- Pobre Sheila. Em quem vai afiar as garras quando eu estiver ausente? Talvez até sinta saudades minhas. - Nunca! - sibilou ela, como uma gatinha pateticamente vulnerável. Havia um brilho de riso nos olhos escuros dele, antes de se dirigir para o corredor, deixando Sheila a vestir-se sozinha. A comida estava na mesa quando ela entrou na cozinha. Ráfaga não puxou mais conversa, e Sheila comeu em silêncio. Enquanto afastava o prato, escutou o ruído de cascos de vários cavalos se aproximando da casa de adobe, devagar. Ao ranger do couro das selas seguiu-se o barulho da porta da frente sendo aberta. Laredo entrou, parando, mal cruzou a soleira. - Estamos prontos. Ráfaga manteve os olhos fixos nos de Sheila por um longo momento, as feições impassíveis Levantando-se, caminhou para a porta, parando para tirar o poncho do gancho e enfiá-lo pela cabeça. Calada, Sheila ficou observando-o por o chapéu, baixá-lo bem sobre a testa e apanhar o rifle encostado à parede A seguir, ele virou-se para Sheila. - Vá lá para fora - ordenou num tom seco, inesperadamente a última ordem dada diretamente por ele a que teria que obedecer por vários dias, e Sheila levantou-se para acompanhá-lo. - Señora - deteve-a a voz serena de Consuelo. Sheila se virou enquanto a esposa de Juan dirigiu-se depressa para junto dela, dizendo qualquer coisa em espanhol e oferecendo a Sheila um pesado raboso. Sheila aceitou o xale mexicano, agradecendo com um sorriso a gentileza da mulher, e enrolou-se nele. Ráfaga estava parado junto à porta, abrindo-a para que ela o precedesse ao sair. O murmúrio baixo de vozes parou quando saíram juntos da casa. Havia mais gente do que cavalos em pequenos grupos do lado de fora. Cinco cavalos selados estavam à espera, com dois cavaleiros já montados, Laredo e um outro homem. Os outros dois cavaleiros, além de Ráfaga, despediam-se das famílias. Uma mão firme agarrou o cotovelo de Sheila, empurrando-a para junto do cavalo que Juan segurava. Por um momento Sheila pensou que Ráfaga havia resolvido levá-la junto com ele. Manteve-a ao seu lado enquanto enfiava o rifle na bainha. A seguir virou-se, agarrando o outro cotovelo da moça. Ela se enrijeceu quando ele começou a puxá-la para si. - Isto é para os que vão ficar - Ráfaga falava numa voz baixa, somente para os ouvidos dela, no mesmo tom de voz inexpressivo -, para que saibam que é a minha mulher, e que fazer-lhe mal é fazer-me mal. Sheila não protestou quando ele a puxou para junto de si. Levantou a cabeça automaticamente, os lábios se encontrando com a boca que baixava. Foi um beijo doce e duro, possessivo na intensidade e de breve duração. Os lábios dela tremiam quando ele os soltou. Mas Ráfaga não largou imediatamente os braços, segurando-a contra a parede sólida do seu peito enquanto o seu olhar velado examinava-lhe o rosto. - Quando eu me for, você ficará aqui com Juan, espiando a minha partida. Não entrará na casa antes que os outros se dirijam para as deles - ordenou. Ante o aceno de concordância dela, Ráfaga a soltou e montou com elegância. Sheila deu um passo atrás e foi para o lado de Juan, enquanto Ráfaga desviava o cavalo para longe dela. Os outros quatro cavaleiros se uniram a ele, à vontade, sem seguir nenhuma ordem determinada. Laredo inclinou o chapéu para cumprimentá-la e esporeou o cavalo. Uma aurora vermelha rasgava os céus quando os cinco cavaleiros viraram os seus cavalos na direção da garganta que os conduziria para fora do desfiladeiro. Sheila ficou observando-os se afastarem, mas Ráfaga nem sequer se virou para ver se ela ainda estava lá.
A pequena casa de adobe parecia muito pequena sem a presença de Ráfaga. No silêncio, Sheila quase podia ouvir o eco das batidas do próprio coração. Caminhou até a janela da frente, sentindo-se como um fantasma que sacudia as suas correntes. Lá fora, um sol de meio de tarde começava a deslizar na direção dos picos ocidentais. As horas escarlates do amanhecer pareciam bem distantes. Se as horas do dia passavam tão devagar, como seria a noite? perguntava-se Sheila. Cruzou os braços com força e cerrou os olhos. "Quem sabe vai sentir saudades minhas", escarnecera rafaga
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Caricia Do Vento
Roman d'amourConta a história de Sheila e Ráfaga, Sheila uma linda mulher de pais ricos se vê em uma grande decepção com seu marido Bred, após ser abusada em plena lua de mel ,e por fim saber as reais intenções de Bred acaba sendo sequestrada por Ráfaga e seus c...