Capítulo 16: segunda-feira - Parte 2 de 2

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Os detetives pararam para abastecer a C-10 em um dos dois postos da cidade; gostavam mais do posto que ficava próximo da saída para a parte rural do município, pois conheciam o dono. Havia duas bombas de combustível; na segunda um homem grande e gordo enchia um galão com querosene, enquanto o jumento semimorto aguardava seu dono, preso junto à carroça ao lado. O homem estava sujo e era possível sentir um fedor emanando de sua figura.

Mas... por que um caipira desgraçado compraria tanto querosene andando de carroça? Por quê? E a pulga começava a pular atrás da orelha de Fontes.

– Ei! – ele gritou para o homem, que olhou em sua direção. Havia algo coisa na boca, Fontes pensou, provavelmente herpes ou... não... ele tinha o lábio rachado. Fontes não conseguiria dizer o que seus olhos demonstravam, mas era um tipo de olhar vazio, oblíquo e nublado, como se o homem observasse o mundo de outra forma.

Silas chegou vindo do barzinho ao lado com um par de latas de Skol geladas e o caipira corpulento se distanciou de seu olhar. Ele estava usando sapatos? Quando olhou para o lado de novo, viu que o homem subira na carroça e seguia seu caminho.

Esses caipiras são mesmo estranhos...

– O que houve, Zé? – Silas deu um gole na cerveja, abrindo a porta da C-10. – Parece que viu a morte, cara.

(E talvez tenha visto.)

Nada... – disse, voltando os olhos para a esquina, observando a carroça sumir de vista. Nada.

Sentiu então a mão do amigo sobre seu ombro. Este lhe entregou a cerveja, encarando-o como se dissesse: a gente tem mesmo que fazer isso? Zé, a gente tem mesmo?

Fontes bebeu metade da lata em um gole. A recente visão do homem fora empurrada para tão longe em sua mente que se tornou apenas uma imagem ofuscada. Ele se lembrava das palavras de Roberta... dos homens que aguardavam na porta da escola...

Ele assentiu, entrando no lado do passageiro. Sua consciência dizia que sim, eles tinham mesmo que fazer aquilo.

E por um momento, o cheiro do homem voltou a suas narinas. Como um déjà-vu. Um sinal. Como um detalhe que os grandes detetives ingleses do passado não deixariam passar.

Mas, mesmo inquieto, seguiu com Silas para a Coronel Pacheco. Os dois pensavam no rosto do Suíço. Nos olhos do Suíço.

Um Perverso Tom de VinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora