava sobre os livros policiais que gostava quando menino.
Fontes compartilhava do mesmo pensamento, mesmo que em menor grau. Aguardavam o fim das aulas na escola Coronel Pacheco dentro da C-10. Havia de fato um belíssimo Dodge Dart negro na porta da escola, no qual dois homens gordos se escoravam, trajando ternos e óculos escuros. Os detetives aguardavam; não podiam agir sem algum motivo. Não queriam fazer nada nem se houvesse motivo! Aquilo não cheirava bem. Nada bem.
No mais, o carro fazia com que Fontes lembrasse de seu próprio veículo, flertando com uma intuição que não fora forte o suficiente para emergir de seu subconsciente.
Não eram videntes, mas sabiam que alguma coisa aconteceria. Sentiam que aquele carro não pertencia a nenhum pai preocupado com os filhos na escola.
Minutos depois, notaram que os homens olhavam para a C-10 com uma frequência cada vez maior. Perceberam que não eram os únicos que estavam impacientes.
– Acho que não estão gostando da nossa companhia – Fontes comentou.
– E o que vão fazer? Chamar a polícia?
Eles se entreolharam e riram, arfando.
No carro observado, um rosto surgiu na janela do lado direito. Um rosto de barba feita com cabelos castanhos que cobriam a testa, olhos escuros e traços fortes. Fontes o observava, sentindo um frio em seu estômago que acusava que aquele era o cara que procurava.
O rosto tornou a sumir.
– Zé! Eles estão entrando no Dodge. Acho que cansaram de esperar antes da gente.
– Vamos atrás desses infelizes – Fontes disse, pousando a mão no ombro de Silas.
– Isso não vai terminar bem... – retrucou Silas, mas deu partida no carro.
Fontes ficou calado, mas pensava da mesma forma.
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Um Perverso Tom de Vinho
Misteri / ThrillerNuma cidade boêmia como Nessuno, tem-se a impressão de que a noite existe para abrigar os fracassos, os pecados e os prazeres mundanos. Esvaziar um copo de bebida quente com a lua dominando o céu torna-se o sentido da vida. Vez ou outra, um novo mem...