Capítulo 42

313 8 3
                                    

Os seus pensamentos teimavam em voltar para as mesmas perguntas quanto tempo demoraria até que entrassem em contacto com os seus pais e exigissem o resgate! Quanto tempo demoraria até eles levantarem o dinheiro e pagarem? E, a mais perturbadora de todas: será que a soltariam quando recebessem o dinheiro? O sol se pôs e a escuridão chegou. Enfiando-se sob o cobertor do catre duro, torceu para que o sono chegasse logo para ajudá-la a esquecer as perguntas sem resposta. Laredo deixou a casa de adobe logo que Sheila se deitou. Um murmúrio baixo de vozes continuava a vir da sala, a intimidade sugerida pelos tons suaves e pontuada por momentos de profundo silêncio. Sheila tentou concentrar-se nos ruídos noturnos lá fora, mas se pegou fazendo força para ouvir o casal na sala. Passos trouxeram as vozes mais para perto, para o dormitório adjacente ao de Sheila. Um calor de embaraço subiu-lhe pelo corpo ao ruído de roupas sendo tiradas às pressas. A carícia cadenciada na voz suave de Elena foi silenciada abruptamente, e Sheila fechou os olhos ante a imagem da boca masculina dominadora fechando-se sobre a da morena. A parede que separava os dois quartos não era espessa o bastante para abafar o ranger do catre ou os gemidos suspirosos de êxtase dos lábios femininos. Sheila tapou os ouvidos com as mãos, tentando bloquear o som dos dois fazendo amor. Com persistência nauseante, ele ficava martelando os seus ouvidos. Minutos intermináveis prolongavam-se, repugnantemente, sem sinal de nenhum dos dois estar satisfeito. Sheila gemeu ante a idéia repelente de que os ruídos poderiam continuar a noite toda, a intervalos, enquanto Ráfaga provava a sua potência na cama. Um grito de nojo já lhe subia à garganta quando se fez silêncio. Sheila apertou a mão contra o estômago revolto e esperou para ver se a tempestade da paixão deles tinha passado, ou se fora apenas uma calmaria. O catre rangeu de novo e ela engoliu de pressa o bolo nauseante que parecia engasgá-la. Mas o recomeço esperado não ocorreu. Houve o ruído de alguém se vestindo, seguido por um comentário sussurrado e carinhoso de Elena. A seguir, Sheila escutou os passos leves da mulher, que saía discretamente do quarto, e depois da casa. Estremecendo de repulsa, Sheila se perguntou quantas noites teria que passar ouvindo o acasalamento bestial deles. Fitou o teto, odiando violentamente todos os homens e seus desejos carnais. Não se podia confiar em nenhum deles. Eram animais insensíveis e egoístas, que ligavam apenas para as suas necessidades físicas. O amor era uma armadilha, concebida pelo homem para escravizar a mulher à sua vontade. Sheila jurou jamais deixar-se prender nela. O silêncio encheu a casa. Uma onda de inquietação tomou conta de Sheila, forçando-a a movimentar-se. Jogando o cobertor para os pés do catre estreito, levantou-se e foi, sem fazer barulho, para o corredor. Sentiu-se aprisionada na sala. A lua cheia deixava entrar seus raios prateados pelas janelas, ensombrando os cantos da sala e restringindo o caminhar inquieto de Sheila à área iluminada. Sua nuca se arrepiou, em advertência, e Sheila virou-se bruscamente para o corredor. Ráfaga estava parado na entrada, reflexos prateados nos cabelos de ébano. Nu da cintura para cima, o tórax castanho-dourado brilhava ao luar, as calças escuras ajustadas aos quadris e coxas esguias, enquanto realçavam o comprimento das pernas. Paralisada, Sheila fitou as feições atraentes dele. Ele ergueu uma sobrancelha indagadoramente: - Señora? Ela ficou ali parada, fitando-o, sabendo que estava perguntando por que ela não conseguia dormir. Mas,vendo-o daquele jeito, semi-vestido, Sheila podia apenas recordar que minutos antes ele estivera deitado com uma mulher, realizando com ela os atos mais íntimos. Franzindo de leve o cenho, ele inclinou a cabeça para o lado, observando-a, alerta. Um desejo sufocante de escapar dominou Sheila. Não tinha certeza do tipo de ameaça que ele representava. Sabia, apenas que tinha que fugir dele, e se dirigiu para a porta. - Sheila! O uso do seu nome era uma ordem para que parasse. Ela correu mais depressa, chegando até a porta e começando a escancará-la. A mão dele fechou-a violentamente antes de agarrar-lhe o braço e virá-la para si. - Solte-me! - Debatia-se desesperadamente. - Porco! Animal! Ela notou o tom dominador da voz baixa, mas não lhe deu atenção. Chutando-lhe as canelas com os pés descalços, retorcia-se como um animal enfurecido, para soltar-se dele. Como que pressentindo que Sheila estava no

A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora