Um cachorro veio correndo para latir e tentar morder os calcanhares do cavalo. O andar deste não se alterou, embora repuxasse a orelha para trás, ao ruído. Numa das casas, um homem estava sentado numa cadeira, sob a proteção do telhado que se projetava amplamente para fora. Não se mexeu nem ergueu os olhos quando passaram por ele. Sheila notou o cobertor de padrões vivos colocado sobre as pernas do homem, e se lembrou de que Ráfagalhe havia contado que o marido de Elena era inválido. Desviou o olhar, curiosa, para a porta da casa e viu Elena de pé nas sombras da entrada. Um ódio ciumento ardia nos seus olhos ao fitar Sheila. Haviam passado pela casa e estavam se aproximando do pequeno curral quando Sheila percebeu o verdadeiro motivo dos ciúmes de Elena. Não fora meramente o fato de ela estar cavalgando com Ráfaga. Fora o braçocolocado intimamente à volta da sua cintura. A percepção desse fato deu origem a um outro. O convite de Ráfaga para cavalgarem juntos não fora feito porque desejava a companhia dela, nem para distraí-la. Estava tornando realidade a sua afirmação da véspera: "Amanhã", dissera, "todos saberão que é a minha mulher". O boato quanto à modificação do seu status devia ter-se espalhado depressa pela pequena população, e Ráfaga o confirmara visualmente cavalgando com ela pelo centro do pequeno agrupamento de casas. Quando Ráfaga parou o cavalo diante do curral cercado, Sheila imediatamente jogou a perna por cima da sela para desmontar. Estava ansiosa para se libertar do contacto perturbador dele, que a cegara temporariamente para o verdadeiro objetivo que tinha o passeio. Mas o braço dele permaneceu firme à volta da sua cintura, baixando-a até o chão, embora soubesse que ela não desejava a sua ajuda. Ela começou a caminhar rigidamente para o curral, onde os cavalos estavam seagrupando para receber a montaria de Ráfaga. - Buenos dias, señor Ráfaga. Alô, señora. O cumprimento, num inglês com forte sotaque, deteve Sheila. Um mexicano saía com passos vivos de sob o resguardo de um barracão. Suas feições suaves tinham uma expressão de respeito deferente, sem ser servil. Ela já o vira vigiando a casa. - O que desejam? - perguntou com forte sotaque. - Quero que sele um cavalo para a señora - respondeu Ráfaga. O mexicano olhou para os cinco cavalos que se agrupavam junto à cerca. - Qual deles! Perguntava a preferência de Sheila, mas foi Ráfaga que respondeu. - O baio com a estrela. O olhar de Sheila percorreu os animais, encontrando o baio com a estrela branca na testa, de focinho romano e ar plácido. Não viu nada no animal que lhe despertasse o interesse. - O baio! Não, não, señor. - O homem parecia partilhar da opinião de Sheila sobre a escolha de Ráfaga. O roano. - Traduziu imediatamente, por causa de Sheila. - A égua ruana é melhor. Uma égua castanha com manchas brancas estendeu o pescoço por cima da cerca do curral. Havia uma insinuação de puro-sangue no corpo elegante e de pernas longas da égua, embora lhe faltasse a graça que Sheila tinha visto nos equivalentes americanos da raça. Tinha os olhos grandes e luminosamente castanhos, curiosos, mas meigos. - Não, a ruana, não - disse Ráfaga, recusando a sugestão. Franzindo o cenho, o homem lançou-lhe um olhar confuso, obviamente acreditando que havia escolhido o melhor animal do grupo, e sem compreender por que Ráfaga preferia o baio à égua ruana. - Acho que ele quer dizer - explicou-lhe Sheila - que quer que eu monte um animal que seja menos capaz de fugir comigo, ou vice-versa. - Fugir! Ah, não señor, a égua é muito mansa. - Meu filho Pablo vive montado nela - insistiu. Uma sobrancelha negra arqueou-se, pensativa, enquanto Ráfaga olhava para Sheila. Tendo tomado uma decisão, ele a comunicou em espanhol. O sorriso satisfeito que se abriu na boca do homem contou a Sheila que montaria a ruana, antes mesmo de ele tirar a égua do curral. - Não está com medo de que eu vá tentar fugir! - zombou Sheila suavemente, mantendo a voz bem baixa, para que somente Ráfaga escutasse as suas palavras.Ele a fitou com olhos preguiçosos, semi-cerrados. - Vai pensar no assunto. - A voz dele era rouca, mas dura, como veludo sobre aço. - Mas não vai tentar. Tinha razão. Sheila não tentaria fugir quando ele estivesse junto com ela. Ráfaga era cruel demais.
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A Caricia Do Vento
RomanceConta a história de Sheila e Ráfaga, Sheila uma linda mulher de pais ricos se vê em uma grande decepção com seu marido Bred, após ser abusada em plena lua de mel ,e por fim saber as reais intenções de Bred acaba sendo sequestrada por Ráfaga e seus c...