Capítulo 81

284 5 3
                                    

- Pobre Sheila. Em quem vai afiar as garras quando eu estiver ausente? Talvez até sinta saudades minhas. - Nunca! - sibilou ela, como uma gatinha pateticamente vulnerável. Havia um brilho de riso nos olhos escuros dele, antes de se dirigir para o corredor, deixando Sheila a vestir-se sozinha. A comida estava na mesa quando ela entrou na cozinha. Ráfaga não puxou mais conversa, e Sheila comeu em silêncio. Enquanto afastava o prato, escutou o ruído de cascos de vários cavalos se aproximando da casa de adobe, devagar. Ao ranger do couro das selas seguiu-se o barulho da porta da frente sendo aberta. Laredo entrou, parando, mal cruzou a soleira. - Estamos prontos. Ráfaga manteve os olhos fixos nos de Sheila por um longo momento, as feições impassíveis Levantando-se, caminhou para a porta, parando para tirar o poncho do gancho e enfiá-lo pela cabeça. Calada, Sheila ficou observando-o por o chapéu, baixá-lo bem sobre a testa e apanhar o rifle encostado à parede A seguir, ele virou-se para Sheila. - Vá lá para fora - ordenou num tom seco, inesperadamente a última ordem dada diretamente por ele a que teria que obedecer por vários dias, e Sheila levantou-se para acompanhá-lo. - Señora - deteve-a a voz serena de Consuelo. Sheila se virou enquanto a esposa de Juan dirigiu-se depressa para junto dela, dizendo qualquer coisa em espanhol e oferecendo a Sheila um pesado raboso. Sheila aceitou o xale mexicano, agradecendo com um sorriso a gentileza da mulher, e enrolou-se nele. Ráfaga estava parado junto à porta, abrindo-a para que ela o precedesse ao sair. O murmúrio baixo de vozes parou quando saíram juntos da casa. Havia mais gente do que cavalos em pequenos grupos do lado de fora. Cinco cavalos selados estavam à espera, com dois cavaleiros já montados, Laredo e um outro homem. Os outros dois cavaleiros, além de Ráfaga, despediam-se das famílias. Uma mão firme agarrou o cotovelo de Sheila, empurrando-a para junto do cavalo que Juan segurava. Por um momento Sheila pensou que Ráfaga havia resolvido levá-la junto com ele. Manteve-a ao seu lado enquanto enfiava o rifle na bainha. A seguir virou-se, agarrando o outro cotovelo da moça. Ela se enrijeceu quando ele começou a puxá-la para si. - Isto é para os que vão ficar - Ráfaga falava numa voz baixa, somente para os ouvidos dela, no mesmo tom de voz inexpressivo -, para que saibam que é a minha mulher, e que fazer-lhe mal é fazer-me mal. Sheila não protestou quando ele a puxou para junto de si. Levantou a cabeça automaticamente, os lábios se encontrando com a boca que baixava. Foi um beijo doce e duro, possessivo na intensidade e de breve duração. Os lábios dela tremiam quando ele os soltou. Mas Ráfaga não largou imediatamente os braços, segurando-a contra a parede sólida do seu peito enquanto o seu olhar velado examinava-lhe o rosto. - Quando eu me for, você ficará aqui com Juan, espiando a minha partida. Não entrará na casa antes que os outros se dirijam para as deles - ordenou. Ante o aceno de concordância dela, Ráfaga a soltou e montou com elegância. Sheila deu um passo atrás e foi para o lado de Juan, enquanto Ráfaga desviava o cavalo para longe dela. Os outros quatro cavaleiros se uniram a ele, à vontade, sem seguir nenhuma ordem determinada. Laredo inclinou o chapéu para cumprimentá-la e esporeou o cavalo. Uma aurora vermelha rasgava os céus quando os cinco cavaleiros viraram os seus cavalos na direção da garganta que os conduziria para fora do desfiladeiro. Sheila ficou observando-os se afastarem, mas Ráfaga nem sequer se virou para ver se ela ainda estava lá.
A pequena casa de adobe parecia muito pequena sem a presença de Ráfaga. No silêncio, Sheila quase podia ouvir o eco das batidas do próprio coração. Caminhou até a janela da frente, sentindo-se como um fantasma que sacudia as suas correntes. Lá fora, um sol de meio de tarde começava a deslizar na direção dos picos ocidentais. As horas escarlates do amanhecer pareciam bem distantes. Se as horas do dia passavam tão devagar, como seria a noite? perguntava-se Sheila. Cruzou os braços com força e cerrou os olhos. "Quem sabe vai sentir saudades minhas", escarnecera rafaga

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora