Capítulo 118

256 10 2
                                    

Voltou à clareira, trazendo três cavalos e um cobertor. Entregando as rédeas ao terceiro homem, Ráfagacaminhou até onde Sheila jazia no chão. Depois de desenrolar totalmente o cobertor, agachou-se junto a ela, usando-o como um biombo enquanto ela retirava a jaqueta de Laredo e jogava-a para ele. Sheila sequer tentou ajudá-lo enquanto Ráfaga a enrolava no cobertor, como se fosse um bebê. E, como um bebê, tomou-a nos braços e carregou-a até o alazão.Laredo estava parado junto à cabeça do alazão. - E quanto a eles? - fez um sinal para os corpos dos dois homens. - Deixe-os aí para os animais comerem - replicou Ráfaga, por entre dentes cerrados. Virou-se secamente para o terceiro homem e mandou que trouxesse os cavalos dos mortos. Sheila tremeu, e ele apertou mais o abraço, esmagando-a contra o peito. Ela se encolheu mais no cobertor, o único lugar onde parecia encontrar calor. A volta ao desfiladeiro foi longa e opressivamente silenciosa. Ao chegarem à casa, Ráfaga desmontou agilmente do cavalo. Ainda carregando Sheila, fez sinal ao vigia para abrir a porta. Por sobre o seu ombro, Sheila viu Laredo começar a desmontar, mas Ráfaga fechou a porta com um chute no momento em que cruzaram a soleira. Caminhou direto para o quarto, parou junto à porta e colocou-a de pé; suavemente. O rosto dele era uma máscara endurecida, gravada em bronze, com olhos negros frios e sem emoção. - Fique aqui - ordenou Ráfaga. Não sabendo se devia tomar as palavras literalmente ou não, Sheila não se mexeu. De qualquer modo, duvidava ser capaz de fazê-lo. Estava atordoada demais com tudo o que acontecera. Ouviu ruídos que ele fazia na cozinha. Fugazmente, Sheila ficou imaginando onde estaria Consuelo, depois lembrou-se da faca furando o peito de Juan. Quando Ráfaga voltou, teve vontade de perguntar sobre Juan, mas a pergunta ficou entalada na sua garganta. O vapor se elevava da bacia que ele colocou no meio do piso. Estendeu uma toalha ao seu lado e caminhou para junto de Sheila. Os olhos dilatados, que mal piscavam, fitaram-no enquanto ele tirava o cobertor do seu corpo e o jogava para um lado. Levando-a até a bacia, colocou-a de pé dentro dela. Com um sabonete e água morna, Ráfaga começou metodicamente a lavar-lhe cada centímetro com a indiferença de um médico. Sheila permaneceu calada e imóvel, como um manequim, lembrando-se de outra feita, quando fora ela a esfregar o corpo para limpá-lo do toque de Juan Ortega. Talvez Ráfaga também se estivesse lembrando daquela vez, e agora a lavava para se desculpar do fato de estar sendo preciso fazer aquilo uma segunda vez. Após enxugá-la, Ráfaga levou-a para a cama, deitando-a e cobrindo-a com o cobertor. Sentou-se à beira da cama, ao lado dela, por um minuto. Sheila ansiava para que ele a tomasse nos braços e lhe proporcionasse a segurança e o calor do seu abraço. Olhou, desolada, para os olhos escuros. A indiferença que havia neles era cruel. Teve vontade de suplicar-lhe que a abraçasse, mas não conseguia dizer uma só palavra. Uma lágrima escorreu dos seus cílios, parecendo congelar-se numa gota de cristal na sua face. Ele impou com a ponta do dedo, um músculo se contraindo no maxilar. Sem uma palavra, levantou-se e saiu do quarto. Sheila virou o rosto para a parede e se entregou ao sofrimento. Ouviu a porta da frente se fechando, e cerrou os olhos. Depois que o sol se pôs, Ráfaga voltou para casa, trazendo-lhe comida. Sheila tentou recusá-la, mas ele insistiu em que comesse. Foram as únicas palavras que dirigiu a ela. Ela conseguiu engolir um terço da comida, antes de afastar o prato. Ele o pegou e se retirou.Pela manhã, o procedimento se repetiu, só que Sheila comeu menos. Não sabia onde Ráfaga havia dormido,mas não tinha sido com ela. Retraiu-se, igualmente, face ao alheamento dele. Mais uma vez, Ráfaga saiu da casa tão logo ela comera. Sheila se levantou, incapaz de enfrentar a idéia de que ele a encontrasse na cama pela terceira vez, e olhasse para ela como se fosse uma estranha. Após vestir-se, caminhou até a porta da frente. O silêncio da casa vazia era sufocante. Sentiu-se semi-nauseada. Pensou em sair para o ar puro da montanha, mas o guarda recusou-se a deixá-la sair, sacudindo a cabeça com tristeza, ao fazer sinal para que voltasse para dentro. Era prisioneira de novo, confinada à casa. inquieta, Sheila andou pela casa, a dor lhe rasgando o coração e deixando-lhe os nervos em frangalhos.Ficava olhando através da janela as sombras que o sol lançava, esperando pelo meio-dia, quando Ráfaga lhe traria o almoço. Mas, quando o sol chegou ao auge, foi Laredo quem trouxe a comida. Ao vê-lo, o controle de Sheila, mantido;por um fio, desmoronou. - O que deseja! - exclamou, escancarando a porta quando ele bateu. Laredo entrou na casa, trazendo umapequena bandeja.


A Caricia Do VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora