Capítulo 3: um cavalheiro em toda a extensão da palavra - Parte 1 de 3

186 25 1
                                    

Ao acordar, sua cabeça doía, mas isso não era motivo para se lamentar; pelo contrário, muita gente mataria pelo luxo de poder acordar de ressaca dia após dia. O quarto de Fontes possuía o cheiro forte e penetrante de álcool, tabaco, sexo e perfume amadeirado. Ademais, já se passava de meio-dia e ele ainda estava na cama (e acompanhado); não precisava se escravizar pela manhã para conseguir um mísero salário. Somando-se todos os fatos, era um dia do qual não poderia reclamar.

Fontes se pôs de pé, nu, retirando o oleoso cabelo castanho da testa, e caminhou para o cômodo ao lado, a sala/cozinha que, junto ao banheiro, concluía o espaço de seu retiro. O aposento situava-se no terceiro andar de um prédio no centro e possuía grandes janelas na sala que tornavam possível, querendo ou não, a exposição da vida entre os moradores. Uma de suas vizinhas, que vivia no prédio ao lado, debruçada na janela, sorriu ao vê-lo caminhando sala. Ele retribuiu o sorriso e acenou, continuando seu caminho. Ainda havia um pouco de conhaque sobre o balcão. Serviu-se de um longo gole direto da garrafa e foi até o fogão preparar ovos mexidos.

Não pensava sobre o desaparecimento das crianças, o que era compreensível, visto que estava nu frente ao fogão, preparando sua primeira refeição com um gosto amargo de conhaque e um cigarro na boca, lançando as cinzas ao chão.

Um Perverso Tom de VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora