O tesão era tanto que já começaram a transar na sala e por lá ficaram um bom tempo. As posições e os gemidos se alteravam à medida que a relação carnal ganhava força. A janela estava aberta para quem quisesse ver, e pode apostar que alguns viam – escolhiam o momento para se tocarem, ou simplesmente não se importavam com o que acontecia.
Ao fim, Ana disse três palavras para Fontes. Talvez as três menos ditas em Nessuno.
– Zé... – ainda estava com o membro molhado de sêmen dentro de si. – Eu te amo.
O que ela quer dizer com isso?
Foi quando começaram as batidas na porta, impedindo Fontes de dar-lhe qualquer resposta ou questioná-la sobre as gotas vermelhas no rosto, agora que o próprio sangue fluía para sua outra cabeça. Ele apenas a olhou, boquiaberto. Ela ainda nua; ele com as calças nos tornozelos.
As batidas insistiam e ganhavam força.
– ZÉ! – Era Silas. – Zé, porra! Abre esse caralho de porta! – e as batidas continuaram.
– Eu... – Fontes balbuciou, mas se virou sem completar o que quer que fosse dizer. – Já tô indo!
– Rápido, caralho! – As batidas pararam.
O detetive seguiu aos pulos para a porta, levantando a calça. Abriu, depois de afivelar o cinto. Ana continuava nua frente à janela, muda, acendendo um cigarro.
– Zé – Silas foi entrando e notou a mulher. – Olá, Ana e olá, tetas da Ana. É bom ver vocês – disse e se voltou para Fontes. – Cara, ela tá morta.
– Quem?
– A mulata que você fodeu! Como quem? – olhou para Ana e suspirou. – A pobre coitada que nos mostrou aquela escola.
– Roberta...?
Silas assentiu, voltando os olhos para os peitos de Ana. Não importava a situação, e até tentava evitar, mas peitos eram peitos.
– Onde? – Fontes insistiu. – Onde encontraram ela?
– Em frente ao boteco do Danilo.
– Vamos logo então, infeliz. – Ele pegou o amigo pelo braço, puxando-o.
– Você tá zoando, né? Vamos deixar isso quieto como deveríamos ter feito desde o começo!
– Nem fodendo – Fontes respondeu, saindo. – Se quiser, fique aí... – Olhou para Ana, abriu a boca para falar, mas não soube o que dizer. Porra! Havia algo de muito sinistro no sorriso dela, algo que o assustava um pouco, como se ela exalasse o espírito daquela cidade maldita. Claro que não o assustava tanto quanto aquelas três palavras.
Silas ficou parado por um momento, encarando os seios de Ana.
– Você quer... – ele começou a dizer, mas a mulher pegou uma garrafa de Presidente vazia ao lado e lançou em sua direção. – Certo! CERTO! – ele se abaixou. – Entendi, caralho! – disse ele, saindo e batendo a porta atrás de si. – Zé! – Ouvia os passos ligeiros pela escada. – Puta merda! Me espera, infeliz! – gritou, começando a correr atrás dele.
No quarto, sozinha, Ana começou a gargalhar, encolhendo-se aos poucos, escorregando pelo vidro da janela até o chão, onde ficou sentada com as pernas esparramadas e o sexo exposto. Lágrimas escorriam de seus olhos, juntando-se ao suor e às gotas de sangue.
Ela amava o seu Detetive. Um sentimento doentio que aflora em amores insanos; os franceses têm uma expressão para isso: amour fou. Como diria o grande detetive Philip Marlowe, os desgraçados dos franceses têm uma frase para tudo e estão sempre com a razão.
Ela era capaz de fazer qualquer coisa para ficar com ele.
Qualquer coisa.
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Um Perverso Tom de Vinho
Mystery / ThrillerNuma cidade boêmia como Nessuno, tem-se a impressão de que a noite existe para abrigar os fracassos, os pecados e os prazeres mundanos. Esvaziar um copo de bebida quente com a lua dominando o céu torna-se o sentido da vida. Vez ou outra, um novo mem...