Passe livre para a morte

2.2K 182 17
                                    

Já fazia mais de meia hora que Liliana estava debaixo do chuveiro. Sua pele branca já estava amortecida devido a alta temperatura da água e ganhava um tom avermelhado na região dos ombros, busto e costas...
Percebendo que a dor que sentia em sua alma não iria amenizar com o banho, ela desliga o chuveiro e impedida de enxergar devido a fumaça tateia o box em busca de sua toalha até encontrar.
A casa estava completamente vazia e era possível ouvir o canto dos pássaros que voavam para o sul em busca de calor. Liliana sente uma mágoa repentina, até os pássaros estavam abandonando-a, estavam deixando seu jardim que ela cuidava com tanto carinho, para buscar outro lugar mais aconchegante e agradável. Sua vida era feita de altos e baixos. De pequenos momentos de felicidade e inúmeros dias de solidão. De repente ela se pega pensando se valia a pena continuar a viver enquanto troca a toalha por um roupão confortável. Sua cabeça doía, seus olhos teimavam em lacrimejar e transbordam ao olhar para o relógio/despertador em cima do criado mudo e perceber que já se passavam das 19:00 horas da noite. A esse momento seu ex marido estava casado com a amante grávida e sem sombra de dúvidas estava feliz. Mesmo chorando Liliana sorri, ao pensar que Augusto o grande amor de sua vida seria feliz de novo. Ela desejava essa felicidade a ele, do fundo de seu coração, mesmo que seus sorrisos não fossem partilhados com ela. A imagem de Fernanda vestida para a festa de casamento veio em sua mente e por apenas dois segundos ela imagina sua filha sorrindo ao lado de seu professor. Alexandre era um homem bom e estava fazendo um bom trabalho com sua filha. Desde que o conhecerá a garota havia mudado muito a cada dia que passará ela se mostrava mais madura, forte e saudável. E por mais que não se abrisse com a mãe, Liliana sabia que Fernanda nutria um sentimento bonito por seu professor. Ela tinha percebido isso mais cedo quando eles se encontraram no shopping. Cecília estava trabalhando e era a garota prodígio, sua irmã Vera Lúcia sim soube educar a filha, sem se esquecer de Roberto que sempre foi um homem trabalhador, provedor e fiel. Sua família ao seu redor estavam felizes e com certeza saberiam lidar com sua ausência. Sentiriam sua falta nos primeiros três dias, Fernanda choraria por uma semana ou duas, mais se recuperaria, ela sempre foi uma garota forte desde bebê. E com um aperto no peito depois de muito ponderar que Liliana foi até seu criado mudo onde encontrou um frasco laranja na gaveta e abrindo-o despeja todos os comprimidos que ali continham em sua mão. Suas mãos estavam trêmulas, seus nervos a flor da pele. Ela não estava certa do que estava prestes a fazer, porém sabia que sua morte não seria dolorosa, ao menos não doeria tanto quanto estar viva. E depois de colocar todos os comprimidos em sua boca, sem esquecer de nenhum, dois goles de água foram o suficiente para acabar com todo seu sofrimento...

O salão de festa era enorme, os arranjos de flores em cima das mesas perfeitos. A voz do cover de Brian McKnight era tão aveludada quanto a do próprio ídolo da música romântica internacional. Haviam garçons impecávelmente uniformizados servindo as entradas do jantar de forma organizada. Quando na mesa dos pais da noiva, Renan conversava com seus pais e Cecília:
_E você Cecília o que está achando do casamento? _Esta tudo perfeito dona Meire. Sua filha teve muito bom gosto para escolher a decoração e o salão ele é bem arquitetado. _É verdade ela teve sim. Mais esse mérito também é meu, já que eu a ajudei escolher a maior parte dos preparativos. Não sei se meu filho comentou mais eu sou formada em arquitetura e Design de interiores. _Ah... Bom o Renan e eu quase não falamos de nossas famílias. _Nós trabalhamos muito mãe. _Eu entendo!
Diz Renan se explicando enquanto enche sua taça de champanhe e a taça de seu pai que o agradece com um sorriso:
_Mas então me diga. Em que seus pais trabalham? Vi que você comentou da arquitetura do lugar. Sua mãe deve ser arquiteta também? _Ah, não. Minha mãe na verdade trabalha numa galeria de artes. _Ah, então ela é  pintora?
Cecília começa a ficar nervosa com as perguntas de Meire e seu tom curioso e tentando se acalmar vira sua taça de champanhe goela abaixo, atraindo a atenção de Renan:
_Não, minha mãe trabalha apenas como vendedora do lugar. _E seu pai é administrador ou contábil? Levando em conta que você faz faculdade de administração quis seguir os passos do pai? _Tambem não. Meu pai trabalha de porteiro no mesmo edifício há anos ele é um ótimo vigilante super responsável.
Da boca de Meire não saiu mais palavra alguma, porém pela cara que ela fez ao saber a profissão do pai da garota, Cecília pode perceber que sua presença não havia agradado em nada a mãe de Renan. Já seu pai Raul estava sempre trocando olhares afetuosos com ela e enchendo sua taça de champanhe...

Minha aluna, malcriada (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora