Capítulo 89

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Ele agarrou um punhado de seus cabelos e forçou-lhe a cabeça para trás, derramando à força um pouco dolíquido por entre os seus lábios. Queimou-lhe a garganta como fogo. Tossindo e sufocando, Sheila afastou a garrafa da boca, e Laredo não voltou a forçá-la. Quando a ardência diminuiu, Sheila pôde respirar sem sentir que seus pulmões estavam em fogo. A dose de álcool detivera a sua histeria e reduzira os soluços a uns sons secos e ásperos. Pousou a cabeça exausta no ombro de Laredo, agradecida pelo apoio do braço que a envolvia. Os cílios molhados pelas lágrimas se abriram devagar, o olhar atraído para a frieza inflexível dos olhos de Ráfaga. Sheila teve que suportar o seu olhar gélido por apenas um segundo, antes que a porta se abrisse e desviasse a sua atenção. Desta feita, Sheila teve razão para estremecer. Dois homens vinham arrastando e carregando um terceiro para dentro da sala. Uma onda de nojo tomou conta dela ao vê-lo. Estava sem camisa, o tórax robusto e nu, exposto. A despeito da sua gordura, Sheila sabia que seus músculos não eram flácidos. Uma atadura improvisada envolvia a cintura larga, O tecido manchado com o seu próprio sangue. Agora Ráfaga não podia duvidar dela, pensou Sheila, olhando para ele com amargura. Suas feições contraíam-se em linhas cruéis e implacáveis, friamente distantes. A luz do lampião refletiu o brilho de algo metálico em sua mão. Sheila baixou o olhar e viu uma faca, a faca de Juan, aquela que usara para esfaqueá-lo. Ráfaga deu um passo vagaroso e ameaçador na direção do homem seguro pelos outros. A expressão dos seus olhos encheu o coração dela de um terror gelado. Ráfaga ia matá-lo. Ela o sabia. Sheila até mesmo queria ver Ortega morrer; no entanto, parte dela recuava ante o que estava acontecendo. Quando Ráfaga deu o segundo passo, o assassino de Brad deve ter-se dado conta da sua intenção, e começou a balbuciar em espanhol. Quase choramingava. Sheila olhou para Ráfaga, esperando ver o desprezo estampado nas suas feições duras. Estava parado, imóvel, os ombros rígidos. Um músculo se contraía no seu maxilar. Houve uma mudança sutil na atmosfera da sala. Sheila sentiu que a atenção dos demais presentes se desviava para ela. Levantou os olhos para o rosto de Laredo, que olhava para ela, examinando-lhe as feições com uma expressão mista de ceticismo e severidade. Ela sentiu um arrepio gelado descer-lhe pela espinha. - O que foi? - indagou, desconfiada. - O que ele está dizendo a meu respeito? Sheila exigiu uma tradução. Laredo olhou-a por um minuto, antes de responder. - Disse que estava de guarda do lado de fora e você veio até a porta, fazendo sinal para que ele entrasse. Sabia que não devia, mas era de noite e pensou que podia haver algum problema. Sheila começou a sacudir a cabeça, afastando-se do braço que lhe envolvia os ombros. - Não! - negou com veemência. - Disse que você começou a falar com ele - continuou Laredo. - Não entendia o que você dizia, mas achava que queria deixar o desfiladeiro e estava pedindo a ajuda dele. Como ele recusasse, você se aproximou e deixou o cobertor cair ao chão. Depois abraçou-o, e foi então que ele perdeu a cabeça. Foi aí que você pegou a faca e o feriu. Disse que foi enganado, e que você teria fugido se não lhe tivesse batido. - Não é verdade! - protestou violentamente. - Ele jura pela Santíssima Virgem - replicou Laredo, secamente. - Não é verdade! - Sheila virou-se para Ráfaga. inconscientemente, cruzou o espaço que os separava - Não é verdade! - repetiu. Era imperativo que Ráfaga acreditasse nela. Mas estava tão distante como uma estátua de bronze a fitá-la com olhos sem visão. Sabia que tanto ele quanto Laredo estavam se lembrando da vez em que tentara obter a ajuda de Laredo para fugir. Agarrando a coberta com uma das mãos, Sheila acercou-se mais dele, curvando o braço à volta dos músculos da cintura dele. - Nem uma só palavra do que ele disse é verdade! - A voz estava rouca de emoção. - Ele veio até o nosso quarto enquanto eu dormia. Tentou me possuir à força. Por que você acha que lhe pedi para me abraçar e me beijar? Algo faiscou nos olhos dele, uma luz ardente que aqueceu Sheila. O braço instintivamente envolveu as costas dela para puxá-la para junto do seu corpo musculoso. O cobertor escorregou de um dos ombros, e a mão pousou na nudez da sua pele numa meia carícia. Foi então que Juan, o seu atacante, falou de novo, e Sheila sentiu o calor indo embora do toque de Ráfaga. - O que foi que ele disse! - indagou, colando-se mais ao corpo de Ráfaga e tentando romper a barreira que ele subitamente erguera.

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