Capítulo 44

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Ele mudou o rifle de posição, apontando o cano para Sheila. A boca do rifle cutucou o nó na frente da blusa, forçando-a a voltar para dentro da casa. Ela recuou um passo, e o olhar dele se fixou nos seios que subiam e desciam com a respiração pro funda, forçando o tecido sedoso da blusa. Encheu-se de pânico, mas tentou não demonstrar o que sentia. A atenção dele foi desviada por um ruído às suas costas. Olhou por sobre o ombro, apagando do rosto o sorriso obsceno. A visão de Sheila estava bloqueada pelo portal, impedindo-a de ver quem ou o que fizera as feições largas se transformarem numa máscara inexpressiva. O tom autoritário de uma voz familiar em espanhol forneceu a resposta. Juan respondeu, o olhar voltando para Sheila. O brilho dos seus olhos escuros parecia prometer que se encontrariam de novo... a sós, sem interrupções. Sheila empalideceu ante a ameaça silenciosa e agourenta. Ráfaga apareceu, com Laredo ao lado. Juan afastou-se da porta, apontando a boca do rifle para o chão. Brevemente empalada pelo olhar de Ráfaga, Sheila virou-se, empertigada, e entrou na casa, os membros trêmulos pelo encontro com o assassino de Brad. - O que estava fazendo? - quis saber Laredo. O que podia dizer? Que tivera vontade de respirar um pouco de ar fresco, mas que a besta do guarda a detivera? Devia contar-lhe que Juan estivera prestes a forçá-la a entrar na casa e atacá-la? Não acreditariam nela. Juan era um deles. Acreditariam na palavra dele, não na dela. Sheila imaginou que houvesse ordens para que ela não fosse tocada, portanto Juan jamais admitiria que planejava fazer-lhe algum mal, apenas que tentara impedi-la de sair da casa. - Estou ficando maluca, trancada nesta casa! - berrou Sheila. - Queria respirar um pouco de ar puro, mas o cão que vocês puseram de vigia não quis me deixar sair. - É melhor você ficar dentro de casa - disse Laredo. - Durante quanto tempo? - a voz dela soou estridente num toque de histeria. - Não pode esperar que eu fique dentro deste buraco miserável para sempre! Já estou quase subindo pelas paredes! Ráfaga fez um comentário em espanhol, chamando a atenção de Laredo. Uma mensagem silenciosa passou entre eles antes de Laredo voltar a olhar para Sheila. - Vou levá-la para dar uma volta - anunciou-lhe. - Obrigada - retrucou Sheila com amargura. Afastando-se para o lado, Laredo não deu resposta ao sarcasmo dela. A figura baixa e atarracada de Juan esperava lá fora. Endireitou o corpo para impedir de novo a sua passagem, mas uma ordem, a voz baixa de Laredo fê-lo retrair-se. Sheila baixou a cabeça ao passar, deixando que seus cabelos louros-escuros ocultassem o seu rosto do olhar dele. Mas sentiu que ele a observava, silenciosamente ameaçador. A mão de Laredo no seu cotovelo dirigiu-a para longe da dispersa formação de casas de adobe, em direção à sombra das árvores ao pé do desfiladeiro. Novamente, estava sendo isolada dos demais habitantes do lugar. Às suas costas, Sheila podia ouvir as crianças brincando. Pássaros cantavam alegremente nas árvores e arbustos enquanto cavalos e algum gado pastavam satisfeitos no prado iluminado pelo sol, abanando as caudas para afastar as moscas. Tudo parecia bastante incongruente, considerando-se a situação dela. Laredo soltara-lhe o braço para deixar que caminhasse livremente. Sheila cruzou os braços num gesto nervoso de quem se aquece. Olhava para a frente, os olhos dilatados, um brilho de apreensão nas suas profundezas. - Converse comigo, Laredo - falou, desesperada. - Diga-me quem é, como veio parar aqui. Conte-me mentiras... não faz mal. Apenas converse comigo para que eu não possa pensar. Ele fez uma pausa, examinando-a em silêncio, depois recomeçou a caminhar. - Por onde quer que eu comece? - indagou. - Tanto faz. - Sheila deu de ombros com indiferença e inspirou, toda trémula. - Como veio parar aqui... como se uniu a este bando de renegados, ou seja lá o que forem! - Eu estava contrabandeando maconha na costeira. O homem com quem eu fazia negócios tentou mudar os termos, me passar para trás. Brigamos. Ele puxou uma faca, eu a tirei dele e o matei. Infelizmente, a polícia mexicana chegou antes que eu pudesse fugir. O tom dele era frio, sem emoção. Apenas narrava os fatos, nada mais. - Parece legitima defesa - murmurou Sheila, para manter a conversa - ou, no máximo, homicídio involuntário. Foi condenado por quê? - Nunca fui a julgamento.

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