Capítulo 82

285 8 1
                                    

"Nunca!", ela negara. Mas lembrava-se da rigidez do corpo musculoso deitado ao seu lado, e da caricia experiente das suas mãos excitando-lhe a carne, da sensação exótica da sua boca cobrindo-lhe os lábios macios. Acima de tudo, havia aquele momento sensual em que ele enfiava a sua estaca de posse. Sentiu um fogo ardente na região genital às lembranças nítidas que a simples recordação dele provocara. Subitamente, seu coração doeu de vontade de vê-lo. Uma fera, um animal, ela o acusara. Mas será que ela era melhor, ansiando pela gratificação física que ele lhe dava? Sheila ergueu a mão para correr os dedos trêmulos pelos cabelos. Será que se tornara uma vagabunda? Será que qualquer homem satisfaria a sua fome carnal? Lembrou-se de como ficara enojada com as mãos grosseiras de Brad e o uso bestial que fizera do seu corpo. E o toque de Laredo não lhe evocara nenhuma sensação lasciva. Ráfaga parecia ser o único com este poder especial sobre os seus sentidos. Por quê? Por quê? berrava a sua mente, mas na verdade não queria saber a resposta. - A química do corpo - racionalizou Sheila, em voz alta. Inspirando profundamente, abriu os olhos. Seu coração parou, enquanto um medo gelado lhe paralisava osmúsculos. Do lado de fora da janela, apoiado contra um poste, estava o homem que atirara em Brad. Os seus olhinhos obscenos a fitavam. A boca estava frouxa, quase babava. Assustada e nauseada, Sheila se afastou da janela. Fazia dias que não o via. Mas lá estava ele, vigiando a porta... e vigiando-a. Sheila recuou para um canto afastado do quarto. As pernas trêmulas buscaram o apoio de uma cadeira. Encolheu-se nela, agarrando-se às palavras de Ráfaga, de que agora era mulher dele. Ninguém poria a mão nela e nem se arriscaria a enfrentar a sua ira. Pela primeira vez, Sheila se conscientizou do que lhe poderia acontecer se Ráfaga não voltasse. Orou fervorosamente pela sua volta rápida e em segurança. Qualquer idéia de fuga enquanto ele estivesse ausente se desvanecera. Um sexto sentido lhe diria que o homem lá fora daria um jeito de estar a par de todos os seus movimentos. Dentro de casa, ou com Juan, estaria segura e protegida. Em qualquer outro lugar, o assassino de Brad estaria à espera. Uma batida à porta fez Sheila dar um salto, alarmada. - Quem... quem é? - perguntou, com voz trêmula. Tentou controlar-se. - Sou eu, Juan - respondeu uma voz familiar, do outro lado da porta. Sheila soltou um suspiro de alívio, soltando a respiração, que inconscientemente vinha prendendo. - Entre - falou, com voz consideravelmente mais firme do que antes. Juan entrou, deixando a porta aberta, como se as convenções assim o exigissem. - Pensei que talvez a señora estivesse com vontade de andar a cavalo - disse, no seu inglês muito carregado. O seu porte era digno, a atitude cortês e respeitosa, como se fosse um anfitrião entretendo um convidado. - Sim, estou, sim - concordou Sheila, subitamente sentindo a necessidade de fugir do vazio da casa e da ameaça silenciosa do homem de guarda lá fora. A égua ruana estava selada e à espera dela, as rédeas enroladas no poste que sustentava o telhado do pórtico. Sheila correu para junto da égua, ignorando deliberadamente o homem de guarda, mas sentiu, constrangida, os seus olhos quentes a segui-la. Montada, esperou impaciente por Juan, sem sentir-se livre antes que se houvesse afastado da casa e dos olhares do vigia, que pareciam despi-la. - A señora cavalga como se el diablo a estivesse perseguindo - comentou Juan, quando Sheila finalmentediminuiu o ritmo, bem longe da casa. Ela hesitou, depois falou secamente: - O homem que está vigiando a casa, o que também se chama Juan... não gosto dele. Era minimizar muito o que sentia, não exprimia O medo que o homem lhe inspirava. - Si, compreendo - foi a única resposta que recebeu. O passeio ajudou a acalmar os nervos tensos de Sheila, o passeio e a companhia discreta de Juan. Lamentou quando o passeio acabou, mais de uma hora depois, mas Juan prometeu que sairiam de novo no dia seguinte. Sheila sabia que ansiaria pela chegada dessa hora. No terceiro dia da ausência de Ráfaga, o vazio da casa era opressivo. Quando Juan apareceu, trazendo a égua ruana, Sheila praticamente irrompeu porta afora.O guarda segurou  a cabeça da eguá para ela montar,e a moça sorriu -lhe em agradecimento.

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora