Check out

8.7K 489 12
                                    

Dois anos e alguns meses depois...

O céu se mostrará acinzentado naquela manhã. O sol preguiçoso não sairá de trás das nuvens, cedendo seu lugar ao frio, mais precisamente fazia 10 graus, com sensação térmica de 8. Fernanda odiava o inverno, nunca gostou dessa estação do ano, desde que era criança pois a atrapalhava brincar no enorme jardim de sua casa.

Para ela, voltar para a cidade de São Paulo, depois de mais de dois anos fora, não era uma idéia animadora, não queria voltar a ver seus pais e não estava certa de que seus pais estavam prontos para voltar a vê-lá, afinal toda a tristeza e o rancor que carregava em seu peito a mudará muito durante todo esse tempo que passou fora, em especial mudará seu modo de agir e se vestir.

Faziam exatos 24 meses, que havia perdido o contato absoluto com sua mãe.

Não por sua culpa, pois se existisse mesmo um Deus pairando sobre as nuvens no céu, ele sabia o quanto que a garota tentou, insistiu e implorou para que Liliana ligasse a webcam da clínica psiquiatrica que estava internada para poder falar com ela. Ela só queria ouvir a voz reconfortante da mãe, de repente ouvir um de seus conselhos valiosos sobre a arte de viver. Mais Liliana sempre se negava atende-lá e a única voz que ecoava em sua cabeça, era a voz da enfermeira que num tom de pena dizia:

(Me desculpe senhorita Fernanda Monteze, mais sua mãe negou vê-lá novamente).

Fernanda se sentia completamente sozinha, naquele cenário triste de Londres, cidade para qual seu pai a obrigou se mudar, afirmando não ter tempo de cuidar dela, e que sem dúvidas estaria em ótimas mãos sendo cuidada pelos seus avós paternos com quem passou a morar...

Foi aí então que algo intrigante aconteceu, ouvir a voz de sua tia Vera Lúcia do outro lado da linha do telefone, lhe dizendo que sua mãe estava curada da depressão em que cairá, lhe dando a notícia que Liliana obteve alta da clínica e que estava em casa, foi sua luz no fim do túnel e devido aos acontecimentos assustadores de seus últimos dias a garota sabia que era preciso voltar para o Brasil, se não quisesse continuar correndo perigo e ameaças contra sua própria vida em Londres, ela tinha que voltar para sua casa e para a segurança de seu lar.

Aeroporto de São Paulo - capital, as 11:00 horas da manhã:

Depois da pousada gloriosa e milimetricamente correta do piloto, as portas do avião se abrem e as escadas automaticamente descem, Nanda rápidamente junta seus pertences como iPhone e fones de ouvidos e jogando dentro de sua mochila jeans, da uma última olhadela para seu parceiro de poltrona que não havia tirado os olhos de seu livro patético de auto ajuda, a viajem toda e não achando necessário se despedir segue em frente seu caminho para fora do avião.

Logo após a partida da garota, Alexandre que estava sentado ao lado dela respira profundamente, tentando se livrar do cheiro adocicado do perfume que ela deixará no ar, fragrância que mexia com seu subconsciente, trazendo para sí, lembranças tristes das quais ele preferiu não pensar, não dessa vez. Talvez tenha sido por essa razão que ele não tenha sentido vontade de trocar algumas palavras com a garota, nem ao menos tinha se dado o trabalho de perguntar o nome dela e agora se culpava por isso. Ao longo de uma hora em que eles passaram sentados juntos porém distantes, apesar de roçarem seus cotovelos, ele pode perceber uma inquietude muito grande naquela jovem, uma tristeza ele julgava ser, apesar de não ter conseguido descifrar se aqueles grandes olhos azuis estavam tristes, ou assustados, já que estavam tão carregados de maquiagem preta bem esfumada...

Quando Fernanda chega ao portão de desembarque, seus olhos começam a procurar por sua mãe, acirradamente, apesar de ter se mantido distante nesses dois anos que esteve longe e não ter certeza da reação que Liliana teria quando a visse, a garota estava com saudade dos olhos maternos e calorosos que ela se lembrava, mais para seu descontentamento, o rosto que virá a sua frente, acenando para ela a sua espera, era de sua tia Vera Lúcia, seus olhos também eram azuis, iguais ao de sua irmã Liliana, porém não eram esses olhos que Nanda esperará aflita durante a viagem toda para rever:

-Oi tia.

- Oi minha querida sobrinha, como foi de viagem? Nenhuma turbulência?

Vera Lúcia abraça a sobrinha, que permanece imóvel, apenas com uma dúvida martelando em sua cabeça:

- Não teve turbulência nenhuma. E... Minha mãe, onde está?

- Ah... Sua mãe não pode vir, então me ligou e me pediu, para que eu te apanhasse no aeroporto.

- Hã, ok. Me deixa ver se entendi direito, minhã mãe e eu ficamos dois anos sem nos ver e ela pede para você vir me buscar? Eu já deveria imaginar. Não é?

- Não, Nanda, não entenda mal, sua mãe ficou em casa preparando um almoço todo especial de boas vindas para você. Não fique assim, hein, meu amor?

Vera Lúcia acaricia o rosto da sobrinha para tentar acalma-lá, mais Fernanda não muda sua expressão de decepção:

- Eu vou para a esteira pegar minha bagagem.

-Eu te acompanho.

Vera Lúcia tenta falar, mais quando termina a frase sua sobrinha já estava mais próxima da esteira de bagagem do que dela.
*********

- Isabela não corre por favor!

Alerta Sophia sem tirar os olhos da garotinha que corria se aproximando de Alexandre.

- Papai, papai.

Alexandre estava de pé enfrente a esteira, atento a procura de sua mala, quando ouve a voz mais doce e reconfortante que já ouvirá em toda sua vida o chamando e em fração de segundos, sem se importar com os passageiros que estava a sua volta, se agacha para abraçar sua filha que o esperava com um sorriso aberto:

- Minha filha, que saudades de você princesa.

- Eu também estava com muita, muita saudade papai. E eu queria te dizer que... Te amo muito!

A garota de três anos gagueja ao se declarar para o pai, que a tirando do chão, a segura em seu colo:

- Ela ensaiou o caminho todo de casa até aqui, para dizer o quanto te ama.

Sophia se aproximando da um forte abraço em Alexandre e um beijo longo e estalado em sua bochecha:

- Que saudades de você!

- Eu também estava!

Alexandre beija carinhosamente a testa de Sophia que sorri.

Enlaçando o braço na cintura dele...

Fernanda que estava logo atrás, a menos de meio metro de distância pode contemplar a cena de segundos antes e não entendendo o porquê, se emociona ao ouvir a declaração daquela garotinha para seu pai.

Aquela era uma família feliz, com alicerce e amor, tudo o que ela almejava e não tinha. Foi nessa hora que viu sua mala de couro vindo em sua direção e dando um passo a diante para apanha-lá esbarra sem querer em Alexandre que também se inclinou para apanhar sua bagagem no mesmo instante, quando as duas malas se chocam e se desequilibram caindo no chão:

- Oi. Me desculpe.

- Não foi nada.

Alexandre dirige a palavra a ela enquanto se agacha para pegar a mala e quando vai entregar em sua mão seus dedos se encostam e seus olhares se encontram:

- Aqui está... Acho que essa é a sua!

- Obrigada.

A garota agradece de pronto, com uma voz seca, clara e sem nenhum sorriso e logo depois desviando seu olhar do dele segue andando junto a sua tia para o estacionamento do aeroporto.
Alexandre a segue com seus olhos por alguns instantes observando-a, mais logo depois deixa-se distrair por sua filha que com suas duas mãozinhas acaricia a bochecha do pai...

Minha aluna, malcriada (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora