- Obrigada - falou Sheila, flexionando os dedos e pulsos dormentes. Havia círculos vermelhos em carne viva onde a corda apertada ferira os pulsos, mas a fome era grande demais para que sentisse qualquer desconforto, no momento. - Apenas cumpro ordens. Deu de ombros com indiferença, e apanhou o seu prato. Com mãos trêmulas, Sheila fez o mesmo. Durante os minutos seguintes, concentrou-se em encher a barrigavazia, servindo-se do feijão com o pedaço de pão e rasgando nacos da carne dura com os dentes. Não sobrara uma migalha no prato ao terminar a refeição com um bom gole do café. Satisfeita, segurou acaneca com as duas mãos e fitou o fogo que se apagava. Laredo fazia o mesmo, e atraiu o olhar dela. Na luz suave que diminuía, ele parecia mais jovem, um toque de solidão nos olhos azuis atormentados. A curiosidade de Sheila veio à tona de novo. - Você não é como eles - disse-lhe suavemente. O olhar de esguelha dele foi cínico e zombeteiro. - Não! - É diferente. - Por quê! - Retorceu a boca. - Porque falo inglês!- Não, claro que não. - Inclinando a cabeça para o lado, Sheila fitou-o. - Por que está com eles? Não posso acreditar que seja por opção. - Não quer acreditar - corrigiu ele. - Está com eles por opção! Estava resolvida a obter uma resposta direta à sua pergunta. - Estou. - Não havia nenhuma nota de arrependimento na voz dele. - São meus amigos. - Embora tenham morto um homem, e feito você tomar parte na coisa! Sheila não podia aceitar que ele estivesse falando a verdade. - Está se referindo ao seu marido! Foi morto pela própria estupidez. Se não tivesse tentado pegar a arma, não teria sido ferido, apenas perderia um pouco de dinheiro... só isso. Seus olhos azuis brilharam especulativamente. - Estou vendo que você não está muito abalada com a morte dele. Sheila ignorou deliberadamente o último comentário.- Porque defendeu a sua propriedade, provocou a própria morte! - disse, modificando as palavras dele, sarcasticamente. - É assim que você racionaliza o assassinato dele! - O olhar feroz dirigiu-se para o líder renegado que estava a alguns passos de distância. - Ou está verbalizando as palavras dele? - O seu patrão, que tão piedosamente poupou a minha vida para me entregar ao mesmo porco grosseiro queassassinou o meu marido! Sheila não havia falado baixo, nem tentado disfarçar o seu desprezo absoluto. Laredo sorveu o café, e não respondeu. - O que é! Está com medo que me lembre de que você não discutiu nem um pouco quando o seu patrão me entregou ao seu colega bandido! Não posso culpá-lo por isso, posso! - ironizou Sheila. - Afinal, você só cumpre ordens. - É isso aí - concordou ele, calmamente. - Independentemente do fato de achar que eles estejam certos ou não - acrescentou, enojada. - Quem é ele! A reencarnação do Diabo? - Os nomes não são importantes por aqui. Parecia impossível provocar Laredo para zangar-se. Nem defendia seu chefe, nem o condenava. - Já lhe falei isso antes. Beba o café. - O que você faz? Curva-se aos pés dele e o chama de patrão? - Apelar para ele parecia inútil, mas era a sua única esperança. - Você tem que me ajudar, Laredo. É americano, sou americana. Não pode deixar que façam seja lá o que pretendam fazer comigo. Por favor. Oh, meu Deus. - Sheila engoliu um soluço de pânico. - Não dá para ver como eles me observam, nos observam? - O olhar inquieto abrangeu o grupo de homens sentados junto à fogueira. Não era o dinheiro dela que atraía os seus olhares.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Caricia Do Vento
RomansaConta a história de Sheila e Ráfaga, Sheila uma linda mulher de pais ricos se vê em uma grande decepção com seu marido Bred, após ser abusada em plena lua de mel ,e por fim saber as reais intenções de Bred acaba sendo sequestrada por Ráfaga e seus c...