Capítulo 29

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O cavalo corcoveava para o lado, sob o inquieto par em seu lombo, sacudindo a cabeça e bufando nervosamente. Sheila se deu conta de que não haveria salvação. Fora dada a esse animal que se fazia passar por homem, e sabia que preferiria morrer a ser usada novamente. O cavalo empinou de novo, numa agitação assustada. Só havia uma maneira de fugir àquelas mãos repulsivas, e Sheila começou a golpear com os pés os ombros e o pescoço do animal. Relinchando pelo inusitado do ataque, o cavalo se empinou ligeiramente. contido pelo súbito repuxão das rédeas cutucão forte com as esporas. Mas Sheila continuou a dar chutes, ofegando e soluçando com a determina são de salvar-se. O cavalo ameaçou disparar em pânico. O cavaleiro usava toda a sua habilidade para conter o animal. Com os outros rindo da sua situação difícil, Sheila podia ver o rosto dele começar a ficar com manchas vermelhas de raiva. O calcanhar de Sheila enganchou-se numa rédea retesada. Ela deu um chute, fazendo a cabeça do animal virar bruscamente. Os cascos nervosos e inquietos tentaram acompanhar o movimento, mas a súbita mudança de direcção foi impossível. Sheila sentiu as patas do cavalo cederem antes que ele caísse ao chão pesadamente. Soltou-se do braço que a prendia enquanto caíam, e livrou-se, cambaleante, dos cascos desnorteados do animal. Desequilibrada, cambaleou para a frente, tentando correr. Mal percorrera três metros, ouviu passos pesados atrás de si. Uma mão agarrou-a pelo cotovelo e fê-la voltar-se bruscamente. Perdeu totalmente o equilíbrio e caiu ao chão. O assassino de Brad estava de pé, acima dela, as feições largas marcadas com a expressão da vingança. Dois cavaleiros pararam os cavalos, um de cada lado de Sheila, e desmontaram. Arrastando-se para trás, os olhos assustados de Sheila não se desgrudavam do homem chamado Juan. Ficou de pé enquanto ele se dirigia ameaçadoramente para ela. Instantaneamente, os outros dois se acercaram dela, segurando-a pelos braços. Ela dava chutes selvagemente, mordendo-lhes as mãos. Inesperadamente, foi solta. Sheila nem quis saber a razão: virou-se para correr de novo. Enquanto se debatera, o resto dos cavaleiros formara um círculo à sua volta. Arquejando com os esforços desesperados, Sheila deu meia-volta, desconfiada, alerta, sem saber o que viria a seguir. Seu olhar fixou-se no homem de rosto magro que comandava o grupo, a expressão impassível e distante. Os olhos negros semi-cerrados desviaram-se para os seios arfantes dela, a blusa de seda creme toda aberta. Imediatamente, ela ergueu os braços para se cobrir.A boca do homem retorceu-se ante a ação defensiva que chegara tarde demais para ocultar o que todos játinham visto. Desmontando, soltou alguma coisa da sela. Parecia um cobertor e um laço para prender animais. Sheila crispou-se intimamente, mas recusou-se a deixar transparecer qualquer temor, quando ele se dirigiu para ela. A magreza dele era enganadora, percebia agora. Era muito mais alto e largo do que ela imaginara a princípio. Movia-se com a graça leve de um animal, uma fera predatória. Os olhos escuros e insondáveis não abandonavam o rosto de Sheila, hipnotizando-a de tal modo que ela não poderia correr, mesmo que tentasse. Parando à sua frente, desenrolou um sarape, tipo de poncho usado pelos mexicanos. Ergueu-o acima dela,enfiando-lhe a cabeça pela abertura. introduziu a ponta sob seus braços, deixando-lhe as mãos e os braços fora do tecido áspero. Com sua voz baixa, ele lhe disse algo em espanhol, uma inflexão zombeteira em tom sereno. O sangue fervia agora nas veias dela, os nervos à flor da pele com a sensação de perigo pela proximidade dele. O nó do laço foi-lhe passado pela cabeça. Seu coração parou de terror quando a corda roçou os lados do Seu pescoço, mas ele a fez descer até os ombros. - O que vai fazer comigo! - arquejou Sheila, incapaz de suportar o suspense. Ele ficou calado, e ela não teria entendido a resposta, caso a houvesse dado. O medo a fazia tremer toda, ao tentar adivinhar as intenções dele. Quando o nó chegou à cintura, ele o apertou, o laço fazendo as vezes de cinto para prender o sarape junto ao seu corpo. Seus olhos indagadores deixaram a máscara impenetrável para buscar o único homem que podia dar alguma explicação. - Por que ele está fazendo isso? - perguntou ao americano. - Você estava com tanta vontade de correr - veio a resposta indiferente -, que ele resolveu atender ao seu desejo de fazer algum exercício. Voltou-se bruscamente para o par brilhante de olhos cor de ébano. Segurando a corda enrolada, ele se virou e caminhou para montar seu cavalo. Sentou se imóvel na sela por um instante, fitando o rosto pálido de Sheila. Deixando as rédeas soltas junto ao pescoço do cavalo, incitou o animal a andar. A corda começou a se esticar. Sheila tinha a opção de caminhar na extremidade da corda, ou de ser arrastada.

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