Capítulo 19: amour fou - Parte 3 de 3

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O tesão era tanto que já começaram a transar na sala e por lá ficaram um bom tempo. As posições e os gemidos se alteravam à medida que a relação carnal ganhava força. A janela estava aberta para quem quisesse ver, e pode apostar que alguns viam – escolhiam o momento para se tocarem, ou simplesmente não se importavam com o que acontecia.

Ao fim, Ana disse três palavras para Fontes. Talvez as três menos ditas em Nessuno.

Zé... – ainda estava com o membro molhado de sêmen dentro de si. – Eu te amo.

O que ela quer dizer com isso?

Foi quando começaram as batidas na porta, impedindo Fontes de dar-lhe qualquer resposta ou questioná-la sobre as gotas vermelhas no rosto, agora que o próprio sangue fluía para sua outra cabeça. Ele apenas a olhou, boquiaberto. Ela ainda nua; ele com as calças nos tornozelos.

As batidas insistiam e ganhavam força.

ZÉ! – Era Silas. – Zé, porra! Abre esse caralho de porta! – e as batidas continuaram.

– Eu... – Fontes balbuciou, mas se virou sem completar o que quer que fosse dizer. – Já tô indo!

– Rápido, caralho! – As batidas pararam.

O detetive seguiu aos pulos para a porta, levantando a calça. Abriu, depois de afivelar o cinto. Ana continuava nua frente à janela, muda, acendendo um cigarro.

– Zé – Silas foi entrando e notou a mulher. – Olá, Ana e olá, tetas da Ana. É bom ver vocês – disse e se voltou para Fontes. – Cara, ela tá morta.

– Quem?

– A mulata que você fodeu! Como quem? – olhou para Ana e suspirou. – A pobre coitada que nos mostrou aquela escola.

Roberta...?

Silas assentiu, voltando os olhos para os peitos de Ana. Não importava a situação, e até tentava evitar, mas peitos eram peitos.

Onde? – Fontes insistiu. – Onde encontraram ela?

– Em frente ao boteco do Danilo.

– Vamos logo então, infeliz. – Ele pegou o amigo pelo braço, puxando-o.

– Você tá zoando, né? Vamos deixar isso quieto como deveríamos ter feito desde o começo!

– Nem fodendo – Fontes respondeu, saindo. – Se quiser, fique aí... – Olhou para Ana, abriu a boca para falar, mas não soube o que dizer. Porra! Havia algo de muito sinistro no sorriso dela, algo que o assustava um pouco, como se ela exalasse o espírito daquela cidade maldita. Claro que não o assustava tanto quanto aquelas três palavras.

Silas ficou parado por um momento, encarando os seios de Ana.

Você quer... – ele começou a dizer, mas a mulher pegou uma garrafa de Presidente vazia ao lado e lançou em sua direção. – Certo! CERTO! – ele se abaixou. – Entendi, caralho! – disse ele, saindo e batendo a porta atrás de si. – Zé! – Ouvia os passos ligeiros pela escada. – Puta merda! Me espera, infeliz! – gritou, começando a correr atrás dele.

No quarto, sozinha, Ana começou a gargalhar, encolhendo-se aos poucos, escorregando pelo vidro da janela até o chão, onde ficou sentada com as pernas esparramadas e o sexo exposto. Lágrimas escorriam de seus olhos, juntando-se ao suor e às gotas de sangue.

Ela amava o seu Detetive. Um sentimento doentio que aflora em amores insanos; os franceses têm uma expressão para isso: amour fou. Como diria o grande detetive Philip Marlowe, os desgraçados dos franceses têm uma frase para tudo e estão sempre com a razão.

Ela era capaz de fazer qualquer coisa para ficar com ele.

Qualquer coisa.

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Um Perverso Tom de VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora