Capítulo 114

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- Sim - disse, com voz trêmula, mas a resposta permitiu que ele a localizasse no interior escuro da caverna. As mãos dele agarraram-lhe os ombros, afastando-a da parede. - O que está fazendo aqui atrás? - indagou, num tom de quem exigia resposta. - Ele... veio atrás de mim. Pensei... Oscilou em seus braços, tremendo com a reação. - Ele estava procurando por mim - declarou Ráfaga. Abraçou-a, quando sentiu os tremores que a sacudiam. - Pablo lhe contou que nos vira caminhando nesta direção. Ortega ouviu um barulho na caverna e veio investigar. Quando a viu, disse que perguntou por mim. Você foi entrando na caverna, e ele pensou que eu estava aí. Sheila recuou a cabeça, tentando ver o rosto de Ráfaga nas sombras. - Acredita nele? - perguntou acusadoramente. - É possível. - É - concordou Sheila, secamente. O homem era astuto, e ela não confiava nele. Controlando os nervos em frangalhos, saiu dos braços de Ráfaga, terminando de abotoar a blusa. Sabia que Ráfaga a olhava atentamente, mas evitou o seu olhar. - Os cavalos estão lá fora? - perguntou, mudando de assunto, sem vontade de falar mais em Juan Ortega, e querendo sair da caverna contaminada pela invasão dele. - Sim, estão. Quando Sheila saiu, apressada, para a luz do sol que declinava, Ráfaga a acompanhou facilmente com longas passadas. Dois cavalos estavam amarrados junto à entrada. Um alazão descontraído empinou, indiferente, uma orelha quando se aproximaram, enquanto o baio levantou a cabeça e relinchou suavemente. Sheila dirigiu-se até o baio, pegando as rédeas para jogá-las por sobre a cabeça dele. Mas Ráfaga segurou-a pelo braço, detendo-a. - Tem medo de Ortega. Por quê? Examinou atentamente o rosto erguido para ele. - Sempre tive medo dele... desde a primeira vez que o vi - respondeu secamente -, não importa que você ache o contrário. - O que quer dizer com isso? - indagou, com uma sobrancelha morena arqueada. - Quero dizer que não o convidei para entrar na casa na noite em que tentou me estuprar, embora saiba que você não acredita nisso. Fico toda arrepiada cada vez que ele está nas proximidades. Um arrepio de nojo correu pela sua pele enquanto falava. Ráfaga agarrou Sheila pelos ombros e virou-a para que olhasse para ele. - Não precisa ter medo de Ortega. Ele não se aproximará mais de você. Sabe muitíssimo bem o que eu faria com ele. Estava tentando tranqüilizá-la, e acreditava no que dizia. Mas Sheila não, e nem sabia explicar por que. Era apenas uma sensação esquisita que sentia sempre que via Juan Ortega. Era uma coisa que não conseguia definir. Ráfaga apertou-a com mais força, quando Sheila não lhe respondeu. - Está me entendendo, Sheila! - Estou - disse, sorrindo para disfarçar que não conseguia acreditar nele. O baio encostou o focinho com carinho no braço dela. Sheila usou o gesto como desculpa para mudar de assunto. - Por que não o monta mais, Ráfaga? - Porque é seu. - Não literalmente, é claro. Sheila sorriu com mais naturalidade, dessa feita, lembrando-se da explicação dele quando lhe haviam dado Arriba. - O baio é meu, posso dá-lo. Não é simplesmente um gesto de cortesia - corrigiu Ráfaga. - O baio é seu. Já disse isso a Juan. O baio é o cavalo que ele deverá selar sempre que você quiser montar. - Por causa de Arriba - murmurou ela. - É, por causa da égua. Não posso substituir o carinho que você tinha pela égua, mas posso lhe dar um cavalo que equivalha a ela. - Acariciou o topete do baio. - Ele não é tão veloz quanto a sua égua - explicou -, mas pode transpor cem montanhas carregando-a, e ainda ter o vigor para tentar outras cem. À noite, tem olhos felinos que podem distinguir um caminho seguro. - Mas... - Sheila franziu o cenho. Ele próprio proclamara que o baio era o melhor cavalo. Será que dera para ela em sinal de confiança? Sheila não teve oportunidade de perguntar.

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