Capítulo 42: o medo, a morte e o inferno - Parte 1 de 1

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Um tempo depois do ocorrido, Fontes resolveu deixar a cidade e os seus problemas para trás. Já tivera o suficiente.

Instalou-se em um pequeno sítio nos arredores de Nessuno, onde começou a cultivar hortaliças e cuidar de algumas cabeças de gado e uma pequena criação galinhas. Bebia ao longo do dia e também à noite, vislumbrando a lua. Vivia embriagado, fugindo dos seus próprios medos e de suas obsessões; fantasmas que o perseguiam.

E com o passar dos dias, Fontes começava a recear a morte, lembrando-se do que seu querido pai falava do inferno, da forma como as pessoas eram punidas e do eterno sofrimento. E, chorando, ele se lembrava de sua vida e da morte de todos os seus próximos. Era tomado por ataques de pânico à noite, acordando em berros e sonhando com chamas e com Genésio matando ele e não Silas. Via formas nas árvores do cerrado e saía correndo quando algum animal parava em sua frente. Eram poucos os dias em que ele mantinha a sanidade. E nesses raros dias – nos quais conseguia refletir sobre alguma coisa –, chorando e bebendo sob o luar, ele temia... sentia medo de ser obrigado a reviver os piores dias de sua vida, ter que passar por tudo de novo, repetidamente, por toda maldita eternidade, como um agonizante círculo sem fim no qual era obrigado a reviver seus fracassos e suas decepções...

E quem de nós não sente o mesmo?

Um Perverso Tom de VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora