Capítulo 45

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- Como? - A boca se retorceu num arremedo de sorriso. - O sistema judicial do México não é como o dos Estados Unidos. É o velho Código Napoleônico, pelo qual você é culpado até provar o contrário. Você fica na cadeia até ser julgado, o que pode demorar um bocado. Mantém os criminosos longe das mães. - Então é por isso que você está aqui, escondendo-se nas montanhas, porque é procurado pela polícia - concluiu Sheila. Sentia-se bastante indiferente quanto ao fato de ele ter matado alguém, independentemente das circunstâncias. - Como fugiu? Ele parou para acender um cigarro e ofereceu um a Sheila, que o aceitou, esperando que a nicotina do tabaco acalmasse seus nervos à flor da pele. Ele soltou uma fina baforada e ficou vendo a fumaça dissolver-se no ar. - Houve uma incursão, em assalto bem organizado, à cadeia onde estava preso. Tudo aconteceu tão depressa que nem vi o que estava se passando - lembrou-se ele, distraído. - As portas das celas foram abertas. Todo mundo corria em todas as direções, tentando fugir. Mas notei esse invasor mexicano, absolutamente frio e controlado. Tinha três prisioneiros americanos com ele, e parecia que ele os guiava para longe da confusão. Imaginei que ele sabia o que estava fazendo e para onde estava indo... coisas que eu não sabia... e daí segui atrás dele. - Ráfaga - disse Sheila, identificando o líder. - É - concordou Laredo, examinando a ponta do cigarro. - Alguém o contratara para arrancar os três prisioneiros americanos da cadeia e fazê-los cruzar a fronteira de volta para os Estados Unidos. Eu fui de carona, só isso. - Mas por que não voltou para os Estados Unidos com os outros! - indagou ela, franzindo o cenho. - Por que ficou aqui com ele! - Os outros haviam sido apenas acusados de pequenos delitos com relação a drogas. Eu, de assassinato -lembrou-lhe. - Teria sido extraditado para o México para ser julgado. Além disso, matei um guarda durante a nossa fuga; assim, mesmo que me tivesse safado da outra acusação, me pegariam na segunda. O governo americano poderia ter feito vista grossa se eu tivesse cometido um delito de pouca importância, mas, para o bem das relações internacionais, teriam que procurar um assassino. Minha família seria avisada. Haveria manchetes nos jornais locais. Agora eles não sabem onde estou, ou o que fiz, ou se estou vivo. É melhor eu ficar do lado de cá da fronteira. - Mas a sua família não foi avisada quando foi preso pela primeira vez! - indagou Sheila. - Fui para a cadeia sob nome falso, e com passaporte falso. - Laredo tragou o cigarro e sacudiu a cabeça, soltando uma nuvem de fumaça. - A polícia mexicana descobriu quem eu sou realmente, mas o nome errado ainda consta da lista do Cônsul americano. Assim, a minha família não sabe. - Como pode ter certeza? - Há meios - respondeu, voltando a se refugiar na frase misteriosa que indicava a existência de contactos. Sheila recomeçou a andar, a esmo, por entre os cavalos que pastavam. - Há quanto tempo está com Ráfaga? - Quase três anos. - Ele parece passar um bocado de tempo com você, mais do que com os outros - comentou despreocupadamente. - Imagino que se possa dizer que virei o seu braço esquerdo - disse Laredo, sorrindo preguiçosamente. - Braço esquerdo? - Olhou para ele, curiosamente. - E quem é o braço direito? - Ninguém. Ele não confia em ninguém para ficar à sua direita. Laredo parou para esmagar a ponta do cigarro com a bota. Um frio correu pela espinha de Sheila. Jogou o próprio cigarro, fumado pela metade, na grama alta sob seus pés. - O que vai acontecer comigo, Laredo? - Não sei o que quer dizer. Ergueu os olhos para fitá-lo cautelosamente. - Já entraram em contato com os meus pais? Uma máscara desenhou-se sobre as feições vagamente juvenis, tornando-as duras e dissimuladas. - Não posso lhe responder, Sra. Townsend - replicou Laredo, formalmente. - Pelo amor de Deus, me chame de Sheila! - declarou, agitada. - Não quero que me lembrem Brad! - Não foi minha intenção, Sheila - retrucou Laredo, descontraindo-se ligeiramente. - Quando o resgate for pago, serei solta? - indagou, aproveitando-se do vestígio de compaixão na voz dele.

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