Voltou à clareira, trazendo três cavalos e um cobertor. Entregando as rédeas ao terceiro homem, Ráfagacaminhou até onde Sheila jazia no chão. Depois de desenrolar totalmente o cobertor, agachou-se junto a ela, usando-o como um biombo enquanto ela retirava a jaqueta de Laredo e jogava-a para ele. Sheila sequer tentou ajudá-lo enquanto Ráfaga a enrolava no cobertor, como se fosse um bebê. E, como um bebê, tomou-a nos braços e carregou-a até o alazão.Laredo estava parado junto à cabeça do alazão. - E quanto a eles? - fez um sinal para os corpos dos dois homens. - Deixe-os aí para os animais comerem - replicou Ráfaga, por entre dentes cerrados. Virou-se secamente para o terceiro homem e mandou que trouxesse os cavalos dos mortos. Sheila tremeu, e ele apertou mais o abraço, esmagando-a contra o peito. Ela se encolheu mais no cobertor, o único lugar onde parecia encontrar calor. A volta ao desfiladeiro foi longa e opressivamente silenciosa. Ao chegarem à casa, Ráfaga desmontou agilmente do cavalo. Ainda carregando Sheila, fez sinal ao vigia para abrir a porta. Por sobre o seu ombro, Sheila viu Laredo começar a desmontar, mas Ráfaga fechou a porta com um chute no momento em que cruzaram a soleira. Caminhou direto para o quarto, parou junto à porta e colocou-a de pé; suavemente. O rosto dele era uma máscara endurecida, gravada em bronze, com olhos negros frios e sem emoção. - Fique aqui - ordenou Ráfaga. Não sabendo se devia tomar as palavras literalmente ou não, Sheila não se mexeu. De qualquer modo, duvidava ser capaz de fazê-lo. Estava atordoada demais com tudo o que acontecera. Ouviu ruídos que ele fazia na cozinha. Fugazmente, Sheila ficou imaginando onde estaria Consuelo, depois lembrou-se da faca furando o peito de Juan. Quando Ráfaga voltou, teve vontade de perguntar sobre Juan, mas a pergunta ficou entalada na sua garganta. O vapor se elevava da bacia que ele colocou no meio do piso. Estendeu uma toalha ao seu lado e caminhou para junto de Sheila. Os olhos dilatados, que mal piscavam, fitaram-no enquanto ele tirava o cobertor do seu corpo e o jogava para um lado. Levando-a até a bacia, colocou-a de pé dentro dela. Com um sabonete e água morna, Ráfaga começou metodicamente a lavar-lhe cada centímetro com a indiferença de um médico. Sheila permaneceu calada e imóvel, como um manequim, lembrando-se de outra feita, quando fora ela a esfregar o corpo para limpá-lo do toque de Juan Ortega. Talvez Ráfaga também se estivesse lembrando daquela vez, e agora a lavava para se desculpar do fato de estar sendo preciso fazer aquilo uma segunda vez. Após enxugá-la, Ráfaga levou-a para a cama, deitando-a e cobrindo-a com o cobertor. Sentou-se à beira da cama, ao lado dela, por um minuto. Sheila ansiava para que ele a tomasse nos braços e lhe proporcionasse a segurança e o calor do seu abraço. Olhou, desolada, para os olhos escuros. A indiferença que havia neles era cruel. Teve vontade de suplicar-lhe que a abraçasse, mas não conseguia dizer uma só palavra. Uma lágrima escorreu dos seus cílios, parecendo congelar-se numa gota de cristal na sua face. Ele impou com a ponta do dedo, um músculo se contraindo no maxilar. Sem uma palavra, levantou-se e saiu do quarto. Sheila virou o rosto para a parede e se entregou ao sofrimento. Ouviu a porta da frente se fechando, e cerrou os olhos. Depois que o sol se pôs, Ráfaga voltou para casa, trazendo-lhe comida. Sheila tentou recusá-la, mas ele insistiu em que comesse. Foram as únicas palavras que dirigiu a ela. Ela conseguiu engolir um terço da comida, antes de afastar o prato. Ele o pegou e se retirou.Pela manhã, o procedimento se repetiu, só que Sheila comeu menos. Não sabia onde Ráfaga havia dormido,mas não tinha sido com ela. Retraiu-se, igualmente, face ao alheamento dele. Mais uma vez, Ráfaga saiu da casa tão logo ela comera. Sheila se levantou, incapaz de enfrentar a idéia de que ele a encontrasse na cama pela terceira vez, e olhasse para ela como se fosse uma estranha. Após vestir-se, caminhou até a porta da frente. O silêncio da casa vazia era sufocante. Sentiu-se semi-nauseada. Pensou em sair para o ar puro da montanha, mas o guarda recusou-se a deixá-la sair, sacudindo a cabeça com tristeza, ao fazer sinal para que voltasse para dentro. Era prisioneira de novo, confinada à casa. inquieta, Sheila andou pela casa, a dor lhe rasgando o coração e deixando-lhe os nervos em frangalhos.Ficava olhando através da janela as sombras que o sol lançava, esperando pelo meio-dia, quando Ráfaga lhe traria o almoço. Mas, quando o sol chegou ao auge, foi Laredo quem trouxe a comida. Ao vê-lo, o controle de Sheila, mantido;por um fio, desmoronou. - O que deseja! - exclamou, escancarando a porta quando ele bateu. Laredo entrou na casa, trazendo umapequena bandeja.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Caricia Do Vento
RomanceConta a história de Sheila e Ráfaga, Sheila uma linda mulher de pais ricos se vê em uma grande decepção com seu marido Bred, após ser abusada em plena lua de mel ,e por fim saber as reais intenções de Bred acaba sendo sequestrada por Ráfaga e seus c...