Capítulo 15

305 10 2
                                    

- Juárez? - repetiu Sheila, assombrada. - Mas fica a um dia de viagem daqui. Por que não cruzamos a fronteira em Laredo ou Eagle Pass? Qualquer lugar seria mais perto do que Juárez. - Fale baixo - disse Brad, franzindo o cenho. - Estou bem a par das distâncias geográficas, mas há outras coisas a levar em consideração. Se seus pais descobrirem o que estamos planejando, e tentarem nos deter, vão imediatamente imaginar que, se formos cruzar a fronteira, escolheremos um dos locais mais próximos que você mencionou. Estou certo de que jamais ocorreria ao seu pai que eu seria tão "burro" a ponto de ir até Juárez. É um caso de psicologia ao contrário - finalizou, com a boca levemente retorcida numa expressão presunçosa.- Pode ser que tenha razão. Porém parecia-lhe que Brad estava tomando precauções desnecessárias. Não gostava do modo como ele insistia em pintar seus pais como vilões. - Sei que tenho razão - disse ele, conclusivamente, e ela não tentou discutir. Brad parecia a Sheila um garotinho participando de um jogo, e ela sorriu em segredo à idéia. - De qualquer maneira - continuou Brad -, sei me virar em Juárez melhor do que em qualquer outra cidade de fronteira. - Desde garotinha que não vou a Ciudad Juárez. Desta vez você pode bancar o meu guia e me mostrar os pontos de interesse - sugeriu. - Com satisfação. - Havia um brilho provocador no olhar dele, enquanto a olhava de alto a baixo, vendo as curvas femininas acentuadas pela camisola escarlate bem ajustada ao corpo e as longas pernas expostas. - Desde que passemos a maior parte do nosso tempo curtindo outros prazeres. Estranhamente, as implicações do comentário dele não lhe estimularam o desejo. Na verdade, fizeram Sheila se sentir vagamente constrangida. - Não podemos passar todo o nosso tempo num quarto de hotel. - Fez uma tentativa de dar de ombros, despreocupadamente. - Temos que sair para comer, de vez em quando. - Pode ser - concordou Brad, com um entortar de lábios levemente malicioso. Levantou-se da cama e afastou-se dois passos, de costas para Sheila. - Mas isso nos leva a outro assunto. Sheila inclinou a cabeça para o lado. - Qual! - Dinheiro. Ela enrijeceu o corpo. A briga que tiveram à tarde ainda era recente demais para que tivesse esquecido a amargura e o sarcasmo dele no tocante ao assunto. Baixou os olhos para os dedos, que agarravam a frente da camisola. - Pensei que não fossemos mais falar nisso - disse Sheila, com voz baixa e tensa. - Acredite em mim, não queria tocar no assunto. - Brad massageava a nuca, a voz sombria. - Não vai ser fácil para mim dizer isso. Estou praticamente duro. - Soltou um suspiro fundo. - O pagamento desta semana foi todo para o aluguel. Tenho apenas alguns dólares no bolso até o dia do pagamento da semana que vem. - Oh! - exclamou ela. Havia um mundo de compreensão naquela pequena expressão. - Deus, como odeio isto - resmungou Brad, baixinho, depois endireitou os ombros. - Sheila, você tem algum dinheiro só seu... quero dizer, além do que vai herdar quando fizer vinte e um anos! Não quero que você vá pedir dinheiro emprestado ao seu pai. Me arrancaria as entranhas fugir para casar com você com o dinheiro "dele". Sheila sentiu um espanto inicial. Ele estava lhe pedindo dinheiro. Sempre fora irredutível, de modo quase neurótico, em não aceitar nenhum dinheiro, por mais que estivesse apertado. Agora, queria usar o dinheiro dela para se casarem. Era um bom sinal. Significava que conseguiria persuadir Brad a usar o dinheiro e a herança dela para promover a sua carreira sem que ele se sentisse culpado, achando que estava vivendo à sua custa. O futuro parecia tão cor-de-rosa! Seus pais ficariam chateados com a fuga para o México, mas Sheila sabia que voltariam a ficar do seu lado quando o casamento com Brad lhes fosse apresentado como um fato consumado. - Tenho o meu próprio dinheiro - disse -, uma caderneta de poupança que meu pai abriu para mim, e que está com quase dez mil dólares. Era para ser usado como uma lição prática do valor do dinheiro, para ser gasto com as minhas despesas pessoais este ano. Brad virou-se parcialmente para olhar para ela. - Mas é seu? - Completamente, sem nenhuma outra assinatura na conta - assegurou-lhe Sheila

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora