Capítulo 105

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- É, sabíamos. - E você só me contou agora - acusou Sheila. - Todos sabiam a penalidade pelo que você havia feito. Você não sabia. Não vi motivo para substituir a sua ignorância por medo. A parte da mente que conseguia raciocinar com clareza lembrou-se das horas em que dormira enquanto Ráfaga permanecera acordado, sentado sozinho na sala, atormentado pela certeza do que a esperava pela manhã. isso explicava a raiva surda que não era dirigida exatamente a ela. O fato de compreender isso não tornava mais fácil aceitar o que estava por acontecer. Ela tentou Se soltar dos braços dele, fazendo objeção à sua tentativa de confortá-la. Ráfaga deixou que ela se distanciasse um pouco dele, continuando a envolver-lhe firmemente a cintura com um braço, para mantê-la arqueada. A outra mão lhe pousava na curva do ombro e do pescoço, os dedos enterrando-se no cordão, e o polegar apertando o osso do maxilar e do queixo. Os olhos escuros fitaram profundamente os dela, vendo as chamas crepitantes do ressentimento e do medo. - Odeio-o por isso - declarou Sheila, a voz trêmula. - Si. E vai me odiar mais antes do fim do dia. - Bateram à porta. A cabeça de Sheila virou-se bruscamente na direção do som, o coração parando de bater por uma fração de segundo. - Está na hora - anunciou Ráfaga, friamente. Um grito abafado escapou da garganta dela. Tentou soltar-se dele, debatendo-se para fugir, mas ele a segurou com facilidade. - Você é uma mulher, uma americana. - Ráfaga falava em voz baixa e cortante. - Esperam de você que chore e suplique para não ser levada, que desmaie ao ver o chicote, ou se acovarde e tenha que ser arrastada até os postes. É assim que esperam que você se comporte. Sheila enrijeceu o corpo, reconhecendo o desafio que ele lhe fazia. Viu a si mesma reagindo do modo como ele descrevera, e soube que jamais poderia viver com tal humilhação. Um frio percorreu Sheila, entorpecendo-lhe os sentidos e congelando os horrores da sua imaginação. - Pode me soltar. - Lançou-lhe um olhar calmo. - Não vou correr. - Vai desapontá-los! Havia uma ponta de escárnio na sua voz. Bateram de novo à porta, agora com mais insistência. - É melhor atender - disse ela, friamente. Seu olhar escuro varreu-lhe o rosto, avaliadoramente. A seguir, ele a soltou e foi até à porta, escancarando-a. Havia dois homens lá fora, com os cavalos amarrados ao poste. Um deles falou discretamente com Ráfaga,enquanto ambos olhavam para além dele, para Sheila, com curiosidade não disfarçada. Ela os encarou de volta, ligeiramente altiva. Ráfaga se virou para ela, anunciando impassível: - Vamos. Suas pernas estavam notavelmente firmes ao passar por ele e cruzar a soleira da porta, ignorando deliberadamente os dois homens. Parou do lado de fora, examinando os cavalos, permitindo-se um momento de tristeza pela égua ruana que nunca mais estaria à sua espera. - Qual deles devo montar? Ou... - olhou gelidamente para Ráfaga - terei que ir a pé, como se fosse um animal indo para o matadouro? - Montará o baio - respondeu Ráfaga, suavemente. O cavalo dele. Enquanto Sheila se dirigia para o animal, um dos homens soltou as rédeas do poste. Sheila montou e estendeu a mão para pegar as rédeas, mas o homem não as largou, enquanto montava no próprio cavalo. Ela olhou de novo para Ráfaga. - Quer dizer ao homem que não preciso que me conduzam! Sou bastante capaz de guiar o meu cavalo na direção certa. Sem o mais leve sinal de emoção, Ráfaga disse qualquer coisa em espanhol para o homem. Era evidente que traduzira suas palavras, porque o homem hesitou, duvidando da sabedoria de entregar as rédeas a Sheila. Mas não discutiu. Com os ombros retos e a cabeça erguida, Sheila virou o baio na direção das casas, esperando que Ráfagamontasse antes de fazer o baio começar a andar. Ráfaga cavalgava ao lado dela, os dois outros homens logo atrás. Como da outra vez, quando Juan Ortega fora levado, para ser punido, todo mundo estava ali reunido. Laredo, os lábios fortemente cerrados, estava à espera, as mãos nos quadris. Agarrou as rédeas de Ráfaga. - Não pode levar isso a cabo, Ráfaga - resmungou Laredo.

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