Tragédia dos 15

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Na vida todos temos padrões a serem seguidos, regras impostas pela sociedade. Você já é amado desde o ventre de sua mãe, quando depois de muitos sintomas ela descobre sua existência. Nove meses passam muito rápido, num piscar de olhos e a natureza inicia o trabalho de parto. Você nasce, abre os olhinhos, prova do leite materno e se torna dependente desse alimento por seis meses ou mais, seus primeiros dentinhos começam a nascer e sua mãe acrescenta frutas e legumes em sua alimentação, ao longo dos meses você começa a engatinhar e depois de alguns tombos, acontece seus primeiros passos. Seus pais e familiares tiram fotos e postam nas redes sociais, "papai" é sua primeira palavra pronunciada e ele orgulhoso de ter um espaço só dele em seu coraçãozinho, te presenteia com uma bola e te incentiva a jogar futebol. E se você for uma linda menina, sua mãe te dá uma boneca, para que tudo que você aprendeu com ela durantes seus aninhos de vida você volte a repetir. E quando isso acontece sua boneca se torna sua filha.

Fernanda Monteze Cunha, também foi educada dessa maneira e crescia feliz se descobrindo cada dia mais, acompanhando a lei da vida.

A mansão da família Monteze estava repleta de convidados, haviam garçons equilibrando bandejas cheias de bebidas por toda a parte.

Uma linda garota de cabelos encaracolados cor de mel desfilava pelo imenso salão com seu vestido rodado de princesa, a coroa de prata que usava em sua cabeça lhe dava um toque majestoso, seus olhos brincalhões procuravam seus amigos por toda parte da casa, e no centro da imensa sala luxuosamente decorada com balões coloridos e docinhos variados, lá estava ele a segunda maior atração da festa, o famoso bolo de cinco andares e em seu topo uma vela composta por dois números, naquele dia Fernanda estava comemorando mais uma etapa de sua vida, seu tão sonhado 15 anos.

- Filha querida, chegou a hora de cortar seu bolo, vamos? - Liliana atenciosa instruí sua filha, segurando em seus ombros:

- Vamos mamãe, mais cadê o papai?

- Eu não sei, já faz tempo que não o vejo.

- Já sei, eu vou procura-lo no escritório, ele deve estar por lá trabalhando como sempre, você sabe como ele é dedicado.

-É, eu sei sim meu anjo...Só não demore muito é deselegante deixar seus convidados esperando.

- Eu vou num pé e volto no outro, não vai cortar meu bolo sem mim hein!?

- Não, não. Eu vou te esperar aqui, eu prometo.

- Eu te amo, mamãe, estou adorando minha festa de aniversário!

Depois de depositar um beijo estalado na bochecha de sua mãe, Fernanda sobe as escadas caminho ao escritório a procura de seu pai.

Na mansão havia bastante cômodos e cada um deles eram decorados caprichosamente pelo bom gosto de Liliana, Augusto Cunha, havia escolhido o último cômodo a direita para montar seu escritório, assim ficaria livre de todo e quaisquer barulhos que sua família ou empregados pudessem fazer. Ao chegar ao topo da escada Fernanda sai correndo em busca de seu pai e se aproximando do escritório a garota abre a porta e entra sem bater:

- Papai?

A expressão de susto estampada no rosto da adolescente era palpável, a cena que acabará de ver havia atingido seu emocional de uma forma desconfortavelmente triste, afinal flagrar seu pai aos beijos com sua estagiária novinha não era nem de longe um presente agradável de aniversário, na opinião da adolescente.

- Filha, Nanda não é nada disso que você está pensando.

Augusto se afastando de Vivian, tenta se livrar do borrão de batom vermelho que sua amante havia deixado em seus lábios, enquanto se explicava para a filha:

- Eu não estou pensando nada papai, eu vi, eu não acredito que você está traindo minha mãe com essa vagabunda aí.

- Não, filha, pelo amor de Deus, não me entenda mal, não é bem assim.

Augusto segura no braço da filha, com intuito de mante-lá por mais tempo ali. Mais puxando seu braço bruscamente Fernanda diz com a voz embargada:

- Não toca em mim papai, eu tenho nojo de você, tenho nojo de vocês dois.

- Filha espera.

Depois de gritar com seu pai e deixar as lágrimas de decepção rolarem em seu rosto, Fernanda sai correndo, Augusto correria atrás dela se não fosse impedido por Vivian que o segura pela mão, sua expressão era pavorosa:

- E agora, o que nós vamos fazer?

- Eu vou procurar minha filha e tentar convence-lá de que tudo foi um mal entendido. Quanto a você é melhor que você vá para a casa.

- Mais, mais como eu vou sair daqui? Tem centenas de convidados lá embaixo?

- Sai pelos fundos, assim que eu descer para a sala você sai, ninguém vai notar sua saída.

- Ta, tudo bem. Me desculpa Guto eu não quis estragar tudo!

Vivian se desculpa usando sua voz mais sedutora. Augusto consente com ela segurando em seus ombros carinhosamente:

- Depois nós conversamos.

Na sala Liliana juntamente com todos os convidados e fotógrafos esperavam ansiosos por Fernanda e seu pai, quando um grito de desespero chama a atenção de todos atraindo seus olhares para o topo da escada:

- Me solta, eu não quero mais falar com você, nunca mais.

- Fernanda você precisa me ouvir, o que você viu em meu escritório foi um pequeno mal entendido minha filha. A Vivian estava mal por ter terminado com o namorado eu só quis ajudar, então a abracei.

- Eu não sou mais uma criança papai, eu sei muito bem diferenciar um beijo na boca cheio de paixão com um simples abraço de consolo.

Os gritos de pai e filha eram capazes de serem ouvidos da sala e quando Liliana ouve parte da discussão fica perplexa e subindo as escadas começa a interrogar o marido:

- O que eu acabei de ouvir Augusto? Você está me traindo com a sua estagiária? Mas, mas... Ela é apenas uma adolescente, poderia ser sua filha.

- Liliana, meu amor, eu posso explicar tudo, eu te garanto que tenho uma explicação óbvia para tal fato...

Os flashes das câmeras dos fotógrafos começaram a piscar, chamando a atenção da aniversariante, que num momento de surto desce as escadas correndo e agredindo a todos os fotógrafos que ali estavam, quando começa a expulsar cada um deles juntamente com seus convidados:

- Fora daqui, fora da minha casa, o show acabou, nunca mais vai ter festa aqui nessa casa entendeu, nunca mais, fora daqui. Saiam todos, saiam todos...

Impulsionada por sua irá, Fernanda empurra a mesa de doces e em segundos toda sua decoração e seu bolo estavam no chão, decepcionada com a tragédia a aniversariante se ajoelha no chão ao lado de seu bolo todo desmoronado e chora ao ouvir seus pais brigarem no topo da escada.

- Liliana, depois nós discutimos isso. Eu não quero falar sobre nossos problemas conjugais agora, não na frente da nossa filha!

Fernanda solta uma alta gargalhada, porém dolorosa ao ouvir a voz de seu pai e referindo-se a ele, se levantando do chão, se aproxima:

-Quanto a mim, não se preocupe papai, nada mais me surpreende vindo de você, você estragou meu aniversário de 15 anos, essa festa era meu maior sonho, era tudo para mim e agora por sua causa tudo foi um fracasso... Eu te odeio papai, eu te odeio com todas minhas forças, odeio vocês dois.

- Filha eu sou tão vítima quanto você!

- Fica quieta mãe.

As palavras cheias de rancor da garota foi a última coisa que o casal ouviu naquela noite e nada mais...

Minha aluna, malcriada (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora