Capítulo 106

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- Não posso impedir - foi a resposta seca. Sheila correu os olhos pelo vale antes de desmontar, surda aos apelos que Laredo fazia em seu favor. Omeigo Juan apareceu ao seu lado, o chapéu na mão, os olhos escuros cheios de dor. - Señora... - começou ele. Sheila olhou para ele, vendo o sentimento de culpa na sua expressão. Permitiu aos seus sentidos entorpecidos uma ligeira sensação. - Não é culpa sua - tranqüilizou-o, serenamente. - Sinto muito quanto a Arriba. Não cuidei muito bem dela. - Señora, por favor, eu... Porém Sheila se afastou, ignorando-o. A voz era gélida ao se dirigir a Ráfaga. - Creio que devo ir para o meio do vale, não é? Para que todos possam me ver? As feições dele estavam igualmente frias, quando concordou: - Sim. Deu um passo, e foi interceptada por Laredo. - Juro que nunca acreditei que Ráfaga fosse deixar isso acontecer, Sheila - declarou com voz rouca. - Se acreditasse, teria derrubado o rifle das mãos dele antes que abatesse o animal que você montava. O seu queixo estava majestosamente erguido. - Agora é tarde demais para pensar nisso. Por favor, saia do meu caminho. O ar juvenil das feições de Laredo foi substituído por uma severidade perturbadora. Depois de hesitar por uma fração de segundo, afastou-se para o lado. Estendeu a mão para pegá-la pelo braço. dizendo com voz tensa: - Eu a acompanho. Sheila retirou o braço, recusando o gesto de nojo dele com frio orgulho. - Vou sozinha. Ladeada por Ráfaga e Laredo, caminhou até o meio do vale, perto dos dois postes. Viu os olhos curiosos que a Observavam, e sentiu a indagação silenciosamente que todos se faziam, de quanto tempo duraria o seu autocontrole. Essa sensação fortaleceu o seu orgulho. Esperavam que ela se encolhesse de terror, esse bando de criminosos e marginais. Aquilo tornou Sheila ainda mais resolvida a não ser um objeto de divertimento e escárnio para eles. Quando Ráfaga se adiantou para declarar o motivo pelo qual seria punida, Sheila concentrou nele a atenção. Falou naquele tom de voz baixo que se ouvia claramente no silêncio, despido de qualquer emoção. Embora não pudesse compreender as palavras, sentia a eloqüência do discurso. Quando acabou, houve um murmúrio discreto de vozes, ao invés do silêncio de concordância que se seguira à explicação do castigo de Juan Ortega. Sheila permitiu-se um lampejo de esperança: quem sabe Ráfaga os dissuadira da punição por tentativa defuga. Uma mulher falou vivamente, a voz sobressaindo dos murmúrios indecisos. Sheila se virou, e viu Elena. Os olhos escuros e malévolos expressavam toda a sua antipatia por Sheila. A voz maligna da morena estava cheia de condenação ao exigir ferozmente o castigo de Sheila. As palavras maliciosas ainda ecoavam no ar quando Juan se adiantou para defender Sheila. Laredo ficou ao seu lado, assinalando com a sua presença que concordava com tudo o que Juan dizia. Ela sentiu um aperto no coração ao ver seus dois defensores mas não se permitiu demonstrar emoção. A súplica veemente de Juan parecia ter levado o povo para o lado de Sheila, até que mais alguém se manifestou. Levou um momento até que Sheila localizasse a voz debochada em espanhol. Ficou gelada ao ver Juan Ortega. O rosto estava contorcido por um ar de vingança, os lábios se entreabriram num sorriso feroz, revelando os dentes amarelados e quebrados. Tinha os ombros encolhidos para indicar a dor que ainda sentia pelo açoitamento. O rosto apresentava uma palidez doentia, revelando que sua recuperação ainda não fora total. O olhar levemente dilatado de Sheila desviou-se para Ráfaga, que ouvia, impassível, a denúncia de JuanOrtega. A seguir, para Laredo, que se virara, com um ar derrotado nos olhos azuis. Ela olhou fixamente nos olhos dele. - O que ele está dizendo? - sussurrou, mal movendo os lábios. Laredo se aproximou dela, sem olhá-la, enquanto respondia à pergunta. - Está dizendo a eles que não importa qual tenha sido o seu motivo para sair daqui, nem quais as circunstâncias que o cercam. Está lembrando a eles que foi açoitado por desobedecer a uma ordem... uma ordem que esquecera na sua fraqueza, quando você o convidou a entrar e exibiu para ele a sua feminilidade. Se o motivo


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