Capítulo sem título 108

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dele não pode salvá-lo do chicote, então o seu também não pode. E está lembrando a eles que a sua fuga quase resultou em uma patrulha do governo descobrir o desfiladeiro. Se não fosse por outro motivo, teria que ser punida por este. Quando Juan Ortega acabou de falar, houve acenos de concordância por toda parte. Alguns estavam relutantes, mas a maioria aprovava entusiasticamente o discurso Sheila não precisou que lhe dissesse sua última esperança de ser poupada pelo que ocorrera. Durante vários segundos, ninguém pareceu se mover Finalmente, Ráfaga virou-se para olhar para ela. Um músculo se contraía convulsivamente no maxilar, mas não havia outro sinal de que discordava da sentença. Um tremor percorreu os joelhos de Sheila, mas ela forçou-os a sustentá-la enquanto retribuía o olhar impassível de Ráfaga. Sem esperar que ele desse a ordem, Sheila se virou e caminhou até os postes idênticos, ficando de pé entre eles, a cabeça orgulhosamente erguida. Ráfaga fez sinal a um dos homens para amarrá-la, enquanto um outro lhe trazia o chicote. O primeiro homem enrolou-lhe uma corda no pulso esquerdo e amarrou-a bem apertado. Laredo voou para o lado dela, impedindo com o braço que o homem amarrasse a corda ao poste. Lançou um olhar por cima do ombro para Ráfaga, os olhos brilhando com uma chama azul. - Que merda, Ráfaga, não pode fazer isso com ela! - falou com selvageria. - Afaste-se - ordenou Ráfaga, demonstrando completa indiferença ao protesto. - Pelo amor de Deus, homem, deixe-me ao menos tomar o lugar dela! - exclamou Laredo, desesperadamente,buscando qualquer alternativa para poupar Sheila. O pedido dele foi a gota d'água. Uma fúria negra escureceu ainda mais a expressão de Ráfaga. - Acha que eu não tomaria o lugar dela, se pudesse?! - explodiu com raiva selvagem. - Afaste-se! Correntes elétricas cruzaram-se nos ares entre os dois homens, até que Laredo finalmente recuou, baixando o braço para deixar que Sheila fosse amarrada ao poste. Olhos azuis torturados lançaram um breve olhar para Sheila antes que Laredo se afastasse, a cabeça baixa, frustrado. Enquanto o braço direito estava sendo amarrado ao outro poste, Sheila fitou Ráfaga, o medo gelado roendo-lhe as entranhas, enquanto tentava não olhar para o chicote na sua mão. Tinha vontade de chorar, de suplicar-lhe que não fizesse essa coisa cruel, desprezível. Mas, fitando o rosto másculo, novamente despido de qualquer expressão, as emoções totalmente sob controle, sentiu forças para manter em silêncio o seu medo. Ao invés de suplicar uma misericórdia que não receberia, Sheila inclinou a cabeça com orgulho e desafio, e ironizou: - Quem vai usar o chicote em mim! Você, Ráfaga? - Não. - Falou em voz tão baixa que ela teve que se esforçar para escutar. O olhar escuro dirigiu-se para Laredo, que lhes dava as costas, como se quisesse apagar a imagem de Sheila amarrada aos dois postes. - Será Laredo a tomar o chicote nas mãos. Sheila não teve dificuldade de ouvir isso. Tampouco Laredo, que deu meia-volta, o rosto marcado por uma raiva incrédula. - Não pode me pedir para fazer isso! - declarou num sopro de voz torturado. Ráfaga estendeu o chicote, dizendo suavemente: - Não confiaria o chicote à mão de mais ninguém, amigo. Houve um momento de indecisão, quando Laredo o fitou. A seguir, tirou o chicote das mãos de Ráfaga e caminhou para trás dos postes, para um lugar às costas de Sheila. Ráfaga olhou para Sheila, olhos se encontraram por um minuto. Depois, foi postar-se atrás dela. Os músculos dela se retesaram ao sentir o metal frio de uma lâmina enfiar-se sob a blusa, o lado cego tocando-lhe a pele. O lado cortante começou a abrir a fazenda que lhe cobria as costas. Ele voltou para junto de Laredo. - Está na hora - falou, com um leve aceno de cabeça para Laredo. A testa de Sheila ficou orvalhada de suor. Às suas costas, o chicote estalou três vezes em rápida sucessão. Sentiu um nó de medo no estômago ao escutar o zunir do açoite cortando o ar. Preparou-se, enroscando os dedos na corda que lhe prendia os pulsos aos postes. Mas nada podia prepará-la para a chicotada cortante na pele nua das suas costas. Um grito abafado de dor lhe escapou da garganta. Cerrando os dentes, tentou engolir o grito, com êxitoparcial. Novamente ouviu o zunir do açoite, antes de sentir os milhares de agulhadas a lhe penetrarem as costas. Desta feita, Sheila mordeu o lábio para abafar o gemido de dor. As lágrimas lhe escorriam pelas faces, embora não tivesse consciência de que estivesse chorando.

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