Capítulo 25

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O frio na minha barriga foi instantâneo. Eu realmente senti medo de que o Chris pudesse perder o emprego, então ele e dona Nina ficariam afogados de dívidas e seria tudo a minha culpa. Eu não queria isso. Por que? Bom, eu amo a dona Nina como se fosse uma segunda mãe, acho que já deixei isso bem claro. Não quero que ela passe por problemas por minha culpa, eu jamais me perdoaria. A coitada já tinha a morte do marido para lamentar durante toda a sua vida, não precisava de mais peso em suas costas. Além de injusto, seria inaceitável da minha parte.

Droga! Não é totalmente minha culpa, esse idiota que ficou me agarrando — sem meu consentimento — na frente da fazenda dos meus pais. Eu não vou me culpar por isso, afinal, se ele perder o emprego é culpa dele. Não foi ele mesmo quem disse que não ligava? Então... Dane-se! É, eu sei. É difícil eu xingar, só o faço quando estou perto do Chris porque ele acha que manda em mim e não manda. Ele diz que odeia minha "boca suja", mas eu também odeio a dele, então estamos quites, não?

- Anne! – soltei o ar pela boca ao encarar a minha irmã.

- Meu Deus! – ela leva uma de suas mãos à boca e começa a rir. – Eu sabia que isso iria acontecer. Só não imaginei que seria no portão de casa, imagina se o papai visse? Imaginaram?

- Bom, eu...

- Você vai embora, Christopher. – o interrompi. – Por favor.

Ele parecia contrariado porém não quis discutir por algum motivo desconhecido. Então ele assentiu e saiu.

- Nenhuma palavra. – olhei ameaçadoramente para a minha irmã e entrei em casa.

- Muitas palavras. – disse atrás de mim. – Vocês voltaram? Quando?

- Nós não voltamos. – subi as escadas. – Nunca voltaremos.

- Mas vocês se amam. – ri amargamente.

- Eu não o amo.

- Quer mentir pra quem? Porque a mim você não engana. – entrei no meu quarto e parei na porta, impedindo sua passagem. – Por falar em enganar, a sua amiga ruiva foi embora porque mentiu para a mãe sobre onde estava. Mas não vamos mudar de assunto, porque há algo entre você e o Chris.

- Faz um favor pra mim, cuida da sua vida. – fechei a porta.

Droga! Será que Anne vai contar para papai e mamãe o que viu? Se ela o fizer, Chris vai passar por muitos problemas. Mas isso não me importa, o que importa mesmo é a dona Nina. Eu preciso conversar com a minha irmã caçula, mas depois de ter fechado a porta na cara dela, acho que ela não vai querer saber de acordos.

- Nossa! Que estresse. – viro-me para trás e vejo minha amiga lendo algo em um diário.

Espera! É o MEU diário.

- Hey! – vou até ela e pego o diário de sua mão. – Onde achou isso?

- No fundo das suas roupas.

- Estava mexendo nas minhas roupas?

- Sim. – dá de ombros. – Estava escolhendo o look certo para você e eu irmos até a festa dos irmãos Jackson.

- Irmãos Jackson? – me sento ao seu lado na cama. - Mas e o Rafa? Você não gostou dele?

- Sim. Sabe aquele gatinho que conheci no Dallas? Então, ele tem um irmão e vai dar uma festa no hoje a noite, é claro que nós vamos. – ela olhou para mim – E quanto ao seu amigo, ele é gatinho até mas parece emocionalmente complicado. Estou fugindo desses homens.

- Complicado? O Rafa é o maior tarado que já vi na vida.

- Ele não é, ele se faz. Porque no fundo, ele quer esquecer algo ou alguém e por isso ele pega todo mundo. Mas quando uma pessoa é tarada de verdade, ela nasce assim. Já ele, posso garantir que não nasceu assim. – encolhe os ombros quando eu a encaro chocada. – Eu aprendi isso com o tempo. E claro que aquela noite no Dallas ajudou muito.

- Por falar daquela noite no Dallas...

- Eu sei. – me interrompe. – Mas depois de tudo o que aquele cowboy arrogante, ciumento e possessivo me disse, eu percebi que vocês eram o casal perfeito. E acho que você deveria escutá-lo.

- O que ele te disse?

- Nada demais. – se levanta. – Nos vemos mais tarde.

- Nos vemos mais tarde nada. Você vai me dizer o que ele... – antes que eu termine de falar, ela sai fechando a porta atrás de si.

Ótimo! Agora estou curiosa. O que será que ele disse pra ela? Deve ter sido algo convincente para contar com a ajuda da desmiolada da minha amiga. Mas dane-se! Eu não ligo. Não sei as intenções do Chris, mas sei que não vou cair nessa conversinha dele. Esse cretino não vai me enganar, não de novo.

E agora eu tenho dois convites para essa noite. O "lugar especial" com Chris e a festa dos Jackson com a minha amiga. Quando foi que eu fiquei tão solicitada? Se bem que, desde que cheguei aqui eu não paro de sair. Meus pais já devem estar achando que eu vim para cá para passar mais tempo na rua do que em casa. Mas na verdade, eu até que pensava que aqui não teria diversão alguma e está sendo bem diferente do que pensei. E bem melhor também...

(...)

- Como vão as mulheres mais lindas do mundo? – papai questiona ao entrar dentro de casa.

Minha mãe, minha irmã e eu que estávamos na sala assistindo um programa qualquer, sorrimos para ele. Ele deu um beijo na testa de cada uma e se sentou na sua poltrona. Uma conversa a qual eu não estava prestando atenção se iniciou e eu apenas conseguir entender os murmúrios e as risadas. Na verdade, eu ainda estou curiosa com o que a July disse. O que será que o Chris falou? Vai ver ele realmente não deve ter dito nada demais, apenas a minha amiga que, é românica em relação à vida dos outros, deve ter imaginado uma história de conto de fadas e por isso deve o estar ajudando.

Traidora!

O que posso fazer? Eu a queria aqui para que pudéssemos nos divertir juntas como fazíamos em New York, mas não sei porquê ela resolveu ficar do lado do meu ex namorado traidor. Não tem importância também. Eu sei que pode acontecer o que for, passar o tempo que for, e embora o sentimento continue, eu jamais iria voltar com o Chris. Não teria coragem. Ficaria paranóica, porque não conseguiria confiar nele e nossas vidas seriam um inferno. Um total inferno. Mas olha só pra mim, falando como se algum dia durante esses 10 anos realmente tivesse passado pela cabeça do Chris que poderíamos voltar algum dia. Aposto que ele deve estar feliz com aquela Lorena arrastando um avião por ele, ou as outras mulheres fáceis que não tem um pingo de vergonha na cara. Eu acho que preciso mesmo sair e distrair a minha mente. Voltar para cá trouxe muitos sentimentos a tona de uma vez só e isso está me enlouquecendo. Talvez essa festa com o ficante da July seja divertida e eu possa esquecer um pouco dessa neblina que está me cercando. Inclusive, daquela noite que nunca deveria ter acontecido. Ou melhor, que nunca mais vai se repetir. Nunca mais.

- Elena? – ouço meu pai me chamar e o olho.

- Sim, papai?

- Eu disse que teremos um jantar de negócios aqui em casa hoje. Espero que não se incomode.

- Sem problemas. – sorrio. – Eu fico no meu quarto.

- Estava no mundo da lua? – Anne questiona. – Ouviu o que papai disse à minutos atrás?

- Não. O que ele disse?

- Todos temos que participar, filha. – minha mãe faz uma expressão entediada. – Inclusive eu.

- Mas por que? – pergunto desanimada.

Essas reuniões devem ser chatas.

- Porque sim, filha. – papai responde. – Quero causar uma boa impressão. E será mais um jantar do que uma reunião.

- Quando será?

- Deus, Elena! – Anne exclama. – Você ouviu alguma palavra do que papai disse?

- Responde logo. – bufo.

- Amanhã à noite, maninha.

Ótimo! Tenho algumas horas antes de passar a noite mais entediante da minha vida.

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