A mão doía. Não teria seus dedos de volta. Não teria Silas de volta. Nem Roberta. Nem Ana.
Sozinho no mundo... um miserável tachado de herói por alguns e reconhecido como o pobre solitário, que de fato era, por outros.
Noite após noite, José Fontes bebia. Isso era o que lhe restava, afinal. A maconha já não lhe fazia bem, apesar de os cigarros certamente terem aumentado. Cocaína para quê? Para se entorpecer em seu individualismo forçado? Afastara-se da polícia e do Suíço, que sempre sorria ao vê-lo – e Fontes sabia que havia uma linha tênue entre um sorriso e dois dedos a menos.
Sua vida se resumia a acordar já tarde, beber na Lúcia, beber no Carlão, e voltar pela manhã. O dinheiro era curto; uma aposentadoria forçada por não conseguir mais manusear uma arma, mas mantinha as bebidas e os cigarros.
Uma noite, voltando da Lúcia para sua casa, deparou-se com todos os móveis da casa revirados. Suas roupas, seu rádio. Tudo. Com o susto, mal notou a presença dos homens, que o atacaram; Fontes tentou revidar, mas para quê? Eram cinco homens que possuíam o dobro de seu tamanho e todos os dedos.
Não houve diálogos, apenas sons de coisas sendo quebradas e de socos e chutes.
Fontes, deitado no chão, questionava-se por que aquilo havia acontecido. Contabilizava três dentes quebrados ou perdidos e, pelo menos, duas costelas injuriadas.
A pancadaria parou e os homens abriram espaço para o pequeno Suíço passar; Tales, o sobrinho de Max. Fontes, com os olhos semicerrados pelo inchaço, que pintava seu rosto de roxo e vermelho, o reconheceu.
– Você achou que tudo que aconteceu ficaria por isso mesmo, filho da puta? – Tales perguntou e em seguida cuspiu no pobre homem, que virou o rosto, mudo. O rapaz se agachou. – Você pode ser a porra de pessoa que for, mas escute, se algum dia eu te ver, mesmo que seja de relance, isso vai acontecer de novo... e de novo... até que você vire pó, entendeu? Já pode encomendar seu caixão, desgraçado.
Fontes balançou a cabeça em afirmativo. Apenas queria que parassem... não aguentava mais dor.
Tales se levantou, chamando seus camaradas para se retirarem, deixando a sombra do que um dia fora um homem para trás.
Fontes chorava.
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Um Perverso Tom de Vinho
Mystery / ThrillerNuma cidade boêmia como Nessuno, tem-se a impressão de que a noite existe para abrigar os fracassos, os pecados e os prazeres mundanos. Esvaziar um copo de bebida quente com a lua dominando o céu torna-se o sentido da vida. Vez ou outra, um novo mem...