Capítulo 3

661 46 7
                                    

O barulho da porta batendo contra a parede soa mais alto do que eu esperava quando entro no escritório do meu pai. Eu poderia esperar um tempo para poder falar com ele, mas estou esperando desde ontem a noite e não aguento mais. Preciso entender o motivo dele ter contratado o Chris sabendo de tudo o que aconteceu entre mim e ele.

- Elena? O que houve, minha filha? - ele me olha preocupado e eu me apoio sobre a grande e gelada mesa de madeira.

- Por que não me contou que trabalha com o Chris? - seus olhos se arregalaram e ele respirou fundo.

- A sua mãe realmente não consegue guardar segredo, não é? Ela tinha que dizer que o Chris é o capataz da fazenda. - abro a boca em choque.

- Ele é o capataz? - me afasto. - Papai, você se lembra que o Chris é o meu ex namorado? Sabe, aquele que quebrou meu coração em vários estilhaços?

- Filha, eu sei e acredite, eu entendo você. - se levanta. - Mas quando o Rodrigo morreu, a dona Nina e o Chris ficaram com dívidas, então eu quis ajudar. Eu ofereci esse emprego para ajudar ele financeiramente, e o rapaz me saiu tão bem que foi crescendo por si próprio. - suspiro. - Eu entendo que tenha raiva dele. Deveria ter mesmo, porém, a família dele sempre te acolheu como se você fizesse parte realmente daquela família. Me senti em dívida com eles.

- Isso não é justo. - me jogo na cadeira. - Eu entendo você e sei que tem razão mas não é justo que o Chris continue me assombrando mesmo depois de 10 anos. - bufo. - Se passaram a porra de 10 anos, pai.

- Sente algo por ele, filha? - raiva.

- Nada. - digo.

- Isso é bom, porque não vou permitir que ele se aproxime de você novamente. Se ele sequer pensar em se aproximar de você, eu mato ele. - eu ri mas cessei quando percebi que ele estava falando sério.

Meu pai é bem das antigas, ele é realmente capaz de matar qualquer um que ouse magoar os sentimentos das suas duas princesinhas.

- Ah, você está falando sério, né?

- Claro que estou. - ele dá a volta pela mesa e para atrás de mim. - Não vou deixar mais nenhum marmanjo magoar você, filha. - passa os braços em volta do meu pescoço em um abraço.

- Eu sei. - respiro profundamente. - Eu sei.

Fazem exatamente duas horas que estou andando sem parar. Minha mãe parece ainda não estar convencida de que já experimentamos todas as roupas de todas as lojas que existem nessa pequena cidade. Acho que nunca procurei tanto por um vestido em minha vida, na verdade, o primeiro vestido que eu havia experimentado eu já teria comprado mas a dona Evelyn Hockifiel exige que as coisas sejam divinamente maravilhosas. O vestido para comemorar a minha chegada - não tão importante assim - tem que ser um perfeito e que mostre o quanto estou "linda", palavras da minha mãe.

Sinceramente eu amo a minha mãe, mas de todos os seus defeitos, acho que os que eu menos gosto é da mania de perfeccionismo. Isso de querer tudo perfeito a todo momento é algo que realmente não me agrada, quer dizer, eu acho que se eu colocar uma calça comprida, uma blusa qualquer uma bota de couro já estou pronta para a festa, mas não, eu tenho que usar um vestido bonito e exuberante que brilhe mais do que as luzes da cidade de Nova York.

- Mãe, eu cansada. - Ann reclamou.

- Estou. - a corrigiu.

- Eu também estou cansada. - murmurei. - Podemos voltar para casa?

- Deus! Vocês parecem duas crianças. - revira os olhos. - Vamos apenas naquela loja no final da rua e voltamos para casa.

- O que aconteceu com o Heitor? - questiono.

Heitor era o motorista da mamãe, ela não saía de casa sem ele porque ela detesta andar a pé, mas pelo tanto que andamos hoje tenho quase certeza que algo não muito bom aconteceu com ele.

- Ele saiu por alguns dias porque teve problemas familiares. - tira seu óculos de sol. - Acho que vou pedir para o seu pai nos buscar porque não aguento mais andar.

- Podemos pedir um táxi. - Ann diz como se fosse óbvio.

- Claro que não, Anne. - mamãe esbraveja. - Táxi é perigoso, menina. Podemos ser assaltadas. - agora é a minha vez de revirar os olhos.

- Corremos mais risco de sermos assaltadas agora do que dentro de um táxi.

- Não vamos pegar um táxi, Elena. - dá a última palavra.

Dou graças a Deus quando finalmente chegamos na loja. O ar condicionado me faz querer morar aqui dentro, porque o sol lá fora não está para brincadeira não.

- Boa tarde! - uma atendente ruiva com um sorriso meigo nos atende. - Posso ajudar?

- Sim. - minha mãe sorri. - Quero o vestido mais bonito que tiver e mais caro também.

- Mamãe. - a repreendo. - Na verdade, queremos o vestido mais simples apenas.

- Simples? - minha mãe ri. - Não mesmo.

- Mãe, a festa é para mim, me deixe escolher o vestido. - peço.

- Filha, você não vai escolher um vestidinho barato. - diz.

- Vestido. - Ann corrige.

- Nós temos um vestido muito bonito e um preço médio. - diz a atendente.

- Perfeito! - sorrio. - Me mostra?

- Claro, me acompanhe por favor. - a sigo pela loja enquanto minha mãe e irmã ficam a procura de outro vestido para as duas.

Logo a atendente pega um vestido incrivelmente lindo.

- É ele, sem dúvida! - ouço a voz da minha mãe atrás de mim. Não sei nem da onde ela surgiu.

- Temos que admitir que você ficará linda nesse vestido. - Ann elogia.

- Você pode experimentar no provador, se quiser. - diz a atendente e eu assinto.

Tenho certeza que se eu usar esse vestido, vou causar uma ótima impressão nas pessoas dessa cidade e principalmente, naquelas que um dia riram de mim por ter sido a idiota traída. Agora que estou de volta, por que não me divertir um pouco com quem riu de mim? Tenho certeza que a Lorena vai amar me ver.

Ou não.

Reencontrar Você Onde histórias criam vida. Descubra agora