Um Perverso Tom de Vinho

Capítulo 11: adentrando o cerrado com os caipiras - Parte 2 de 2

Os índios continuavam a nadar no lago, alheios aos problemas e obrigações dos homens civilizados que agradam pessoas que odeiam para manterem seus postos em empregos que detestam para comprar coisas que não lhes serão úteis e presentear os cônjuges que juraram amar para sempre após traí-los na noite anterior, bebendo o álcool e cheirando o pó que muito provavelmente os matarão.

Quanta civilização!

– Senhores, muito obrigado por nada! – Fontes disse ao chegar na C-10, entrando e ligando o motor.

– Mas... mas, sinhô... – Uílson ousou dizer, percebendo a situação. – Como vamos embora daqui?

Uílton trocava os olhares entre o detetive (o miserável que ia deixá-los ao relento) e seu amigo assustado, sujo de bosta e mijo.

– Bom... – Fontes acelerou sua caminhonete, dando a volta. – Acho que uma boa caminhada será uma ótima coisa pra aprenderem a não mentir para as autoridades – sorriu.

– Mas... mas...

– Até mais, senhores! – A C-10 se distanciava. – Obrigado pela tarde!

Viam o dedo do meio erguido para fora da janela; um aceno de despedida.

– DISGRAMADO! – Uílson extravasou. – FÍO DE UMA QUENGA BOQUETEIRA!

– O que vamo fazer agora, Ílso? – Uílton o olhava, desiludido. O cheiro de bosta e mijo era muito forte.

– Eu conheço um pessoal duma fazenda aqui perto. Eles podem levar nóis na cidade por um precinho camarada.

Uílton olhava para os índios no lago, que pareciam ter parado de nadar para sorrir para eles. Feiticeiros e canibais!, lembrava-se das palavras.

– Se a gente for agora, chegamos lá antes de anoitecer... ainda dá até pra tomar uma – Uílson continuou.

– Uai, vâmo logo então, Ílso, que os infelizes de tanguinha estão de olho em nóis.

– Vâmo! Por aqui...

E os dois, por mais que odiassem a ideia, adentraram o cerradão pela segunda vez naquele dia.