Capítulo 101

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Sheila acariciou o pescoço úmido da ruana. Seguiram em frente, alternadamente a meio galope, a trote e a passo, Sheila não tinha idéia de quantos quilômetros tinham viajado, nem quanto tempo se passara. O sol começara a se pôr a oeste. Restavam apenas algumas horas de luz do dia. Foi então que alguma coisa alertou Sheila. Virou-se para ver meia dúzia de cavalos e cavaleiros galopando diagonalmente na sua direção. Reconheceu Ráfaga instantaneamente. Por uma fração de segundo pode apenas fitá-los, incapaz de reagir. Esporeou os flancos do animal, e este disparou. Em duas grandes passadas, a égua estava galopando. Adiante, Sheila enxergou uma extensão de terra longa e muito plana. Se pudesse chegar até lá, sabia que a égua velocíssima deixaria os outros cavaleiros para trás. Mas Ráfaga também devia tê-la enxergado, e deduzido a mesma coisa. Não subestimava a velocidade da montaria de Sheila. Vinham cavalgando à tola num ângulo para interceptá-la antes que chegasse à área plana. Era tarde demais para desejar tê-los visto um minuto mais cedo. inclinando-se para a frente na sela, enterrou o rosto na crina esvoaçante do animal. Sentiu o animal distender-se, como se compreendesse a necessidade desesperada da sua amazona de uma maior velocidade. Cada músculo da égua dava o máximo de si, tentando vencer a corrida para a liberdade. Sheila inclinou a cabeça para o lado, olhando por entre a crina clara para distinguir a distância a que se achavam seus perseguidores. Enxergou-os, ainda um tanto longe, o ângulo aumentando. - Vamos conseguir, Arriba! - gritou, exultante. - Vamos conseguir! Não havia possibilidade de Ráfaga interceptá-la antes de chegarem ao terreno plano. Ela sentiu uma pontada de dor no peito. Por um segundo, teve vontade de que ele a alcançasse. Queria que a levasse de volta ao desfiladeiro. Mas não diminuiu a velocidade da égua naquele momento de fraqueza. Quando ela e Arriba cruzaram a linha invisível que lhes dava a vitória, Sheila viu Ráfaga frear o cavalo, admitindo a derrota. Viu de relance os movimentos bruscos do baio, ao parar de chofre. A seguir desviou rapidamente o olhar. Continuou abaixada na sela, encolhida sobre o pescoço da égua, mas suas mãos não mais exortavam o animal a dar o máximo de si. Mesmo assim, a ruana não diminuiu a velocidade. Simultaneamente, uma explosão rasgou os ares, e a égua cambaleou, interrompendo o galope. A ruana tentou recuperar-se, esforçando-se para manter o equilíbrio. Atordoada, Sheila tentou ajudar, puxando as rédeas para erguer a cabeça da égua e firmar-lhe as pernas. Mas era tarde demais. A égua caía ao chão. Sheila mal teve tempo de soltar os pés dos estribos e pular da sela. Voou pelo ar. Depois, tudo escureceu. Quando abriu os olhos, deparou com a fisionomia carrancuda de Ráfaga. Por um instante de atordoamento,Sheila não soube onde estava, ou o que acontecera. Tentou se mexer, e sentiu uma forte dor na cabeça. - Foi uma idiota em tentar fugir - rosnou ele, apertando os lábios. Sheila fechou os olhos. - Eu sei - concordou, com um pequeno soluço. Sentiu lágrimas nos olhos. Não sabia se queria chorar porque tinha falhado na tentativa de fuga, ou porque estava contente por ele tê-la alcançado. Era uma idiota por muitos motivos. - Está sentindo dor? - perguntou rudemente. - Estou - gemeu Sheila, os pulmões estourando com o esforço. - Onde? - perguntou, sem compaixão na voz, apenas raiva. - Minha cabeça. - Tentou erguer a mão trêmula para tocar o local e descobriu um milhão de outros locais que doíam. - Em toda parte - arquejou. - Fique imóvel - ordenou Ráfaga. A despeito da raiva, o seu toque era surpreendentemente suave enquanto as mãos procuravam ferimentos específicos. Sheila ficou confortada por isso. O entorpecimento estava começando a desaparecer. Excetuando a dor na cabeça, achava que não estava seriamente ferida em mais nenhum lugar, era só uma pisadura grande devido à queda. Ráfaga chegou à mesma conclusão. - Não há nada quebrado. - Arriba... - Sheila ia perguntar pelo estado da égua valente, mas Ráfaga já estava ajudando-a a pôr-se de pé, sustentando-a pelos ombros.

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